Mais Armas, Mais Mortes e Mais Insegurança

Mais armas, mais mortes e mais insegurança no Brasil, diz sociedade civil em Manifesto –

Ante o anúncio da ampliação do porte de armas por decisão unilateral do governo B, entidades e organizações da civil lançam Manifesto alertando para os efeitos nefastos da medida. Leia o Manifesto:

Somos organizações da sociedade civil, movimentos sociais, entidades de classe, pesquisadores/as, psicólogas/os, psicanalistas, educadoras/es e ativistas que atuam para a promoção dos Direitos Humanos no Brasil.

Este manifesto tem como objetivo construir um diálogo com as autoridades do Executivo e do Legislativo de nosso país para reafirmar uma conclusão fundamental dos pesquisadores do campo dos estudos de Violência e de Segurança Pública: o relaxamento da atual legislação sobre o controle do acesso às armas de fogo implicará mais mortes e ainda mais insegurança no Brasil.

Segundo dados da Anistia Internacional, 10% dos homicídios de todo o mundo ocorrem no Brasil. Em 2016, de acordo com os dados da Atlas da Violência 2018, foram 62.517 homicídios. Nosso país tem o maior número absoluto de homicídios por armas de fogo do mundo.

Pesquisadores de instituições públicas e privadas de ensino e pesquisa no Brasil e no exterior, no “Manifesto dos pesquisadores contra a revogação do Estatuto do Desarmamento à Sociedade Brasileira”, em 2016, reafirmaram que o Estatuto do Desarmamento é um importante instrumento para salvar vidas e, com diversas pesquisas e estudos científicos, negaram a hipótese de que mais armas em circulação causariam uma redução na violência. Os estudos científicos que embasam essas afirmações estão listados no próprio manifesto, disponível na internet.

Segundo a pesquisa “Também morre quem atira”, publicada pelo Instituto Brasileiro de Ciências Criminais em 2000, 7 em cada 10 pessoas que reagem armadas a um assalto tomam um tiro. Ou seja,os riscos do uso de armas de fogo recaem não apenas sobre os outros, mas também sobre quem as utiliza.

No Brasil, os dados de estudos e pesquisas e as experiências vividas pelas comunidades periféricas comprovaram o aumento da relação e identificação de adolescentes e jovens com as violências, especialmente como vítimas, a ponto de interferir na curva demográfica nas décadas 1990 e 2000, tal o aumento do número de adolescentes e jovens entre 15 e 24 anos mortos em todo país naquele período, em especial nos estados de e Rio de Janeiro. Com a realização de importantes campanhas e iniciativas conjuntas entre a sociedade civil e o Estado, essas taxas caíram significativamente em São Paulo nos anos seguintes.

No entanto, o Atlas da Violência de 2018 mostrou que as taxas de homicídios de jovens e adultos voltaram a crescer constantemente entre 2006 e 2016 em 20 estados brasileiros, em especial no Norte, e Centro Oeste do país, mas também no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul. Gritantes são as taxas de homicídios de jovens no Rio Grande do Norte e no Acre. Importante destacar que a violência no Brasil tem sexo, cor e geração: entre os que são mortos, a imensa maioria são homens, negros, adolescentes e jovens.

Ao analisarmos os dados comparativos mundiais no mesmo Atlas da Violência, vemos que a proporção de homicídios nas Américas é muito maior do que a de continentes que vivem guerras, como Ásia e África. Os dados específicos das Américas do Sul e Central mostram as terríveis realidades de violência enfrentadas pelo Brasil, México e Colômbia.

As pesquisas brasileiras e internacionais mostram que o aumento da circulação de armas de fogo se relaciona com uma maior incidência de homicídios cometidos por armas de fogo. Portanto, medidas para ampliar a posse e o porte de armas no Brasil, reduzindo as exigências atuais, seriam um grave retrocesso que desconsidera as conclusões dos estudos científicos, as experiências de ONGs e movimentos sociais que atuam nessa área em diversas comunidades do Brasil e os acordos e tratados internacionais. O objetivo dos acordos e tratados internacionais tem sido justamente ampliar o controle do comércio de armas de fogo no mundo, e não facilitar o seu acesso.

Como mostram as/os pesquisadores, a violência é um fenômeno complexo, em que se combinam fatores estruturais e conjunturais como educação, desigualdade de renda, arranjo institucional e orçamento para segurança pública.

Para o seu enfrentamento, as experiências de ONGs e de movimentos da sociedade civil brasileira e as pesquisas mostram que são necessárias a organização e o fortalecimento comunitários; políticas públicas de educação, cultura e lazer; políticas de geração de emprego e renda; políticas de redução das desigualdades sociais, raciais e de gênero; polícias cidadãs e políticas consistentes de e de segurança pública. Está comprovado que os países e comunidades com maior circulação de armas são os países com maiores taxas de homicídio, e crimes por vinganças. Quem não tem formação técnica específica, não tem as habilidades e o auto-controle necessários para manusear armas de fogo e, ao fazê-lo, coloca em risco a si e aos outros. Ampliar a posse e o porte de armas NÃO é a solução para os graves problemas de violência no Brasil.

