Marco temporal, não!

Marco temporal, não!

Meu nome é Maial Panhpunu Paiakan, sou do povo Kayapó, sou filha do grande Paulinho Paiakan, defensor dos direitos e da preservação ambiental. Meu povo habita uma região no do Pará, na Amazônia , vivemos a pressão constante dos grandes empreendimentos e dos avanços no arco do desmatamento, somos defensores dos , da biodiversidade nessa região.

Maial Panhupunu Paiakan

Na minha memória, há recordações da luta dos antigos. A luta dos nossos pais, tios e avós no processo da Constituição Federal de 1988, que marcaram presença na Capital Federal e tiveram um papel decisivo e importante para os .
Hoje, a Constituição Federal tem mais de 30 anos. Na época, não tínhamos organizações ou instituições, mas tínhamos nossa organização conforme nossa tradição cultural.
Os , especialmente meu povo Mebengokre Kayapó, marcaram presença tanto nos atos na Capital Federal quanto por meio de cartas para a Assembleia Nacional Constituinte.
No processo de formulação da Constituição, jamais apresentaram em seus artigos a nosso respeito uma intenção tão perigosa quanto esta, o Marco Temporal, que em breve será colocado em pauta no Supremo Tribunal Federal.
Pensar sobre os direitos indígenas é refletir sobre a luta histórica do passado e dos antigos. É preciso lutar pelo direito e honrar a memória dos que já partiram para o outro plano, que seguem vigilantes conosco.
Estamos vivenciando o contato mais violento, com violação em massa dos direitos fundamentais e coletivos e todos os aspectos do direito à segurança em nossas próprias . A legislação ambiental está comprometida, com pouca fiscalização e pouco monitoramento. Na verdade, o governo está tentando, com mais uma ação inconstitucional, impor algumas regras sobre demarcação de terras indígenas.
A ação de reintegração de posse contra o povo Xokleng, no sul do país, pode ter impactos devastadores nas terras indígenas em todo o Brasil. O marco temporal é uma estratégia do desenvolvimento capitalista do Brasil e do mundo e causa impactos socioambientais significativos para os povos indígenas.
A suposta “tese” do marco temporal é mais uma tentativa do processo colonizador de tentar enterrar nossa e nossa memória. Somos nós que sentimos amor por aquilo que é nosso, nossa terra, portanto não aceitamos a tese do referido julgamento. Por isso, estamos aqui, como jovens que dão continuidade à luta, pois vemos o julgamento como uma afronta que poderá desencadear um desmembramento e, consequentemente, o extermínio de nós, povos indígenas.
Necessitamos que sejam garantidos nossos direitos sobre nossas terras, onde nossos antepassados viveram, e da qual precisamos, para termos tranquilidade e paz de olharmos nossos filhos e sabermos que eles terão condição de viver da maneira como nós vivemos. E digo mais, resistiremos!

Maial Panhupunu Paiakan – Bacharel em Direito, sendo a primeira de sua comunidade a se formar neste curso. Trabalha com questões dos direitos das mulheres indígenas e dos povos indígenas, com questões ambientais, questões culturais, com saúde e território, especialmente na perspectiva da igualdade de gênero.

 


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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