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No Rio Pagão

No Rio Pagão
 
Por Edel Moraes 
 
No rio Pagão a Sexta Feira Santa!
Ainda lembro de minha infância.
Quinta feira o almoço da sexta temperado.
A castanha do Pará descascada.
Apesar de ser TEMPO de jejum.
Não sabíamos o que era isso.
Tempo de reunir as famílias.
A bença: meu pai, minha mãe, meu padrinho e madrinha e pedido de perdão.
Pelas travessuras cometidas.
É dia de silêncio.
Deus está triste.
Seu filho foi imolado.
Não faz barulho
O nosso senhor tá sofrendo.
Ele tem dor de cabeça.
O alerta no olhar dos nossos pais
Nada precisava ser falado.
Se não se comportar
Amanha, aleluia vai rolar.
Fica quieto.
A minha infância eu recordo.
Os pratos de alimentos doados, trocadas entre os vizinhos.
A prova da multiplicação dos peixes e dos pães, não tem milagre abracadabra.
É a união que multiplica o pão.
A reza demorada: sentida sofrida nos cantos cantados.
“Cortaram madeira fizeram uma cruz para meu Salvador.
Madeiras lavradas com pregos cravadas pesada ficou”
Em silêncio
Se ajoelha aos pés do nosso senhor.
Continuidade dos encontros.
Sexta feira santa
É dia do silêncio.
Dia de perdoar
Dia de ir na casa dos padrinhos e madrinhas almoçar.
Dia do sabor da terra aproveitar.
De mingau de arroz, com castanha do Pará.
Tem sentido de família reunida.
Peraltices escondidas ( se não tivesse ) que graça teria o Sábado da Aleluia.
Sexta Feira Santa.
É lembrança da minha infância
Maré grande.
Pira pega no rio;
Tú é a mãe.
Pilates/ meditação/ exercício do corpo e da alma.
Era tudo diversão sem nada de nomes estranhos.
Sexta Feira Santa da Paixão
Memórias de minha infância no PAGÃO
Hoje Batizado de BOA ESPERANÇA
E eu te BENDIGO Pagão da minha Infância ” santa” no rio pagão.
 
 
 
Edel Moraes – Cabocla Marajoara.
 
Nota da Autora: Pagão é um rio/uma comunidade em torno de 60 famílias, batizada pela igreja de Boa Esperança. E pelo INCRA faz parte de 2 assentamentos Agroextrativistas: PAE. SÃO JOÃO E PAE CALHEIRA.(outra longa história). Publiquei esta memória incentivada por  Carlos Augusto Ramos meu amigo. Belém, 10 de abril de 2020.
 
 

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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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