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Morte de Alexandre Vannucchi foi o primeiro revés da ditadura

Morte de Alexandre Vannucchi foi o primeiro revés da ditadura
 
Assassinato  de estudante colocou em evidência ações de militares.

Por Redação/Agência Brasil

No dia 30 de março de 1973, em um ato de rebeldia contra a ditadura militar, mais de três mil pessoas se reuniram em uma missa em homenagem ao estudante de geologia da Universidade de São Paulo (USP) Alexandre Vannucchi Leme. Ele tinha sido torturado e assassinado pelos militares semanas antes, no dia 17 de março de 1973, no Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI), em São Paulo.

Historiadores consideram que o episódio representou um primeiro revés da ditadura, colocando os militares na defensiva diante da sociedade. Para negar a morte por tortura, eles sustentaram versões falsas. Primeiro, a de suicídio, e depois a de acidente para justificar a morte de Alexandre. O professor do Departamento de Jornalismo e Editoração da USP Camilo Vannucchi, primo de 2º grau de Alexandre, explica que a manifestação resultou em mais repressão:

“Tem uma contração importante, que várias pessoas da USP foram presas naquela semana, vários estudantes da USP que foram na missa foram presos, torturados a partir daquele dia, porque os seus rostos foram gravados. Para a repressão, aquilo também é colocado como uma questão de que ‘olha, a gente passou da dose, dos limites’. Não era para o Alexandre ter morrido, não era um terrorista, um guerrilheiro, uma pessoa clandestina. Ele continuava indo às aulas, era muito querido na faculdade”.

Alexandre Vannucchi Leme vinha de uma família católica do interior de São Paulo. Apelidado de Minhoca, era um aluno exemplar e também bem-humorado, segundo colegas e amigos. Um dos colegas de faculdade, Adriano Diogo, lembrou algumas qualidades marcantes dele.

“Inteligência do interior, fazia aquelas piadas enormes, aquela gozação. Esse era o Minhoca, um cara magrinho, baixinho. Deram o apelido de Minhoca de tanto que ele vivia metido na terra. As pessoas podiam achar que, por causa que a pessoa morreu, foi assassinada, no caso, a gente sempre usa o aumentativo, uma coisa para dar um tom heroico. O Minhoca realmente era um cara muito diferenciado”.

Após ser encontrado no dia 16 de março de 1973 pelos militares, foi torturado por dois dias e não resistiu. Alexandre já se encontrava debilitado em função de uma recente cirurgia no apêndice. Conforme relatos da Comissão Nacional da Verdade, o então Major Carlos Alberto Brilhante Ustra se vangloriou desse assassinato, como lembra Adriano Diogo. “O Ustra assumiu a morte do Alexandre. Ele gritava no pátio, no sábado, 17 de março, que ele tinha mandado o Alexandre para a vanguarda popular celestial, quer dizer, tinha matado ele”.

Após a morte de Alexandre, teve início a busca dos familiares e amigos por justiça. Os militares falsificaram o atestado de óbito. Primeiro alegando suicídio na cela, depois com a versão publicada nos jornais, de que ele tinha fugido da delegacia e sido atropelado. Além disso, na época, a família não conseguiu localizar o corpo que tinha sido enterrado na vala de Perus, local onde os militares costumavam enterrar corpos de pessoas assassinadas pelos torturadores.

O assassinato de Alexandre gerou uma onda de indignação entre amigos e familiares e sensibilizou o então cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, que tomou a frente para realizar uma missa em homenagem ao estudante na Catedral da Sé, desafiando as autoridades militares. Camilo falou do papel decisivo de Dom Paulo nesse episódio.

“Em vez de fazer uma missa na USP ou numa igreja próxima à universidade, à residência dele, alguma coisa assim, ele diz: ‘não, vai ser na Catedral da Sé, às 18h de sexta-feira’, que é a missa mais cheia, que as pessoas saem do trabalho e vão. E ele, no altar, diz que o Alexandre foi morto, que a culpa da morte dele é do Estado, que a versão de atropelamento é falsa. Então, ele faz um enfrentamento da autoridade militar, policial, na época”.

Em 1976, o Diretório Central dos Estudantes da USP, o DCE, passou a levar o nome dele. Em 2013 a família conseguiu na justiça a retificação do atestado de óbito de Alexandre Vannucchi Leme reconhecendo o assassinato executado pelos torturadores.

A história detalhada de Alexandre Vannucchi Leme, de autoria de Camilo Vannucchi, será publicada no livro “Meu nome é Alexandre Vannucchi Leme”, no segundo semestre.

Fonte: Portal Toca News. Este artigo não representa a opinião da Revista e é de responsabilidade do autor:


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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

 

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