Davi Kopenawa: Um líder, um pajé, um grande sábio

Davi Kopenawa é um grande sábio

“Para nós, é ter nossa terra
com saúde, permitindo que nossos filhos vivam
saudáveis, num lugar cheio de vida.”
Davi Kopenawa

Por Felício Pontes Jr

Davi Kopenawa é um sábio. É uma mistura de sacerdote, pajé e líder político dos Yanomami – povo indígena que habita o estado de Roraima, na fronteira do Brasil com a Venezuela. No final dos anos 1980, seu território foi invadido por 40 mil garimpeiros. Esse contato ocasionou a morte de mais de mil por e . Antes, em 1960, o clã desse pajé Yanomami foi quase dizimado por doenças contagiosas, em outra tentativa do contato dos “brancos”, deixando-o órfão, ainda criança. Davi não se entregou. Cresceu e correu mundo denunciando o desrespeito aos de seu povo. Ganhou o Global 500, prêmio das Nações Unidas aos mais destacados defensores do ; e o RightLivelyhood, considerado o Nobel alternativo, entre outros. E conseguiu o reconhecimento da Terra Indígena Yanomami pelo governo brasileiro em 1992.  Nesse momento em que o discute o Projeto de Lei n. 1610/96, que abre as terras indígenas para a mineração, é importante ouvir a voz desse líder.

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UM LUGAR CHEIO DE VIDA

Vocês, brancos, dizem que nós, Yanomami, não queremos o desenvolvimento. Falam isso porque não queremos a mineração em nossas terras, mas vocês não estão entendendo o que estamos dizendo. Nós não somos contra o desenvolvimento.

Nós somos contra apenas o desenvolvimento que vocês, brancos, querem empurrar para cima de nós. Vocês falam em devastar nossa terra- para nos dar dinheiro. Falam que somos carentes. Mas esse não é o desenvolvimento que conhecemos. Para nós, desenvolvimento é ter nossa terra com saúde, permitindo que nossos filhos vivam saudáveis, num lugar cheio de vida.

Mas falam que somos pobres e que nossa vida vai melhorar. Mas o que vocês conhecem da nossa vida para falar que vai melhorar? Só porque somos diferentes de vocês, vivemos de forma diferente, damos valor para coisas diferentes, isso não quer dizer que somos mais pobres.

Nós, Yanomami, temos outras riquezas deixadas pelos nossos antigos que vocês, brancos, não conseguem enxergar: a terra que nos dá vida, a água limpa que tomamos, nossas crianças satisfeitas.”

Felício Pontes Jr. – Procurador da República.

Terra Yanomami menino Survival

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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