Jaques Wagner: Onde está a esperança?

Jaques Wagner: Onde está a ?
 
Não será com cortes em programas e com a de projetos concretos que daremos esperança para os brasileiros. Muito menos com pregações ideológicas que só acentuam divisões
 
O está estagnado economicamente. Os dados de maio da indústria, comércio e serviços mostram isso. Como resultado, o PIB recuou 0,2% no primeiro trimestre. A demanda não se recuperou. As famílias melhoraram, mas não voltaram a consumir. As empresas estão produzindo menos. E as projeções são preocupantes. O que reflete no desemprego que atinge mais de 13 milhões de pessoas.
Nesse cenário, o governo parece alheio. O investimento – político e orçamentário – é pela aprovação da reforma da Previdência, que dificulta aposentadorias e acentua desigualdades. Para ter apoio, o governo empenhou R$ 2,7 bilhões, sendo R$ 1,5 bilhão em emendas de parlamentares. Garantiram a maioria para aprovação na Câmara, deixando claro que a forma de fazer  não tem nada de nova. Pior, vendem a ilusão de que a reforma será a salvação do Brasil. Já vimos esse em 2017, com a aprovação da reforma trabalhista que prometia milhões de empregos, mas só trouxe precarização e desalento.
Para além da falta de alternativas, assistimos a um festival de pregações ideológicas que estão longe de resolver o problema do país. Recente pesquisa DataFolha demonstra ampla rejeição popular aos projetos de flexibilizar a posse e o porte de armas e retroceder nas regras de trânsito.
Para piorar, cortaram na . Estamos em julho e, até agora, não houve repasse para as escolas integrais. Nas creches, foram investidos R$ 10,3 milhões, oito vezes menos do que no mesmo período de 2018.
Outro péssimo exemplo é o da construção civil. O setor está 27% aquém do registrado no início de 2014. E o governo anuncia redução nos investimentos do Minha Casa, Minha , programa que promoveu crescimento do setor, gerou empregos e possibilitou a milhões o sonho da casa própria.
Não sou de fazer oposição destrutiva, apostando no pior. Minha atuação é para que o país se desenvolva, gerando empregos. No entanto, é fundamental que o governo mude suas prioridades. Não será com cortes em programas e com a ausência de projetos concretos que daremos esperança para os brasileiros. Muito menos com pregações ideológicas que só acentuam divisões e não trazem qualquer perspectiva de reação diante de tamanha paralisia. Seis meses já se passaram. Está na hora de reagir. O Brasil não pode mais esperar.
Fonte: Alessandro Dantas/Agência PT
 
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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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