Gil: Abacateiro saiba que na Refazenda…

Gil: Abacateiro saiba que na Refazenda…

 

Refazenda : Não tem quem não cantou, cantarolou ou pelo menos ouviu de longe os belos versos de Refazenda, escritos e  musicados por Gilberto Passos Gil Moreira, baiano resistente e renitente em seu viver encantante, democraticamente dedicado a espalhar justiça, ternura e democracia. Nesse momento em que Gil está doente, no hospital (mas vai sair logo dessa!), para mandar nosso abraço, compartilhamos com você este primor de poema que é a Refazenda. 

 
Abacateiro acataremos teu ato
Nós também somos do mato como o pato e o leão
Aguardaremos brincaremos no regato
Até que nos tragam frutos teu amor, teu coração
Abacateiro teu recolhimento é justamente
O significado da palavra temporão
Enquanto o tempo não trouxer teu abacate
Amanhecerá tomate e anoitecerá mamão
Abacateiro sabes ao que estou me referindo
Porque todo tamarindo tem o seu agosto azedo
Cedo, antes que o janeiro doce manga venha ser também
Abacateiro serás meu parceiro solitário
Nesse itinerário da leveza pelo ar
Abacateiro saiba que na refazenda
Tu me ensina a fazer renda que eu te ensino a namorar
Refazendo tudo
Refazenda
Refazenda toda
Guariroba
 

 ANOTE AÍ:
Gilberto Passos Gil Moreira Gil, cantor, compositor e instrumentista, foi um dos criadores do Movimento Tropicalista nos anos 60. Nasceu em Salvador, Bahia, no dia 2 de junho de 1942. Cresceu ouvindo  Silvio Caldas, Orlando Silva e Francisco Alves. Ainda na infância, ganhou um violão de presente de sua mãe.
Sua carreira musical teve início em 1964. Na época,  cursava Administração na Universidade Federal da Bahia. Começou participando do show “Nós, Por Exemplo”,  na inauguração do Teatro Vila Velha, em Salvador, junto com Caetano Veloso, Tom Zé, Gal Costa e Maria Bethânia.
Em 1965, Gilberto Gil mudou-se para São Paulo. Em 1966, sua música “Ensaio Geral”, interpretada por Elis Regina, ficou em 5º lugar no II Festival de Música Popular Brasileira (FMPB), realizado pela antiga TV Record.
Em 1967, a música “Domingo no Parque”, que cantou junto com os Mutantes, ficou em 2º lugar no III FMPB, ponto de partida para o movimento artístico chamado “Tropicalismo”, que Gilberto Gil participou junto com Caetano Veloso, Torquato Neto, Tom Zé, Rogério Duprat. Em 1967, também lançou seu primeiro disco: “Louvação”
Em 1968, lançou “Gilberto Gil” com 14 músicas, entre elas, “Procissão” e “Domingo no Parque”. Lançou também um disco manifesto, intitulado “Tropicália” do qual participaram, além de Gilberto Gil, Caetano, Gal Costa, Os Mutantes, Tom Zé e Torquato Neto.
O Movimento Tropicalista foi considerado subversivo pela ditadura militar e Gilberto Gil foi preso, junto com Caetano Veloso. Em 1969 foram exilados na Inglaterra. Nesse mesmo ano foi lançado “Gilberto Gil” (1969), onde se destacou a música “Aquele Abraço”.
No início de 1972, Gilberto Gil voltou definitivamente ao Brasil, em seguida lançou “Expresso 2222”. Em 1976, junto com Caetano, Gal e Betânia, formaram o conjunto “Doces Bárbaros” que rendeu um álbum e várias turnês pelo país.

Em 1978, se apresentou no Festival de Montreux, na Suíça. Nesse mesmo ano ganhou o Grammy de Melhor Álbum de Word Music com “Quanta Gente Veio Ver”. Em 1980, lançou uma versão em português do reggae (No Woman, No Cray) “Não Chores Mais”, sucesso de Bob Marley.
Entre 1989 e 1992, Gilberto Gil foi vereador na Câmara Municipal de Salvador, pelo Partido Verde. Em 2003,  o governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva,  foi nomeado Ministro da Cultura, se desligando em janeiro de 2008, para se dedicar à carreira musical.  No mesmo ano,  lançou o álbum “Banda Larga Cordel”. Em 2010, lançou “Fé na Festa”.
Em 2016, mesmo enfermo, Gilberto Gil posicionou-se firmemente contra o movimento golpista que levou à destituição da presidenta Dilma Roussef, em 31 de agosto de 2016, um dia depois de sua internação.
Salve, Gil!
Biografia – fonte primária: www.ebiografia.com. Foto abaixo de odia.ig.com.br. Foto de capa: Postada por Gilberto Gil no Facebook.
 

https://xapuri.info/gil-a-historia-do-povo-preto-nao-e-ensinada-nas-escolas/

Block

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação. 

Resolvemos fundar o nosso.  Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário.

Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também. Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, ele escolheu (eu queria verde-floresta).

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Já voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir.

Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. A próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar cada conselheiro/a pessoalmente (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Outras 19 edições e cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você queria, Jaiminho, carcamos porva e,  enfim, chegamos à nossa edição número 100. Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapui.info. Gratidão!