“Sei que meu neto pode levar uma incerta por ser negro”

“Sei que meu neto pode levar uma incerta por ser negro”

“Quando veio a intervenção federal agora (no Rio), circulou pela internet um aviso para os negros andarem com documento. A gente falou para ele: ‘Chiquinho, vê lá, você tem que andar com documento.” – Marieta Severo

Recentemente, um falso com críticas a atribuído a você circulou nas redes. Você vai processar quem fez isso?

Não sou do virtual, então não sei se vou falar bobagem. No Facebook, você chega muito rápido (a quem fez a postagem). Minha família toda, por exemplo, processou uma pessoa que falou que éramos uma família canalha, e ganhamos. Ele diz que a gente é figura pública, então pode falar o que quiser. Não, não é assim não. A gente tem direito de defender a nossa dignidade.
 
Esse outro caso (do falso texto) parece que saiu de algum Insta, de alguém que é mais difícil de rastrear. Mas (processar) é a única possibilidade que tenho de diminuir um pouco o dano interno que essas coisas causam. Chamar minha família de canalha é uma coisa que me deu uma dor inenarrável. Minha família é muito correta, então é inadmissível que uma pessoa fale isso. Então, processar é quase que um alento que você cria para não ficar impotente completamente, não ficar à mercê. Essa pessoa escreveu isso, ela é responsável pelo que escreveu.

Então, vocês ainda estão indo atrás do autor desse texto?

Essas coisas são demoradas, porque você tem que contratar uma firma que vai rastrear. Não me apresso, é só a pessoa saber que a gente vai atrás. Não pode escrever e assinar por mim uma coisa que eu não disse, que não é minha. Nem comigo nem com ninguém.

Você vê retrocesso na hoje?

Sim, é nítido. O que sei é que as coisas são cíclicas, vai para frente, vai um pouco para trás. Até porque essa fica nas pessoas de uma maneira ou de outra. As conquistas sociais, de comportamento. Tira a lei que foi criada, acaba aquele benefício, vota no não sei o que lá – dá o maior medo, porque eles votam coisas que a gente nem sabe.

Então, eles vão desmontando as conquistas, mas o que me dá alento é que as coisas que estão plantadas vão ressurgir em algum outro momento. Você não apaga. Não estou só falando no sentido social, das conquistas de comportamento, das mulheres. As mulheres, meu Deus, que retomaram o movimento feminista, essa garotada, fico babando de alegria. Porque tinha uma época que era cafona ser feminista: ‘ é contra o homem’. Não é contra, não, entende direito qual é o discurso.

(…)

Avançou-se muito no sobre o , mas ainda há muito a conquistar. Chico Brown é negro. Como vocês lidam com a preocupação constante de que ele possa sofrer?

Quando veio a intervenção federal agora (no Rio), circulou pela internet um aviso para os negros andarem com documento. A gente falou para ele: ‘Chiquinho, vê lá, você tem que andar com documento’. Não me preocupei em falar para minha neta loira que ela tem que andar com documento. Isso é muito presente, e é muito preocupante, porque sei que ele pode levar uma incerta porque é negro com rastafári até a cintura. Falo disso e me sinto até ridícula, porque a quantidade de jovens negros morrendo… é uma geração inteira que está indo embora.

Chico Brown com Chico revista CultFoto: Revista Cult

Matéria no DCM diariodocentrodomundo citando uma entrevista de Marieta Severo ao Estadão.


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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