Marisa Letícia: Exemplo de mulher, do povo e de luta

Marisa Letícia: Exemplo de mulher, do povo e de luta

Marisa Letícia: Exemplo de mulher, do e de

Ruminei por vários dias a dor da intempestiva morte de dona Marisa, de forma trágica e inesperada. Menos pela morte da companheira, pois, afinal, esse é o caminho de todos nós.

Mas, pelas manifestações das “enzimas de excrescências”, que se autodenominam seres humanos e pululam nesta sacrificada terra nossa, onde os valores se inverteram. Juízes se tornam “bandidos de bem”, com sentenças políticas condenam cidadãos sem culpa formada e, sem cerimônia, subvertem a lei e absolvem criminosos com dinheiro e cabedal político, desde que sejam dos partidos de suas preferências.

Não tenho o hábito de acompanhar cotidianamente as . No meu entendimento esse veículo importante da moderna , de forma imbecil, tornou-se o principal meio de disseminação de ódio entre os ditos animais racionais.

Porém, por cavacos do ofício, somos impelidos, vez por outra, a tomar conhecimento do que é difundido nas chamadas redes sociais, que de sociais têm quase nada. E o que se viu e ouviu no episódio da morte de dona Marisa é inconcebível numa sociedade que se arvora de cristã e democrática. Pessoas com formação acadêmica, de opiniões rastejantes e preconceituosas, chafurdaram no lamaçal das mídias.

Na ruminação da dor recordei-me de quando conheci dona Marisa. Foi no auge da campanha eleitoral de “Lula – Presidente”, pela Frente Popular, em 2002, em Porto Alegre, por ocasião do Fórum Social Mundial.

Houve uma confraternização de todos os partidos que compunham a Frente, no Centro de Tradições Gaúchas. À época eu representava a direção nacional do PCB. Sentei-me ao lado dela. Conversamos sobre a campanha e ela falou-me da esperança que sentia na vontade do povo de eleger um trabalhador presidente da República.

Falava com um entusiasmo contagiante da campanha, da adesão, cada vez maior, da população mais carente do nosso país. Falou-me do respeito que tinha pelos companheiros do Partidão, do qual seu cunhado fora membro.

No alvoroço da comemoração do êxito do Fórum, ela atendia a todos com atenção e humildade, com uma altivez sem arrogância, própria das oriundas do povo.

Perguntei sobre movimento das mulheres que ela liderou, em 1979, por ocasião da prisão de Lula e dos dirigentes do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo. Seus olhos azuis brilharam e demonstravam toda a firmeza e entusiasmo de ter sido protagonista daquela jornada que levantou o espírito de luta de mães, esposas e filhas dos que estavam sofrendo nas prisões do DEOPS de .

Dona Marisa, como todos a tratavam, em público até mesmo o Lula, com sua posição firme de mulher operária, afrontou o burguês das primeiras-damas anteriores que passaram pelo Palácio do Planalto. Poderia ter se acomodado nos espaços reservados às submissas, “recatadas e do lar”. Mas não. Ela com sua força moral arrancou as máscaras dos pérfidos.

Para Mino a morte de Marisa e as reações na classe média deste país da casa-grande e da senzala, suscitaram ferocidade, ódio de classe e ignorância dos senhores. Mas o povo contemplará a luz de uma estrela que brilhará para sempre no céu da história das heroínas brasileiras. Descanse em paz brava companheira. Dona Marisa, Presente!

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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