Neymar pode ser inocente, mas Datena não

Neymar pode ser inocente, mas Datena não

Por: Joaquim Carvalho/diariodocentrodomundo

No caso da brasileira que acusa Neymar de estupro, não há dú de que houve uma violação. E ele foi cometida pelo jornalista José Luiz Datena, do Urgente, da TV Bandeirantes.

Não se está falando sobre as violações previstas no Código Penal, mas nas condutas éticas. Datena ouviu o pai de Neymar e deu o seu veredito: a moça é culpada.

E ali mesmo, no tribunal da mídia que ele comanda sem ter que dar satisfação a ninguém, decidiu aplicar a pena: o linchamento da .

Divulgou o duas vezes, apesar do boletim de ocorrência registrado por ela omitir a identificação, de acordo com o que prevê um medida do Tribunal de de , o provimento 32/2000, que estabelece:

“Quando vítimas ou testemunhas reclamarem de coação, ou grave ameaça, em decorrência de depoimentos que devam prestar ou tenham prestado, Juízes de Direito e Delegados de Polícia estão autorizados a proceder conforme dispõe o presente provimento.

As vítimas ou testemunhas coagidas ou submetidas a grave ameaça, em assim desejando, não terão quaisquer de seus endereços e dados de qualificação lançados nos termos de seus depoimentos. Aqueles ficarão anotados em impresso distinto, remetido pela Autoridade Policial ao Juiz competente juntamente com os autos do inquérito após edição do relatório. No Ofício de Justiça, será arquivada a em pasta própria, autuada com, no máximo, duzentas folhas, numeradas, sob responsabilidade do Escrivão.”

Como a mídia brasileira não está submetida a nenhum tipo de controle, Datena decidiu passar por cima de um norma legal, que se aplica ao rito do processo, não o da imprensa. A consequência foi imediata. A mulher, apresentada como modelo, está sendo achincalhada na rede social.

Um exemplo é o de Tadeu Ramos, aposentado que mora em Cabo Frio. Ele postou a foto da jovem e escreveu:

Por motivo de extorsão estou sendo obrigado a expor minha vida e família…Neymar.

Para quem quiser saber, Najila Trindade o nome da menina, foto dela ai !!

Um detalhe não menos importante, porque revelador de sua personalidade: o sujeito é um bolsonarista, conforme conta em seu facebook.

A matilha foi atrás da presa e começaram os comentários agressivos.

“Pois é! A freirinha pega um avião em São Paulo para Paris com a ideia de ler a Bíblia para o cara. GOLPE”, disse um.

“Vadia!”, gritou outra.

“Sai chuteira.. Querendo mamar nas tetas teve uma dessas que rodou feio heim”, agrediu mais um.

A repercussão foi grande, na mesma linha.

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No caso da brasileira que acusa Neymar de estupro, não há dúvida de que houve uma violação. E ele foi cometida pelo jornalista José Luiz Datena, do Brasil Urgente, da TV Bandeirantes.

Não se está falando sobre as violações previstas no Código Penal, mas nas condutas éticas. Datena ouviu o pai de Neymar e deu o seu veredito: a moça é culpada.

E ali mesmo, no tribunal da mídia que ele comanda sem ter que dar satisfação a ninguém, decidiu aplicar a pena: o linchamento da mulher.

Divulgou o seu nome duas vezes, apesar do boletim de ocorrência registrado por ela omitir a identificação, de acordo com o que prevê um medida do Tribunal de Justiça de São Paulo, o provimento 32/2000, que estabelece:

“Quando vítimas ou testemunhas reclamarem de coação, ou grave ameaça, em decorrência de depoimentos que devam prestar ou tenham prestado, Juízes de Direito e Delegados de Polícia estão autorizados a proceder conforme dispõe o presente provimento.

As vítimas ou testemunhas coagidas ou submetidas a grave ameaça, em assim desejando, não terão quaisquer de seus endereços e dados de qualificação lançados nos termos de seus depoimentos. Aqueles ficarão anotados em impresso distinto, remetido pela Autoridade Policial ao Juiz competente juntamente com os autos do inquérito após edição do relatório. No Ofício de Justiça, será arquivada a comunicação em pasta própria, autuada com, no máximo, duzentas folhas, numeradas, sob responsabilidade do Escrivão.”

