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Mães artistas transformam relatos íntimos vividos na Pandemia em livro

Mães artistas transformam relatos íntimos vividos na Pandemia em livro

Mães artistas transformam relatos íntimos vividos na Pandemia em livro

Pande(mãe)nicas são registros artísticos e fotográficos vividos por 6 mulheres que se tornaram mães na pandemia…

Por Cláudia Maciel/via Brasil de Fato

Neste domingo, 8, o Coletivo Matriz, formado por mães artistas do Distrito Federal, lança o livro Pande(mãe)nicas que expõe a maternidade de um grupo  em tempos de Pandemia.
A obra será difundida digitalmente pela editora Coletivo Transverso de forma gratuita com divulgação oficial para download na página.
“O leitor ao ter acesso ao exemplar, se deparará com escritos bem densos, íntimos e emocionantes. O meu relato é do início da Pandemia, período em que é explícito pelo texto o quão estava preocupada, estafada e com medo de morrer. É interessante observar isso.  Ainda bem que conseguimos sobreviver”, reflete Tatiana Reis, membro do Coletivo Matriz, artista e fotógrafa. 
O livro Pande(mãe)nicas oferece aos leitores relatos e registros artísticos e fotográficos reais vividos por seis mulheres artistas: Angélica Nunes, Bárbara Moreira, Camila Melo , Clarice Gonçalves, Marta Mencarini e Tatiana Reis que experienciaram maternar em um período atípico que obrigou o mundo a mudar hábitos e encarar a luta pela vida por meio do isolamento. 
Segundo Tatiana Reis, a ideia do livro surgiu pelo através do diálogo diário entre as mulheres. “No começo da Pandemia estávamos pilhadas de construir algo e na loucura das demandas do dia, da manutenção da vida, medo do que estava acontecendo, as trocas que fazíamos, acaba que virou uma válvula de escape interessante. Essas produções individuais tomaram a forma de um livro em 2021, pois percebemos que a junção do material que compartilhávamos era um conteúdo importante. Temos uma diversidade legal no coletivo, tem fotógrafa, artistas que bordam, pintoras, esculturas, entre outras. Outro aspecto salutar é que cada uma trouxe um pouco da sua linguagem”, diz Tatiana Reis.

Arte materna

O Coletivo Matriz formou-se através do projeto de exposição e ateliê coletivo para mães artistas da artista plástica Clarice Gonçalves.  “Passamos alguns dias juntas criando e participando da exposição dela com nossas obras. Dali nasceu a vontade de nos unirmos neste tema. Não temos uma produção regular que obedece cronologia comum. Nos encontramos poucas vezes presencialmente por conta da pandemia, mas não só, temos demandas maternas e de casa também, fora nossos outros projetos solos”, conta Tatiana.

Grupo se constituiu durante a pandemia e discute os desafios da maternidade / Foto: Izabele Pimenta

O grupo tem como objetivo expor questões invisíveis sobre a maternidade, investigar conceitos da cultura e atravessamentos na vida de mulheres-mães e crianças. Para tal, se utilizam de intervenção urbana, colagem digital, fotografia, performance e lambes. Como lema carregam a frase “fazemos arte enquanto criamos gente”.

A Pandemia 

É importante frisar que a pandemia não acabou, porém no período de isolamento/afastamento social a internet, mais precisamente, as redes sociais viraram vitrine para a exposição também da arte. Artistas que nunca tiveram espaço no mainstream ou em espaços consagrados de exposição por não ter recursos financeiros para investir na carreira, se viram no mesmo nível que os artistas já badalados.
O número de seguidores e fãs não era impeditivo para grande visibilidade do trabalho, pois vários artistas com menor destaque conseguiram viralizar suas obras. Esse fenômeno, foi até tema de Tese de Conclusão de Curso (TCC) escrito por Tatiana Reis. Porém, ao mesmo tempo que surtiu efeitos positivos, gerou estafa para as mães artistas pois não conseguiam acompanhar o momento.
“A gente teve uma estafa dessa necessidade de produzir alguma coisa diante dessas milhões de possibilidades e oportunidades online que estavam acontecendo. Muitos cursos e oficinas e a sensação de não fazermos parte disso e de não estarmos participando de nada. Parecia que não estávamos fazendo nada. Mas é mentira, pois estamos sempre fazendo algo. Cuidamos da casa e das pessoas, que é um trabalho árduo e que demanda nosso tempo e energia. Mediante a estafa, tivemos em comum a decisão de que não precisávamos entrar nesse circuito de aceleração, mas ainda assim tivemos um período que produzimos muito e conseguimos montar o livro”, destaca Reis. 

Crianças não são bem-vindas

Ao narrarem suas experiências, muitas mães concluem que amam seus filhos, mas não a maternidade. Muitas contam ainda, que ao gerarem filhos, ao invés de acolhimento, recebem exclusão. Alguns espaços se tornam inapropriados para circulação, pois a criança não é bem vinda.
Além disso, poucas mães que trabalham conseguem exercer suas funções sem sofrer demasiado estresse, uma vez que é imposto ritmo de produção e resultados que não considera a maternidade.


Maternidade impõe limites para as mulheres e também para as crianças, que na maioria das vezes não são bem-vindas nos espaços / Foto: Tatiana Reis

Tatiana Reis conta que para a mãe-artista essa é uma realidade patente. “Dentro da produção que é um ritmo masculino, que obriga a ser rápido, a artista mãe se encaixa em outro ritmo.  Temos que parar para cuidar da criança e muitas de nós cuidamos da casa, então é outro ritmo. Muitas vezes não conseguimos nos manter visíveis. Perdemos editais,  os chamamentos de exposição. Outra questão que ficou evidente na Pandemia é como os acessos aos espaços culturais para essas mulheres-mães é dificultado”.
Ela problematiza ainda que as crianças não são bem vindas nos espaços culturais.
“Muitas vezes você não tem onde deixar as crianças, e elas não são bem vindas em museus e galerias. A maioria dos espaços expositivos possui um ritual. A criança é mal vista. Somos as mães dessas crianças, estamos expondo ali e nossos filhos não podem entrar. Não podemos oferecer esta cultura aos nossos filhos? Cadê a cultura do cuidado e a lei que ampara a criança no que tange ao direito à cultura, lazer e até educação? Justamente a criança que precisa ser olhada com cuidado? É importante salientar que é muito comum para a mãe-artista não ser mais chamada para vernissages, para exposições. Ou quando convidam o tema é somente maternidade invisibilizando todo o trabalho que produzimos que não tem haver com esse tema”, destaca.
Serviço
Lançamento do livro digital Pande(mãe)nicas
Domingo, 8 de maio
Às 14 horas
Local: transmissão pela página do Coletivo Matriz
Livro para pré-visualização aqui

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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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