Movimentos Sociais: Indígenas e Extrativistas unificam Agenda de Lutas

Vem aí, um grande anel de tucum: Ante “o contexto político atual,  alicerçado por uma gestão voltada a retrocessos, ataques e violação de direitos garantidos,” lideranças indígenas e extrativistas,  organizadas na  Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e no Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), lançam  “Carta de Brasília”  anunciando a unificação da Agenda de Luta em defesa dos Direitos  dos Povos Indígenas e das Populações Tradicionais Extrativistas de todos os biomas brasileiros – 

Em resposta a essa  conjuntura “que ameaça e causa mazelas à vida dos Povos Indígenas e das Populações Extrativistas,” dirigentes da  APIB e do CNS  reuniram-se em Brasília, entre  os dias 8 e 10 de agosto,  e “deliberaram sobre a construção de uma nova estratégia de articulação política, voltada para o fortalecimento de suas lutas” em defesa de seus direitos em todos os níveis – local, regional, nacional e internacional.

Uma aliança tipo anel de tucum, construída junto com as organizações de base,  a partir de uma estratégia de ação conjunta não só para a Amazônia, nem somente entre comunidades indígenas e de seringueiros,  e sim para e com as populações orginárias e tradicionais de todos os biomas brasileiros, explicam tanto as lideranças da APIB quanto as do CNS.

Essa nova estratégia foi explicitada na “Carta de Brasília”, lançada na capital federal em 10 de agosto de 2016.  Nela, APIB e CNS estabelecem como pauta comum inicial  “a luta pela garantia , reconhecimento, proteção e ampliação dos territórios tradicionalmente ocupados” pelas populações indígenas e extrativistas em todos os biomas e regiões brasileiras.

As demais bandeiras e estratégias de luta serão construídas “por meio do diálogo e da articulação pelas bases, para que as comunidades locais possam contribuir na elaboração da lista de demandas comuns para os povos indígenas e para as populações extrativistas, para que possamos chegar ao um Plano de Ação Conjunto” explica Kleber Karipuna, da APIB.

tucum aliança

Edel Moraes, vice-presidenta do CNS, acrescenta que a questão da violência é um outro tema que exige a articulação e a ação conjunta:  “Sofremos as mesmas ameaças como povos indígenas e populações tradicionais”, diz Edel,  que completa:  “nossa união é necessária pra  gente poder ser mais fortes e poder enfrentar esse modelo que tanto nos mata, nos oprime e viola a nossa vida, os nossos territórios, os nossos modos de vida”.

Para Eliseu Lopes, do povo Guarani-Kaiowá do Mato Grosso do Sul, essa nova união entre indígenas e seringueiros será importante para dar visibilidade à luta também no Mato Grosso do Sul:  “Nós também, como Aty Guassu, esperamos  fortalecer nosso movimento e nossa luta, porque nosso objetivo  é defender a vida”.

Ao endossar a iniciativa, Toya Manchineri, da Coordenação das Organizações Indígenas do Brasil (COIAB), citando a Aliança dos Povos da Floresta, articulação consolidada por lideranças e indígenas e seringueiras  logo após o assassinato de Chico Mendes (22-12-1988), a partir de Rio Branco, no Acre, no início de 1989, atribui ao trabalho conjunto dos povos da floresta na Aliança a conquista de um dos maiores sonhos do Chico Mendes, as Reservas Extrativistas.

Ângela Mendes, filha de Chico e dirigente do CNS, celebra “essa  nova aliança, sobretudo agora, nesse momento em que o Brasil, de novo, enfrenta o poder do latifúndio, que matou meu pai, e o retrocesso político de uma elite que fará de tudo para barrar nossas conquistas”.

Em uníssono, as lideranças indígenas e extrativistas expressam um só compromisso: unir forças. Afinal, “um palito sozinho qualquer um quebra com a mão, já dez palitos ninguém quebra não,” conclui Manoel Cunha, do Conselho Nacional dos Seringueiros.

O próximo passo desta iniciativa será, segundo a coordenação, a realização de uma reunião de planejamento estratégico para estruturação de um plano de lutas e de uma plataforma de ação.  Abaixo, a “Carta de Brasília”, na íntegra:

 

Carta pela unificação das lutas CNS-APIB

 

ANOTE AÍ:

Tucum é o nome de uma palmeira nativa da Amazônia, de cujo fruto se faz o Anel de Tucum,  com frequência utilizado por lideranças de movimentos sociais e pessoas solidárias como símbolo de seu compromisso com as lutas dos oprimidos e excluídos. Diz a história que  o anel tem sua origem no tempo do Brasil Império, quando jóias feitas de ouro e outros metais nobres eram utilizados em larga escala por membros da elite dominante para ostentarem sua riqueza e poder. Os negros e índios, não tendo acesso ao ouro, criaram o anel de tucum como um símbolo de pacto matrimonial, de amizade entre si e também de resistência na luta por libertação. Era um símbolo clandestino cuja linguagem somente eles compreendiam. Embora o anel de tucum, tenha sido originalmente criado para simbolizar o matrimônio entre escravos e índios, atualmente, em meios cristãos, o anel é usado para representar a preocupação com causas populares, e pela igualdade. Em tempos mais recentes, o anel de tucum deu nome ao documentário dirigido por Conrado Berning, em 1994.

pedro www.cebi.org.br

No filme, o bispo católico Dom Pedro Casaldáliga explica: “Este anel é feito a partir de uma palmeira da Amazônia. É sinal da aliança com a causa indígena e com as causas populares. Quem carrega esse anel significa que assumiu essas causas. E, as suas conseqüências. Você toparia usar o anel? Olha, isso compromete, viu? ”

 

Foto: pedrodoaraguaia.blogspot.com

Fonte: berakash.blogspot.com.br

 

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