Moraes Moreira: Partiu nosso Preto, Pretinho
Por Zezé Weiss
O dia amanheceu bem triste neste 13 de abril. O baiano-carioca Moraes Moreira, de 72 anos, fundador dos Novos Baianos, partiu do espaço físico deste mundo, por conta de um infarto, nos deixando com esse sentimento de orfandade no meio dessa pavorosa quarentena.
Aliás, seu último post foi “Quarentena”. Dessa vez não dá para cantarolar contigo, Preto, Pretinho da minha e das muitas gerações que vieram depois da minha. Olha só o que ele escreveu desde o seu isolamento do Rio de Janeiro: “Oi, pessoal. Estou aqui na Gávea, entre minha casa e escritório que ficam próximos, cumprindo minha quarentena, tocando e escrevendo sem parar. Este cordel nasceu na madrugada do dia 17 [de março], envio para a apreciação de vocês. Boa sorte.”
Compartilho o seu poema de despedida, com um nó no peito, com uma saudade que não tem tamanho.
QUARENTENA (Moraes Moreira)
Eu temo o coronavirus
E zelo por minha vida
Mas tenho medo de tiros
Também de bala perdida,
A nossa fé é vacina
O professor que me ensina
Será minha própria lida
Assombra-me a Pandemia
Que agora domina o mundo
Mas tenho uma garantia
Não sou nenhum vagabundo,
Porque todo cidadão
Merece mais atenção
O sentimento é profundo
Eu não queria essa praga
Que não é mais do Egito
Não quero que ela traga
O mal que sempre eu evito,
Os males não são eternos
Pois os recursos modernos
Estão aí, acredito
De quem será esse lucro
Ou mesmo a teoria?
Detesto falar de estrupo
Eu gosto é de poesia,
Mas creio na consciência
E digo não violência
Toda noite e todo dia
Eu tenho medo do excesso
Que seja em qualquer sentido
Mas também do retrocesso
Que por aí escondido,’
As vezes é o que notamos
Passar o que já passamos
Jamais será esquecido
Até aceito a Policia
Mas quando muda de letra
E se transforma em milícia
Odeio essa mutreta,
Pra combater o que alarma
Só tenho mesmo uma arma
Que é a minha caneta
Com tanta coisa inda cismo…
Estão na ordem do dia
Eu digo não ao machismo
Também a misoginia,
Tem outros que eu não aceito
É o tal do preconceito
E as sombras da hipocrisia
As coisas já foram postas
Mas prevalecem os reles
Queremos sim ter respostas
Sobre as nossas Marielles,
Em meio a um mundo efêmero
Não é só questão de gênero
Nem de homens ou mulheres
O que vale é o ser humano
E sua dignidade
Vivemos num mundo insano
Queremos mais liberdade,
Pra que tudo isso mude
Certeza, ninguém se ilude
Não Tem tempo, nem idade.
A foto de capa desta pequena homenagem é do G1 e o vídeo foi copiado do Brasil 247. Odoyá, Moraes Moreira!
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