Lula já nasceu condenado…

Lula já nasceu condenado…

 A Vítima de 500 anos de descaso

 

Lula já nasceu condenado…

Condenado pela .

Condenado pela fome.

Condenado ao pau-de-arara

E ao sol na cabeça

E a respirar a poeira seca…

Por dias

Por quilômetros

E pela

 

Condenado a ser baiano de Pernambuco.

Condenado a ter pai fatiado por duas famílias.

Condenado a lamber sapatos na infância com graxa,

A ter um chapéu de burro dos formados nas escolas de elite

E manto de vadio dos mesadeiros.

Condenado a curar feridas atrás das barras de ferro

E a ser apontado como informante

Pelas viúvas chorosas da opressão.

Mas Lula não foi só condenado a dor.

Seu destino está cima da dor e da alegria.

Assim como a do bem e do mal.

Como a mutação que gerou a inteligência.

Como a gravidade que gerou o calor do Sol.

Como o pontapé inicial de Deus que gerou o Big Bang,

A fome e a miséria geraram Luís Inácio,

O clamor pela gritou e pariu Lula!

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A Esperança de um Povo e o Medo da Elite

Não fala inglês e nem francês,

Mas fala o populês.

Sua língua não é usada para lamber sapatos dos gringos

E nem seus pés ficam descalços em solo estrangeiro.

Não chama seus colegas de povo de caipiras

E nem de vagabundos (como o fez um aposentado aos 38 anos).

Não é doutor em sociologia da Sorbonne,

Apanhando dos .

É doutor em negociação no ABC,

Apanhando da polícia.

Lula foi diplomado pelo cassetete da ,

Não acredita?

Olhe a cruz de sua esposa morta

E o anel invisível em seu dedo mínimo.

Deveria ficar onde estava,

Não defendendo seus colegas, claro.

Mas quietinho sobrevivendo com um salário mínimo

De sua aposentadoria,

Ou talvez, morrendo mais cedo de câncer.

 

 O Operário no Poder

A sujeira é inevitável, mas a limpeza é opcional.

Algo não deixa de existir, porque fingimos que não existe.

Não se limpa uma casa chamada Nação,

Como outros o fizeram,

Escondendo a sujeira para debaixo do tapete persa imperial,

Domesticando cães Policiais para não pegar ladrão

E se fingirem de mortos.

Ou domesticando gatos para não serem Procuradores de ratos.

São o que chamamos de gatos de gavetas.

A paisagem não se torna bela fechando a janela,

Não devemos tampar o nariz para a mensagem que vem de fora.

Milhões de cisternas no semiárido não vieram de geração espontânea.

Elétrons não buscam sozinhos as casas abandonadas dos abandonados.

Os porteiros não abrem portas com os pés nas faculdades para si mesmos

Assim como zumbis sociais que procuram livros em vez de cérebros.

Jegues não evoluem para cavalos de aço.

Ônibus não ganham asas e viram aviões.

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Como abóboras não se transformam em carruagens,

Sapatos não se transformam em carros.

Crianças não fazem fotossíntese para crescerem saudáveis

E nem sobreviverão pela caridade da .

E nem vão de ônibus para escola mandada pela Providência Divina.

Um São Francisco reconstruiu a Igreja.

Outro há de reconstruir o ,

Mas não o faria apenas pela mão de Deus.

Mas os inimigos não veem em nenhum lugar nenhuma das nove digitais.

Mas para quem não quer saber:

Nada existe enquanto não vemos

Assim como o Sol não existe a noite para alguns.

Nada existe se não é divulgado pelos inimigos de Lula.

Nada existe se quiser que não exista.

Nada é bom se for apenas para os outros

Ou se for Mais para os outros,

Ainda mais se forem para “inferiores”.

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A Prisão de Lula

O amigo é sempre inocente,

O inimigo se não for, arranjamos provas contra ele.

A investigação é conduzida até se achar uma prova

Serve para isso, mesmo as falsas.

 

Quando Lula for preso,

Panelas chilenas dobrarão

Como sinos antiabolicionistas,

Tirados das mãos das empregadas negras.

 

Com incontidas palavras cheia de orgasmo, um “acadêmico” de bigode comentará

Apenas o último verso da estrofe:

O Antes um retirante que foi para a capital.

Depois um operário para a presidência.

Mais um “bandido” que vai para a prisão.

 

Jornais comemorarão a democracia que um dia ajudaram a derrubar.

Estamparão a humilhação de seu maior inimigo

Por ter ousado a ser mais do que um operário.

A bolsa de valores picotará papeis e os “outros lulas” limparão tudo no dia seguinte.

Os verdadeiros poderosos comemorarão que os falsos poderosos agora vão para a cadeia.

Sonegadores dirão que finalmente foi feita a “justiça”! (a deles, claro)

Corruptos impunes festejarão o ato mais belo do “fim da impunidade”!

Lágrimas escorrerão sobre rostos endurecidos de botox

E os maridos das bonecas comemorarão no banheiro solitariamente.

Viva a democracia falsa!

De pedras cantadas!

Onde se arranja o culpado

Antes mesmo de encontrar um “crime”.

Iremos juntos com você, Lula, para a cadeia.

Assim como fomos juntos para a forca de Tiradentes.

Assim como fomos juntos para a fogueira de Giordano Bruno.

Assim como fomos juntos com para a Cruz.

Fonte: Jornal GGN

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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