Idosa de 92 anos tricota diariamente cachecóis coloridos para esquentar e alegrar pessoas em situação de rua
Dizem por aí que, quando ficamos mais velhos, adquirimos manias. A de Josephina Arriola, aposentada de 92 anos de idade que mora em Curitiba, no Paraná, é simplesmente linda: tricotar cachecóis para pessoas em situação de rua.
Por Débora Spitzcovsky/The Greenest Post
A dona Phina, como gosta de ser chamada, passa os dias produzindo as peças de lã com técnicas de tricô que aprendeu ainda na infância, com parentes.
As linhas usadas como matéria-prima para os cachecóis são fornecidas pelas próprias filhas de Josephina e, a pedido da mesma, são o mais coloridas possível: uma forma de levar um pouco de alegria ao dia a dia das pessoas em situação de rua que recebem o presente.
O hobby começou em 2017 e, desde então, já são pelo menos mil peças produzidas por dona Phina e entregues em mãos, pela própria família da aposentada, a pessoas que estão nas calçadas de Curitiba. A confecção e doação acontecem o ano todo – afinal, não é só no inverno que pessoas sem-teto sofrem com o frio, ainda mais em cidades conhecidas por suas baixas temperaturas, como é o caso da capital paranaense.
Estima-se que, atualmente, Curitiba tenha cerca de 3 mil pessoas em situação de rua – um aumento de 15% desde o início da pandemia de COVID-19 -, sendo a sétima capital brasileira com maior concentração de seres humanos sem-teto. Por mais pessoas como dona Phina, que olhem para essas pessoas e se mobilizem para ajudá-las. O frio nas ruas mata. E a indiferença também!
Autor: Débora Spitzcovsky . Disponível em: The Greenest Post.
Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.
Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.
Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.
Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.
Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.
Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.
Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.
Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.
Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.
Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.
Zezé Weiss
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