MATINTA-PEREIRA: A AVE QUE ASSOBIA FORTE

MATINTA-PEREIRA: A AVE QUE ASSOBIA FORTE

MATINTA-PEREIRA: A AVE QUE ASSOBIA FORTE

Diz uma das muitas versões da lenda que, de noite, a Matinta-Pereira, também chamada Matinta-Perera, vira ave e assobia tão forte, com tanta estridência, que pode estourar qualquer ouvido, e que, para acalmá-la, o único jeito é fazer uma oferenda. 

Lenda da Matinta Perera 7

Diz também que a bichinha gosta de fumo, café, cachaça, peixe e pão, de preferência. Segundo o grande folclorista Câmara Cascudo, o sossego vem com promessa, basta gritar: “Matinta, venha amanhã que lhe entregarei seu fumo”, ou outra prenda qualquer. 

Mas é bom só prometer o que pode cumprir, porque no dia seguinte, em forma de gente, a Matinta chega bem cedo na casa de quem prometeu para buscar seu presente.  E se a pessoa não entrega, a Matinta amaldiçoa e castiga a família, até mesmo com a morte.

E o que fazer para espantar a Matinta-Pereira? Existem algumas armadilhas, afirmam os povos da floresta. Uma delas é enterrar uma tesoura aberta ou um terço e uma chave no caminho por onde ela costuma passar.  No Pará, as famílias preparam e passam uma poção com alho e água benta pelas janelas e portas das casas.

No Amazonas, a lenda conta que Matinta pode ser afugentada colocando folhas e frutos do pinhão-roxo, Jatropha gossypiifolia, nas portas e janelas das casas. A planta possui uma substância tóxica e grudenta em suas folhas, o que, para as pessoas, afugenta Matinta.

Segundo Câmara Cascudo, a Matinta-Perera se apresenta às pessoas como o pássaro Tapera, conhecido popularmente como martim-pererê ou saci. Para ele, esse pássaro era associado por povos indígenas aos pajés, que se transformavam no pássaro para praticar suas vinganças.

Para o povo indígena Tupinambá, os mortos se transformam nesses pássaros, visitando os vivos. Os Munduruku acreditam que esse pássaro era a encarnação dos mortos que vinham caçar e pescar no mundo dos vivos.

Fonte: Brasil Escola, com edições de Zezé Weiss. 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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