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“O que somos nós senão bandeiras?”

“O que somos nós senão bandeiras?”
 

“O tempo de saber que alguns erros caíram e a raiz da vida ficou mais forte

e os naufrágios não cortaram essa ligação subterrânea…”. – (Drummond)

I.
Encarcerado bate no peito
o coração de um país.
Há um país submerso nos oceanos do sul,
submerso na memória do sul,
aquela memória que não erigiu monumentos
e busca recompor seu passado de areia e ventos.
Há um país que espanta por seus abismos…
Um país ao sul da memória,
sempre ao sul dos nossos sonhos.
Nas ruas, no Paço, nos Estádios,
nas assembleias, nas greves,
nos sindicatos, ao pé dos tornos,
na correria das ocupações
onde nascemos,
sob a fumaça das bombas
e das explosões
se erguiam bandeiras
e canções.
O que somos nós senão bandeiras
que passamos de uma a outra mão
sobre o tumulto?
Geração após geração?
(Na batalha que não cessa,
hoje, o inimigo aboliu
o direito antigo, desde Troia,
de acompanhar e sepultar os mortos).
Encarcerado, o coração do país chora,
se evade
e pulsa dentro dos nossos corações.
II.
Traço na sombra um esboço
do pesadelo circular que nos sitia
para adivinhar-lhe o contorno:
preciso incendiar a escuridão que me cerca
para vislumbrar a cara da Esfinge
que devora meu país.
Não sei se será longa a noite do Espantalho.
Não importa.
Quero meus olhos ardendo como estrelas
frente aos espelhos rotos
capazes ainda de capturar alguma réstia de luz.
Quero seguir acendendo
as fogueiras dos acampamentos
como quem move mecanismos de amanhecer.
Tomo tuas mãos e costuro com elas
uns trapos humildes
para recolher sonhos despedaçados
ao lado das crateras em torno de minha casa,
abertas pelo fogo dos inimigos.
Durante as noites transporto água
e lágrimas para fazer delas
as lagoas azuis onde cultivo peixes
e sonhos que não me abandonam.
Como antes, nos anos de chumbo,
invento uma arquitetura de orvalhos
para vencer as engrenagens da noite,
dissipar a escuridão,
a tempo de contemplar
o Espantalho coberto de passarinhos…
III.
Não pedirei perdão
ao tribunal dos inimigos
que acalentam desde sempre
o sonho do cepo e do machado
sobre minhas mãos.
Para não permitir que se corte
essa ligação subterrânea
entre o sonho que me alimenta
e a vida bruta
dos sustentadores da vida,
regresso ao espaço baldio
do coração do povo
há longos anos ocupado
pela palavra dos inimigos.
Aqui me curvo diante
de Dorcelinas e Margaridas e Marielles,
diante do metalúrgico, pedreiro, sem-terra,
dos filhos de Zumbi e Apoena em Parabubure,
diante dos sustentadores da vida
para dizer-lhes:
quando havia pão sobre a mesa
e o riso e a fartura
não houve minha palavra,
quando havia trabalho,
quando havia futuro
não houve minha palavra,
quando havia liberdade,
não se ouviu minha palavra.
E o silêncio, por fim, devorou minha palavra.
E a palavra do inimigo
submergiu-a como a lama
de Mariana e Brumadinho
deitou-se sobre o corpo das pessoas
e a alma dos rios.
Sem conceder ao cansaço,
modelo com paciência
uma roda de conversa,
um gesto de carinho,
uma palavra de esperança,
um chip, um zapp, um post,
sou, a um só tempo,
a mão que modela
e o próprio instrumento:
sou todo comunicação,
sou inventor e invento.
O Coração encarcerado
que pulsa em nossos corações
engendra no infortúnio
o coração do futuro.
Que os demônios da ternura
nos esqueçam quando
reinventarmos a madrugada…
Brasília, nos 39 anos do Partido dos Trabalhadores

 

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