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Lenine: Vibrei com a soltura de Lula

Lenine: Vibrei com a soltura do ex-

“Num país de fugitivos, aquele que anda na direção contrária parece estar fugindo.” T. S. Eliot

Por Raphael Vidigal

A filipeta anunciava, no alto da página, que haveria xote, maracatu e baião naquela noite no Circo Voador, icônico espaço cultural do Rio de Janeiro, localizado na Lapa. A de um show-baile com Queiroga, Lenine e Tadeu Martins aparecia logo acima da atração principal, destacada em negrito com os dizeres: “E a presença muito especial do Rei do Baião Luiz Gonzaga”. Lenine, 60, guarda suas daquele sábado de 1984, quando o país já vivia a ebulição do movimento Diretas Já, que culminou com a eleição, por um colégio eleitoral, de Tancredo Neves (1910-1985) à Presidência da República. “Uma multidão que estava do lado de fora do show quebrou o alambrado para invadir o espaço e nos ouvir”, recorda Lenine.

1 – Jackson do Pandeiro tem o centenário de nascimento celebrado em 2019. Qual a importância do Rei do Ritmo para a  brasileira?
Jackson é um grande mestre. Ele é fundamental dentro do conceito da música brasileira, mais especificamente, da nordestina. Junto com Luiz Gonzaga, ele formatou o que a gente conhece como música nordestina. Diferentemente do Jackson, com Luiz Gonzaga eu tive a oportunidade de dividir o palco, não apenas no Circo Voador, com Lula Queiroga, há muito anos, mas em duas outras ocasiões. Eu tenho memórias muito afetuosas desses momentos. No caso do Circo Voador, no Rio de Janeiro, uma multidão que estava do lado de fora do show quebrou o alambrado para invadir o espaço e nos ouvir.

2 – Você já se apresentou com orquestras várias vezes. Na sua opinião, quais são os principais pontos de contato entre a música erudita e popular?
No caso da música popular, não são todas as canções que se adequam ao universo da formação de uma orquestra. Então, há que se ter esse tipo de discernimento, de entender quais melodias e canções estimulam a ponto de você texturizar essa música, com essa palheta de sons que representa uma orquestra.

3 – O ex-presidente Lula participou do Festival em Recife, sua  natal. Qual a sua opinião sobre a libertação do ex-presidente?
Acompanhei a soltura do Lula e vibrei com essa possibilidade real de revê-lo em . O momento político do é muito triste e dolorido, dói a gente assistir a tanta barbárie e tamanha desfaçatez e dissimulação, é algo que nos deixa angustiados.

Fonte: Esquina Musical  

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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