MATINTA-PEREIRA: A AVE QUE ASSOBIA FORTE
Diz uma das muitas versões da lenda que, de noite, a Matinta-Pereira, também chamada Matinta-Perera, vira ave e assobia tão forte, com tanta estridência, que pode estourar qualquer ouvido, e que, para acalmá-la, o único jeito é fazer uma oferenda.
Diz também que a bichinha gosta de fumo, café, cachaça, peixe e pão, de preferência. Segundo o grande folclorista Câmara Cascudo, o sossego vem com promessa, basta gritar: “Matinta, venha amanhã que lhe entregarei seu fumo”, ou outra prenda qualquer.
Mas é bom só prometer o que pode cumprir, porque no dia seguinte, em forma de gente, a Matinta chega bem cedo na casa de quem prometeu para buscar seu presente. E se a pessoa não entrega, a Matinta amaldiçoa e castiga a família, até mesmo com a morte.
E o que fazer para espantar a Matinta-Pereira? Existem algumas armadilhas, afirmam os povos da floresta. Uma delas é enterrar uma tesoura aberta ou um terço e uma chave no caminho por onde ela costuma passar. No Pará, as famílias preparam e passam uma poção com alho e água benta pelas janelas e portas das casas.
No Amazonas, a lenda conta que Matinta pode ser afugentada colocando folhas e frutos do pinhão-roxo, Jatropha gossypiifolia, nas portas e janelas das casas. A planta possui uma substância tóxica e grudenta em suas folhas, o que, para as pessoas, afugenta Matinta.
Segundo Câmara Cascudo, a Matinta-Perera se apresenta às pessoas como o pássaro Tapera, conhecido popularmente como martim-pererê ou saci. Para ele, esse pássaro era associado por povos indígenas aos pajés, que se transformavam no pássaro para praticar suas vinganças.
Para o povo indígena Tupinambá, os mortos se transformam nesses pássaros, visitando os vivos. Os Munduruku acreditam que esse pássaro era a encarnação dos mortos que vinham caçar e pescar no mundo dos vivos.
Fonte: Brasil Escola, com edições de Zezé Weiss.