Como a mídia brasileira não está submetida a nenhum tipo de controle, Datena decidiu passar por cima de um norma legal, que se aplica ao rito do processo, não o da imprensa. A consequência foi imediata. A mulher, apresentada como modelo, está sendo achincalhada na rede social.

Um exemplo é o de Tadeu Ramos, aposentado que mora em Cabo Frio. Ele postou a foto da jovem e escreveu:

Por motivo de extorsão estou sendo obrigado a expor minha vida e família…Neymar.

Para quem quiser saber, Najila Trindade o nome da menina, foto dela ai !!

Um detalhe não menos importante, porque revelador de sua personalidade: o sujeito é um bolsonarista, conforme conta em seu facebook.

A matilha foi atrás da presa e começaram os comentários agressivos.

“Pois é! A freirinha pega um avião em São Paulo para Paris com a ideia de ler a Bíblia para o cara. GOLPE”, disse um.

“Vadia!”, gritou outra.

“Sai Maria chuteira.. Querendo mamar nas tetas teve uma dessas que rodou feio heim”, agrediu mais um.

A repercussão foi grande, na mesma linha.

Pelo teor das conversas divulgadas por Neymar, neste domingo, percebe-se que houve de fato um relacionamento virtual em que fica claro o propósito de ambos: sexo.

Há indicações de que se conheceram pela rede social, já que ela pergunta a ele, mais de uma vez, se não é um perfil fake.

Neymar ri. E as conversas evoluem. A modelo diz:

“Já pedi pra Deus pelo menos uma oportunidade pra amar vc. Por um dia inteirinhoooooooo”.

Ele responde:

“Vem pra Paris”.

Ela comenta:

“Vou pra Alemanha em abril. Vou tentar fugir pra Paris. Ahahah”.

“Tentar?”, pergunta Neymar.

Mais adiante, dias depois, o jogador pergunta:

“Quando vem me ver?”

“Meio do ano. Se vc merecer”, responde ela.

Em outro momento, a modelo diz:

“A baianinha aqui tá juntando grana pra isso. Qm sabe vc não aparece pelo Brasil antes”.

Neymar, então, propõe:

“Posso te ajudar nisso”.

“Sou um pouco orgulhosa quanto a isso, mas opor em ir te ver eu não vou. Confesso rs”, ela responde.

Neymar posta uma figurinha e arremata:

“Então bora”.

As conversas seguem até que ela avisa que já está em Paris.

Pelo que Neymar postou, faltam conversas, como as informações sobre como ela recebeu as passagens e as reservas.

Talvez o jogador tenha querido preservar alguém. Segundo relato prestado por ela à Polícia, foi o ex-jogador Gallo quem intermediou tudo.

Há um um ex-jogador de nome Gallo que foi treinador das categorias de base da Seleção Brasileira e deu demonstrações públicas de amizade com Neymar, através de postagens na rede social.

Na conversa que divulgou, Neymar expões fotos íntimas da modelo e um diálogo no dia seguinte ao do primeiro encontro deles, no hotel. Fica claro que fizeram sexo, depois de Neymar, a caminho do encontro, contar que estava bebendo.

“Meio bêbado”, avisa.

No dia seguinte, combinam de se encontrar de novo.

A última mensagem divulgada por ele é da modelo:

“Vc não vem e tá dando mancada me deixando esperando”.

Ainda que seja verdadeira a hipótese de que Neymar está sendo vítima de armação, não caberia a Datena sentenciá-la.

É compreensível a preocupação do pai dele, expressa na entrevista, de que precisava reagir dura e rapidamente para preservar a imagem do filho — que significa muito dinheiro.

Do ponto de vista dele e de Neymar, divulgar o conteúdo da conversa é um procedimento aceitável para quem está sendo acusado de um crime grave, estupro.

Incompreensível, sob qualquer ponto de vista, é o comportamento do jornalista Datena. Ele, sem dúvida nenhuma, estuprou o direito da modelo de não ser exposta.

A tentativa de que ela tentou extorquir dinheiro do jogador é, por enquanto, uma denúncia, a de Neymar e do pai dele. E não justifica divulgar o nome dela.

Datena se antecipou à Justiça e fez o que se tornou rotina em programas como os dele: uma arena para a barbárie.

Se Neymar fosse pobre e acusado de estupro, Datena já estaria pedindo a prisão dele, independentemente das provas.

Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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