Com concepção de Ailton Krenak, O Guarani retorna ao Theatro Municipal de SP com

COM CONCEPÇÃO DE KRENAK, O GUARANI RETORNA AO THEATRO MUNICIPAL DE SP

Com concepção de Ailton Krenak, O Guarani retorna ao Theatro Municipal de SP com protagonismo indígena

Premiada internacionalmente, produção inédita traz pela primeira vez artistas indígenas ao palco de uma das principais óperas brasileiras, ressignificando a clássica história de Peri e Ceci

Por Mídia Ninja

Em uma histórica remontagem que marca a abertura da temporada lírica 2025, o Theatro Municipal de São Paulo apresenta “O Guarani”, obra-prima de Carlos Gomes, sob a concepção geral do líder indígena e pensador Ailton Krenak. A produção, que estreia neste sábado (15), às 17h,  representa um marco ao trazer pela primeira vez atores e músicos indígenas ao palco desta ópera centenária.

Premiada internacionalmente em 2024 como “melhor produção de ópera latinoamericana” pela associação Ópera XXI da Espanha, esta montagem propõe um novo olhar sobre a clássica história de amor entre Peri e Ceci, originalmente escrita por José de Alencar. Sob a direção musical de Roberto Minczuk e direção cênica de Cibele Forjaz, a produção conta com a participação inédita da Orquestra e Coro Guarani do Jaraguá Kyre’y Kuery, além da tradicional Orquestra Sinfônica Municipal e do Coro Lírico Municipal.

Com concepção de Ailton Krenak, O Guarani retorna ao Theatro Municipal de SP com protagonismo indígena
O Guarani. Foto: Rafael Salvador / Divulgação

“É uma obra de mais de cem anos e é a primeira vez que tem pessoas indígenas a reelaborando e pensando a partir de uma perspectiva atual”, destaca Denilson Baniwa, responsável pela codireção artística e cenografia do espetáculo. Sua contribuição visual interage com a arquitetura do Theatro, estabelecendo um diálogo entre o mundo-mercadoria e o mundo-natureza, evidenciando questões ainda prementes sobre a exploração dos territórios indígenas.

A montagem ganha ainda mais significado ao contar com David Vera Popygua Ju no papel de Peri Eté. O ator, que representa a comunidade Guarani do Jaraguá, traz consigo não apenas sua arte, mas também a luta atual de seu povo. “Somos parte fundamental da história deste lugar. O povo Guarani merece ser homenageado, respeitado e reconhecido, tanto aqui quanto internacionalmente”, afirma Popygua.

O espetáculo transcende a narrativa romântica original ao incorporar elementos da cosmologia indígena, como a presença da Onça Pajé, interpretada por Zahy Tentehar e Araju Ara Poty em diferentes apresentações. Esta figura representa uma força própria da natureza, ampliando as camadas de significado da obra.

Com concepção de Ailton Krenak, O Guarani retorna ao Theatro Municipal de SP com protagonismo indígena
Peça O Guarani. Foto: Rafael Salvador / Divulgação

Krenak, em sua concepção, busca equilibrar a reverência à importância histórica das obras de Carlos Gomes e José de Alencar com uma leitura contemporânea que dá voz aos povos indígenas. “Estamos fazendo uma remontagem preservando Carlos Gomes e atendendo também ao apelo de Mário de Andrade a que salvemos Peri!, revelando possibilidades do libreto à luz de outras leituras da antropologia e das artes onde os indígenas despontam nesse século XXI”, explica.

A temporada de apresentações segue até 25 de fevereiro, com ingressos variando de R$33 a R$210. Esta produção não apenas celebra uma das obras mais importantes do repertório operístico brasileiro, mas também estabelece um precedente significativo ao trazer protagonismo indígena para um dos palcos mais tradicionais do país.

Serviço:

O Guarani – Ópera em 4 atos de Carlos Gomes  
Local: Theatro Municipal de São Paulo 
Datas: 15 (17h), 16 (17h), 18 (20h), 19 (20h), 21 (20h), 24 (20h) e 25 (20h) de fevereiro  
Duração: 180 minutos (com intervalo) 
Classificação: 12 anos  
Ingressos: R$33 a R$210 (inteira)

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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