Assinam este manifesto:

Movimento sociais/Organizações/Redes

Campanha Nacional pelo Direito à Educação

Centro Santo Dias de Direitos Humanos da Arquidiocese de São Paulo

Conselho Nacional do Laicato do Brasil

Conselho Regional de Psicologia de São Paulo

Fórum Brasileiro de Segurança Pública Fórum em Defesa da e pela Paz – Jardim Ângela/SP

Fórum de Sustentabilidade do Butantã Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito

IDDD – Instituto de Defesa do Direito de Defesa

IPDM – Igreja Povo de Deus em Movimento

Movimento de Mulheres Judias Me Dê a Sua Mão

Pastoral de Educação da Regional Sul 1 da CNBB

Pastoral Fé e Política da Arquidiocese de São Paulo

Pastoral Fé e Política do Estado de São Paulo – Regional Sul 1 da CNBB

REC/SP – Rede de Escolas de Cidadania do Estado de São Paulo

Rede Butantã

União Popular de Mulheres do Campo Limpo e Adjacências

Profissionais e ativistas

Aldo Ambrózio – professor e psicanalista

Ana Gebrim – psicanalista

Ana Lúcia Arbex – professora

Ana Virginia Francisco – psicanalista

André Vallias – poeta e designer gráfico

Andréa Loparic – professora e filósofa

Carmen Alvarez da Costa Carvalho – psicanalista

Carmina Juarez – cantora, professora e psicanalista

Carolina Maria Binatti – psicanalista

Celina Aparecida Simões – militante do movimento de mulheres

Celina Giacomelli – psicanalista e professora

Christiana C. Freire – professora e psicanalista

Clarissa G. da Motta – psicanalista

Claudete Mira – conselheira de do distrito do Butantã

Cláudia Arbex – psicanalista e psicopedagoga

Cleusa Pavan – psicanalista e professora

Cristina Ribeiro Barczinski – psicanalista e professora

Daniel Lopes Martin Almeida – psicanalista e professor

Dedé Oliveira Ribeiro – professora e psicanalista

Denise D. Moreira – psicanalista

Eduardo Lara – psicanalista

Fernanda Franceschi – psicanalista

Gerson Costa – designer

Helenice Oliveira Rocha – psicanalista e professora

Herculana Monteiro Jesus – dona-de-casa e aposentada

Isabel Aparecida – ativista dos direitos das pessoas com deficiência

Isabel Miranda – historiadora

Itacira Aparecida Costa – economista

Ivy Semiguem F. S. Carvalho – psicanalista

Juliana do Couto Ghisolfi – professora

Lilian M. J. Carbone – professora e psicanalista

Luciana Cartocci – psicanalista

Malena Calixto – psicanalista

Marcelo Baptista Conti – economista

Marcelo Gomes Vilela – psicólogo

Margarete Aparecida Pires Oliveira – dona-de-casa e ativista dos direitos das pessoas com deficiência

Maria Aparecida Kfouri Aidar – psicanalista

Maria Beatriz Costa Carvalho Vannuchi – psicanalista

Maria de Fátima Vicente – psicanalista e professora

Maria do Carmo Vidigal – psicanalista e professora

Maria Helena Fernandes – psicanalista

Maria Luiza Maia de Souza – jornalista e psicanalista

Maria Marta Azzolini – professora e psicanalista

Maria Vera Lúcia Barbosa – psicanalista

Marianne Oliveira De Toni – psicanalista

Maristela Spera Martins Melero – professora, psicóloga e psicanalista

Marta Quaglia Cerruti – psicanalista

Milton Mauad de Carvalho Camera Filho – professor

Miriam Chnaiderman – psicanalista e documentarista

Natalia Gola – psicanalista

Noemi Moritz Kon – professora e psicanalista

Nubia Bento Rodrigues – professora

Paula Francisquetti – psicanalista

Paula Renata Crecencio Capelletto – jornalista e psicanalista

Plínio Machado – arquiteto

Polianne Alves Silva – psicanalista

Reginaldo Santos Silva – aposentado e ativista dos direitos das pessoas com deficiência

Renato Sérgio de Lima – sociólogo

Rodrigo Lopes – cenógrafo, diretor de e produtor cultural

Rosa Junqueira Correa – psicanalista

Samantha Freitas – professora e militante dos direitos humanos

Silvia Menezes – psicanalista Sylvia Fernandes – psicanalista

Tatiana Inglez Mazzarella –psicanalista e professora

Thais Duarte – psicanalista Thays Gabriela Barbosa Santos – psicóloga

Tiago Corbisier Matheus – psicanalista e professor

Vera Rodrigues – psicanalista

 
Contatos:Pastoral Fé e Política
Monica Lopes- (11) 98389-0257
REC-SP: Samantha Freitas – (11) 96575-2727
Fórum em Defesa da Vida e pela Paz 
Jd Ângela: Padre James Crowe – (11) 96312-2738
Fórum Brasileiro de Segurança Pública
Julia Magalhães – (11) 97638-8016
Psicanalistas Dedé Ribeiro – (11) 98202-5161

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!