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A lenda da Pupunha, o presente dourado da deusa da floresta

A Pupunha chegou ao mundo como uma linda bebê,  dourada como um  raio de sol, de cabelos louros como as flores do ipê amarelo

Por Zezé Weiss

Era um presente da deusa da floresta, mas os indígenas ficaram assustados, porque nunca tinham visto uma pessoa que fosse da cor morena de todos eles.

Rejeitada, a indiazinha foi entregue ao Tuxaua (cacique) da tribo  para que ele pudesse mandar sacrificar aquele raio de sol que, inocente, não parava de sorrir.  Mas o Tuxaua não podia fazer nada, porque a morte de Raio de Sol já estava prevista nas estrelas

O Tuxaua entregou, então, a sorte da menina ao grande-pajé. Mas ele também não pôde fazer nada, porque aquela  menina  já tinha vindo ao mundo para, com seu sacrifício, gerar fartura para os povos indígenas.

Ao preparar o ritual do sacrifício, o pajé recebeu uma mensagem da deusa da floresta.  Raio de Sol deveria ser enterrada em uma  terra bem fértil para que em sua cova pudessem nascer uma moita de uma palmeira linda e especial.  O corpo de Raio de Sol foi enterrado em um lindo lugar e, tempos depois, ali nasceu uma frondosa palmeira.

Assim como uma criança, a palmeira cresceu rápido, e deu muitos frutos dourados como os cabelos da menina, a quem deram o nome de pupunha. Desde então, os coquinhos da pupunha passaram a alimentar as crianças indígenas nos tempos “brabos” do inverno.

PUPUNHA, O FRUTO DA FARTURA 

A palmeira que hoje conhecemos como Pupunha  (Bactris gasipaes H.B.K)  e que produz um fruto rico em vitamina A, proteínas e amidos, é uma dádiva das florestas de toda a América Latina, de Honduras ao Equador, da Colômbia à Bolívia, da Venezuela ao Peru, da Costa Rica ao Brasil.

Na Amazônia, nas comunidades indígenas e ribeirinhas, come-se Pupunha todo dia, cozida em  água e, quando disponível, com  sal. Nas cidades do Norte, usa-se a nutritiva Pupunha, que é rica em carboidratos, gorduras (27%) e betacaroteno (3.800 mcg/100 g) para fazer cremes, tortas, nhoques, tortas e até mesmo recheio de sanduíche para festas chiques. Também pode-se extrair óleo dos frutos da Pupunha.  E com os resíduos pode-se fazer  ração para animais.

A Pupunha também é usada para fazer farinhas e, mais recentemente, cultivada industrialmente para fazer palmito de mesa. Como ela dá em touceira, a retirada do palmito não mata a planta, como no caso, por exemplo do palmito amargo da guariroba, ou o tradicional palmito da palmeira juçara. O primeiro estado fora da Amazônia a cultivar a Pupunha foi a Bahia. Ali, a fartura dourada vai de novembro a março.

VOCÊ SABIA?
  • A Pupunha é uma palmeira de muita altura, chega a alcançar 20 metros, da família das palmáceas, que é a mesma família  da carnaúba, do babaçu e do açaí.
  • A Pupunha  forma touceiras com uma espinhosa planta-mãe central e uns outros  10 a 15 caules secundários. Alguns desses caules dão frutos. Outros, estéreis, são utilizados pelos povos da floresta para produção do palmito de pupunha.
  • A abundância de filhotes e a rapidez do crescimento, chega a produzir grandes cachos entre cinco e dois anos e meio, fez da Pupunha, desde os anos 1970, um produto pesquisado pela Embrapa para a produção comercial de palmitos.
  • As flores masculinas caem após liberar o pólen e as femininas desenvolvem-se em pequenos frutos vermelhos, amarelos ou alaranjados, com cerca de cinco centímetros de diâmetro.
SALADA DE PALMITO DE PUPUNHA 
 

Ingredientes

  • 4 palmitos pupunha de aproximadamente 25cm cada, com a casca
  • 100g de manteiga sem sal
  • 1 dente de alho amassado
  • 1/2 colher (chá) de sal
  • 1/2 xícara (chá) de ervas frescas (folhas de tomilho, salsa picada, alecrim picado e manjerona)
  • 1 colher (sopa) de azeite de oliva
 Modo de Preparo
 
Asse o palmito, sem remover a casca, no forno a 190ºC  por cerca de 1 hora Enquanto isso, numa pequena panela, em fogo baixo, derreta a manteiga. Adicione o azeite e doure o dente de alho juntamente com as ervas frescas. Quando a manteiga começar a escurecer, desligue o fogo e adicione o sal. Corte o palmito no sentido longitudinal, e leve à mesa com a casca. Faça corte de 4cm na camada interna e sirva regando com a manteiga temperada.
 
 
Fontes: Embrapa
 

Fotos internas: os desentocados


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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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