Deixem em paz os filhos de Lula

Por Aloizio Mercadante – O amadurecimento da nossa democracia exige que os filhos e as famílias dos homens públicos sejam preservados dessa disputa radicalizada e dessa crescente intolerância que estamos vivendo nos dias de hoje. Deixem em paz os filhos de Lula. 

Eu conheço a família Lula desde a década de 70. Acompanhei de perto, ao longo desses mais de 40 anos, toda a discriminação, a intolerância e a perseguição que os filhos de Lula sofreram ao longo da .

Na greve prolongada de 80, em um cenário de forte econômica, os filhos de Lula foram agredidos na , como se ele fosse responsável pela crise. No mesmo ano, presenciei todo o sofrimento da família, quando Lula foi preso. Era o tempo da e da contra a ditatura militar.

Na campanha presidencial de 89, lembro o que fizeram com a Lurian, inclusive a forma irresponsável e desrespeitosa com que parte da grande imprensa tratou o episódio. Uma maneira diferente de casos semelhantes de outros homens públicos, que foram preservados na sua intimidade e na sua família.

A perseguição a família é cotidiana e implacável. Qualquer melhoria profissional de filhos de homens públicos é colocada em suspeição e cercada de discriminação e de hostilidades. A competência profissional é, quase sempre, apequenada.

Os filhos precisam ser respeitados, independente da condição política de seus pais. O presidente Lula já teve sua pública devassada e o que fizeram com seu filho Marcos, uma pessoa de bem, pai de família, tranquila e serena, é inaceitável.

Autoridades polícias não tem o direito de invadir a casa de um cidadão, qualquer que seja, em razão de uma denúncia anônima e sem qualquer fundamento. O mínimo que se espera, em um democrático e de direito, é uma apuração prévia ou, ao menos, uma investigação dos antecedentes e da conduta da pessoa denunciada.

O respeito ao devido processo legal, à presunção de inocência e ao contraditório são valores fundamentais que devem ser integralmente preservados. Esse novo atentado aos valores democráticos, agora contra o filho do presidente Lula, é mais uma prova de que caminhamos a passos largos para um estado de exceção, que se instalou no país após o afastamento da presidenta Dilma sem ter cometido crime de responsabilidade.

O amadurecimento da nossa democracia exige que os filhos e as famílias dos homens públicos sejam preservados dessa disputa política radicalizada e dessa crescente intolerância que estamos vivendo nos dias de hoje.

Ainda tenho frescos na toda a discriminação e de todo o sofrimento, sobretudo da Marisa, em razão da exposição e da perseguição que seus filhos sofreram. Deixem os filhos do Lula em paz. E, pelo bem da democracia, vamos elevar o patamar da disputa política no .

Aloizio Mercadante

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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