Procura
Fechar esta caixa de pesquisa.

O problema não é mais Bolsonaro: é Guedes 

O problema não é mais Bolsonaro: é Guedes

Como se comportará ante a enxurrada de problemas que aparecerão a todo momento, o diagnóstico sobre os problemas setoriais, o discernimento para definir as prioridades, o veto ao processo indecente de empresas se valerem de recursos públicos para recompra de suas ações, os problemas na balança comercial?

Por Luis Nassif no GGN

O Brasil vive uma situação sui generis de desobediência civil. Define-se por tal a decisão de parte da população em protestar contra um governo opressor não seguindo suas ordens ou leis consideradas injustas.

A desobediência civil brasileira se apresenta no próprio centro do governo, com a intervenção branca sobre Jair Bolsonaro praticada pelo núcleo racional do governo. Bolsonaro não consegue demitir Ministros, não consegue assinar leis acabando com a quarentena e terá dificuldades cada vez maior em reproduzir suas loucuras pelas – depois que mensagens suas foram vetadas pelo Twitter e Facebook.

No entanto, ao contrário do recomendado pelo Ministro Gilmar Mendes – que sugeriu a necessidade de um Maior para enfrentar a -, o grupo palaciano se limitou a botar ordem na casa, mas sem abrir espaço para outros poderes.

Ontem, a voz oficial do governo foram entrevistas coletivas sem a presença do Presidente da República e com todos os Ministros fazendo eco às recomendações do Ministro da , Luiz Henrique Mandetta.

Este já foi um político bolsonarista. Combateu o +Médicos, vestiu a camisa de Bolsonaro, fez campanha ao seu lado. O choque de realidade, no entanto, transformou-o em uma figura pública referencial. A maturidade e o realismo com que enfrentou perguntas sobre sua popularidade, o nível de sobre as mais diversas frentes de combate ao coronavirus, o relato de ações e reuniões concretas para superar a crise contrastaram vivamente com a incrível apatia e despreparo de dois Ministros em áreas críticas nesta guerra: o da , Paulo Guedes, e o do Social, Onyx Lorenzoni.

Onyx Lorenzoni, teoricamente responsável por toda a logística de distribuição da renda mínima, passou sua fala explicando o aplicativo em desenvolvimento que resolverá todos os problemas. Não tem a menor noção sobre como chegar aos rincões não cobertos pelo Bolsa Família, como se articular com os secretários estaduais, como montar uma rede com secretários municipais para entender os problemas. É um medíocre emplumado, que sente orgasmos em ouvir a própria voz. Mais apagado que ele, apenas o Ministro da Justiça , que não tem sua voz radiofônica.

Na coletiva, Guedes tentou explicar a demora em meramente aprovar o repasse de 600 reais – que ele pretendia ser 200, e foi aumentado pelo Congresso. Foi por mero receio de afrontar a Regra de Ouro – que proíbe o uso de recursos provenientes da dívida pública para bancar despesas correntes -, mesmo depois do Supremo Tribunal Federal (STF) ter garantido a aplicação de medidas extraordinárias para enfrentar a crise.

(Em Nova York, o governador Andrew Cuomo requisitou UTIs e respiradores de hospitais particulares antes de qualquer procedimento legal. Sua explicação foi simples: estou salvando vidas).

Guedes se mostrou incapaz até de resolver problemas mínimos em hábil, cuja solução estava em suas mãos. Como se comportará ante a enxurrada de problemas que aparecerão a todo momento, o diagnóstico sobre os problemas setoriais, o discernimento para definir as prioridades no amparo aos setores da economia, o veto ao processo indecente de empresas se valerem de recursos públicos para recompra de suas ações, os problemas na balança comercial? É incapaz sequer de um diagnóstico abrangente sobre a economia. Não tem o menor conhecimento sobre cooperativas de crédito, que poderiam ter papel relevante para colocar crédito na ponta, nem se inteirou dos problemas de comércio exterior, essenciais para as negociações comerciais para obter equipamentos.

Ele é o Ministro da Economia, controlando não apenas a antiga pasta da Fazenda, como a do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), do Planejamento. E não conseguiu tomar conta nem da tartaruga dos 600 reais.

Tudo isso serve de alerta para o segundo tempo. e Brasil caminham para uma depressão similar à de 1929.

Ontem, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, deixou de lado as ilusões de uma queda mínima do PIB e passou a aceitar a possibilidade de uma queda de até 5% – que se dará em cima de uma economia enfraquecida pela crise pós 2016.

Não é difícil montar um rascunho do mapa do inferno sobre as perspectivas do país, se não for entregue a mãos competentes:

* Desemprego explodindo.

* Risco de quebradeira generalizada das empresas, podendo destruir cadeias produtivas inteiras.

* Risco de explosão da dívida pública, sem que o governo recorra a emissão de moedas, pois submetido a fundamentalistas econômicos, podendo levar a uma corrida bancária.

* Insolvência externa.

E todas as consequências políticas daí resultantes.

No BC, Campos Neto deixou de lado o terraplanismo e se abrigou na excelência técnica da instituição. Guedes, ao contrário, se cerca de pessoas sem a mínima condição, como o inacreditável presidente do Banco do Brasil, Rubens Novaes, que sempre foi terceiro escalão no mercado financeiro e só se manifesta em apoio aos descalabros verbais de Bolsonaro.

Não basta interditar Bolsonaro. É necessário um rearranjo total no governo, desfazendo a loucura do superministério, que juntou várias pastas essenciais em uma só, tornando a gestão impossível até para um Ministro competente. E colocando pessoas competentes à frente de cada área.

A próxima semana será prenhe de iniciativas de Bolsonaro em recuperar o comando, valendo-se das redes sociais para mais loucuras, à medida em que sua popularidade definha, e ousando decisões ao largo do Alto Comando que se instalou no Palácio.

Fonte: luizmuller.com


 

[smartslider3 slider=44]

Deixe seu comentário

UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

PARCERIAS

CONTATO

logo xapuri

posts relacionados

REVISTA