Natex: A camisinha da floresta
Em Xapuri, terra de Chico Mendes, a única fábrica no mundo a produzir preservativos masculinos com látex nativo, a Natex gera ocupação e renda no coração da floresta.
Por Zezé Weiss
Ao produzir preservativos masculinos com látex de seringais nativos em Xapuri, no Acre, a Natex valoriza o agroextrativismo, gera ocupação e renda no coração da floresta e promove a saúde pública, especialmente entre a juventude brasileira. Segundo estudos as camisinhas feitos com látex nativo são mais resistentes do que as feitos por latéx de cultivo.
O projeto, desenvolvido pelo governo do Acre, em parceria com o Programa Nacional de Prevenção às Doenças Sexualmente Transmissíveis – DST/AIDS – do Ministério da Saúde e com as comunidades extrativistas da região, resgata uma ideia do líder sindicalista e ambientalista Chico Mendes que, na década de 1980, teria defendido a criação da fábrica como forma de gerar renda para manter as famílias vivendo e trabalhando na própria floresta.
Inaugurada em abril de 2008 pelo então governador Binho Marques, a Natex é um empreendimento sem fins lucrativos, voltado para objetivos tecnológicos, sociais, econômicos ambientais e de saúde pública, financiado pelo governo do estado do Acre e pelo governo federal.
Coordenada pela Fundação de Tecnologia do Estado do Acre (Funtac), a fábrica produz cerca de 200 milhões de camisinhas por ano e gera cerca de 200 empregos (97% para seringueiros/as e membros da comunidade local), a um salário médio de R$ 1,5 mil mensais.
“Ao pagar o preço justo pela matéria-prima – o empreendimento consome cerca de 250 toneladas de borracha seca por ano –, a Natex melhorou a qualidade de vida na floresta, especialmente entre as cerca de 700 famílias dos assentamentos agroextrativistas da Reserva Chico Mendes, composta por 28 comunidades moradoras em um raio de 150 km dentro da própria Reserva”, diz Nilson Mendes, líder seringueiro da região.
Depois de desenvolver as pesquisas e a tecnologia para adequar o látex nativo dos seringais acreanos à produção de camisinhas masculinas, a Funtac submeteu o material a testes rigorosos até chegar a um produto muito resistente e de excelente qualidade, que é distribuído gratuitamente pelo Ministério da Saúde nas regiões Norte e Centro-Oeste do Brasil.
Segundo o deputado federal acreano Raimundo Angelim, a Natex se prepara para aumentar a produção de camisinhas para atender mais amplamente ao mercado brasileiro – somente o Ministério da Saúde distribui cerca de 500 milhões de preservativos masculinos por ano –, e também para produzir luvas cirúrgicas e, com isso, gerar mais ocupação e renda no coração da floresta.
Ainda segundo Angelim, o governo do Acre, por determinação do governador Tião Viana, e o Ministério da Saúde encontram-se em fase final de organização do convênio que permitirá a duplicação da produção da Natex. Com esse convênio, a fábrica acreana, que hoje produz cerca de 100 milhões de unidades de preservativos por ano, passará a produzir cerca de 40% da demanda do governo federal.
Fotos: agencia.ac
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