‘Luz amarela para fome no Brasil’

‘Luz amarela para fome no foi acesa’, diz brasileiro de agência da ONU que venceu Nobel da Paz

Luis Barrucho – @luisbarrucho  Da BBC News Brasil em Londres

Segundo Daniel Balaban, do Programa Mundial de Alimentos (PMA), será preciso ‘união’ para evitar que país volte ao Mapa da Fome, quando mais de 5% da população enfrenta insegurança alimentar grave

Madrugador assumido, o economista Daniel Balaban já estava acordado quando recebeu a notícia de que a agência da Organização das Nações Unidas (ONU) da qual é o representante para o Brasil, o Programa Mundial de Alimentos (PMA), havia ganhado o Nobel da Paz.

O prêmio foi anunciado na sexta-feira (09/10) na Noruega, pelo Comitê Nobel, em razão dos esforços da agência “para combater a fome, por sua contribuição para melhorar as condições de paz em áreas afetadas por conflitos e por atuar como uma força motriz em esforços para prevenir o uso da fome como arma de e conflito”.

Em entrevista à BBC News Brasil por telefone, Balaban, diretor do Centro de Excelência contra a Fome e representante do Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas (PMA) no Brasil, afirma que a “luz amarela para fome no Brasil foi acesa” devido “à regressão das políticas sociais” e que será preciso agir rápido para evitar que o país volte ao Mapa da Fome, quando mais de 5% da população enfrenta insegurança alimentar grave.

“Dá para reverter esse quadro se houver união nacional. A própria população brasileira solicitando e fazendo pressão em cima dos entes públicos. E o Nobel foi muito importante para isso, pois lança luz sobre um problema que afeta o mundo e estava um pouco esquecido”, diz.

 

Questionado sobre se, em sua visão, o governo de Jair Bolsonaro está comprometido em “reverter esse quadro”, Balaban defende “demonstrar a importância a todos os formuladores de de orientar recursos para as populações mais vulneráveis”.

Confira abaixo os principais trechos da entrevista.

BBC News Brasil  O Programa Mundial de Alimentos (PMA), agência da ONU da qual o sr. é o representante no Brasil, foi agraciado com o Nobel da Paz nesta sexta-feira. Como o sr. recebeu a notícia? Ficou surpreso?

Daniel Balaban – Foi uma surpresa total, ninguém esperava por isso. A sede do PMA fica em Roma (Itália) e, quando o prêmio foi anunciado, era madrugada no Brasil. Prêmios são prêmios. São importantes. Mas mais importante é lançar luz sobre um problema que afeta o mundo e que estava um pouco esquecido, que é a questão do combate à fome, do combate à pobreza, do combate às desigualdades.

Não tem como termos um mais sustentável, um planeta que todos nós sonhamos com 690 milhões de pessoas passando fome. São três Brasis. O trabalho do PMA no dia a dia é fazer com que essas pessoas não morram e dar assistência a elas. Alimentamos por dia mais de 100 milhões em todo o mundo, especialmente nos países em desenvolvimento, os mais pobres, ajudando a criar políticas públicas. Trata-se de um trabalho muito difícil e complexo, mas precisamos mostrar à população que dá para resolver esse problema.

Daniel Balaban

BBC News Brasil – Qual é a importância do Brasil dentro do Programa Mundial de Alimentos?

Balaban – O Brasil é parceiro do Programa Mundial de Alimentos desde longa data e tem uma atuação conjunta com a agência. Ganhamos muita notoriedade quando conseguimos tirar 50 milhões de pessoas da extrema pobreza e quando saímos do Mapa da Fome (em 2014, durante o governo de Dilma Rousseff) por meio de políticas públicas que nós mesmos desenvolvemos. Digo sempre que essas são políticas de .

O grande problema é que essas políticas têm que ser perenes, não importa quem esteja no governo. Continuamos sendo um país muito desigual e com uma parcela considerável da população em situação de vulnerabilidade. Não podemos deixar de comprometer parte do orçamento para políticas sociais que foram muito exitosas. O Brasil foi um exemplo para o mundo em desenvolvimento em relação a isso, desde políticas de apoio a agricultores familiares a políticas de renda com condicionalidade, como é o caso do Bolsa Família. E isso tem que continuar.

Fome

BBC News Brasil – O Brasil deixou de dar continuidade a essas políticas?

Balaban – O que acontece é que o Brasil começou a sofrer uma crise econômica muito grande a partir de 2015. Quando um país sofre uma crise econômica, há cortes no orçamento e pressão para se fazer equilíbrio fiscal. As políticas sociais acabaram sofrendo o maior impacto.

Não existe milagre.

Se os recursos começam a minguar, o programa social começa a diminuir seu fortalecimento e sua incidência sobre a população. Estamos em um momento chave: a luz amarela para a fome foi acesa, mas ainda temos tempo de fazer uma reversão. Não precisamos reinventar a roda. As políticas sociais que foram criadas tiveram muito sucesso.

Basta que os recursos voltem a ser investidos e o apoio às populações mais vulneráveis, retomado. Dá para reverter esse quadro se houver união nacional. A própria população brasileira solicitando e fazendo pressão em cima dos entes públicos. E o Nobel foi muito importante para chamar atenção para isso.

BBC News Brasil – Dados recentemente divulgados pelo IBGE mostram que, depois de recuar em mais da metade em uma década, a fome voltou a se alastrar pelo Brasil. Em cinco anos, o contingente nesta situação chegou a pelo menos 10,3 milhões. O Brasil voltou ou vai voltar ao Mapa da Fome?

Balaban – O Mapa da Fome é uma publicação da ONU que leva em conta os números mais atuais dos países. O Brasil não apareceu no último Mapa da Fome pois os dados usados são anteriores (aos divulgados pelo IBGE). De qualquer forma, essas 10,3 milhões de pessoas equivalem a menos de 5% da população, parâmetro considerado pela ONU para que um país entre ou deixe o Mapa da Fome. Mas isso não quer dizer que estamos bem. Temos percebido um aumento no número de pessoas em vulnerabilidade, uma regressão das políticas sociais. Se nada for feito para reverter esse quadro, o Brasil pode voltar ao Mapa da Fome.

Prato sem comida
 

BBC News Brasil – A concentração de renda subiu e a desigualdade se aprofundou durante o atual governo. O sr. acredita que o governo de Jair Bolsonaro está comprometido em “reverter esse quadro”?

Balaban – Não entramos em análises de governos, de atuação de governos. Acreditamos que essas políticas são reflexo do interesse da população de cada país. Cada governo é reflexo de sua população, sobretudo em países democráticos, como o Brasil. Precisamos alertar a toda a população que este é o momento de união e de trabalho conjunto para que esse quadro não volte. Este é o nosso papel: conclamar a união.

Não fazemos qualquer crítica a nenhum governo, nem governo atual, nem governos anteriores. Mas políticas adotadas como todo. Acredito que todos os governos têm boas intenções, nenhum governo quer a fome, nenhum governo quer falta de e . O ponto crucial é demonstrar a importância a todos os formuladores de políticas públicas de orientar os recursos para as populações mais vulneráveis.

Fonte: BBC
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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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