Lula: “Vou brigar até restabelecer a democracia no Brasil”
Por Redação
“Vou brigar até restabelecer a democracia no Brasil”. Essa foi a promessa feita pelo ex-presidente Lula (PT) em entrevista concedida ao jornalista Nacho Lemus e veiculada pelo canal multiestatal TeleSUR na noite da última quinta-feira (26). Em pouco mais de 30 minutos de conversa, o petista analisa as mudanças na conjuntura política brasileira desde junho de 2013 e é taxativo ao criticar o governo Bolsonaro: “O povo brasileiro está perdendo o direito de sonhar”.
Lula atribui às manifestações de 2013 o início da “disseminação do ódio no país”, que levou, por exemplo, ao golpe contra a então presidenta Dilma Rousseff (PT), três anos depois. O ex-presidente ainda disse acreditar que os Estados Unidos podem ter sido responsáveis por promover aquelas mobilizações, já com intuito de desestabilizar o governo brasileiro.
“Elas já foram articuladas para garantir o golpe. Elas não tinham reivindicações específicas, mas foram incentivadas pela mídia brasileira e incentivadas, inclusive, de fora para dentro. Eu acho já que teve o braço dos Estados Unidos nas manifestações do Brasil”, disse Lula ao ser questionado sobre as manifestações contra o neoliberalismo que sacudiram Chile, Colômbia e Equador no fim de 2019. “A diferença é que essas manifestações são feitas para conquistar direitos”, ponderou.
Conforme a análise do ex-presidente, desde então, o ódio é disseminado sobretudo pelos meios de comunicação. “Tudo isso resultou na eleição do Bolsonaro. A negação da política, o ódio a politica, o ódio ao sindicato, o ódio à organização dos trabalhadores, o ódio à esquerda”, listou, sempre ressaltando o papel do imperialismo nos golpes na América Latina.
“Em 500 anos de história, não conheço uma única atitude dos EUA em benefício da autonomia e da liberdade de algum país na América Latina”, declarou.
Ao final da entrevista, Lula falou sobre sua prisão política, que durou 580 dias, e ressaltou que a perseguição continua. “Essa gente não pode ficar impune. Ou as instâncias superiores, que são responsáveis por garantir a democracia, tomam uma atitude, ou a gente vai ver uma minoria no Judiciário e no Ministério Público tentando destruir as instituições, tentando causar mal ao nosso país”, lamentou.
“Um dia, a Lava Jato vai ser responsabilizada pelos prejuízos que causou à economia brasileira: só no PIB [Produto Interno Bruto], foram mais de R$ 142 bilhões, além dos mais de 2 milhões de desempregados”, finalizou o ex-presidente.
Ouça o áudio:
Edição: Daniel Giovanaz
Fonte: Brasil de Fato
Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.
Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.
Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.
Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.
Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.
Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.
Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.
Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.
Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.
Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.
Zezé Weiss
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