Poluição dos lixões é maior que a de um vulcão

dos lixões é maior que a de um vulcão

Por Equipe eCycle

Gestão correta de resíduos possibilitaria capturar gases poluentes, diminuindo efeito estufa e gerando eletricidade, ao ano, para uma cidade com 600 mil habitantes.

A permanência de lixões para descarte de lixo no  e a queima irregular de resíduos respondem por cerca de 6 milhões de toneladas de gases de efeito estufa ao ano (CO2eq), aponta levantamento do Departamento de Economia do Sindicato Nacional das Empresas de Limpeza Urbana (Selurb). O montante é o equivale ao gás gerado por 3 milhões de carros movidos a gasolina anualmente. O foi divulgado por ocasião do Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado hoje (5) e que tem como temática para 2019, por definição da Organização das Nações Unidas (ONU), a questão da “Poluição do Ar”.

O estudo também identificou um dado quase inimaginável: em 10 anos, os prejuízos causados à atmosfera pela falta de tratamento adequado do lixo no Brasil serão os mesmos que toda a atividade vulcânica no mundo em um ano. “É estarrecedor ver como a do poder público é capaz de criar problemas ambientais desta proporção. O Brasil sempre se considerou privilegiado por não ter que lidar com desastres naturais, como os provocados por vulcões, por exemplo. Mas convivemos com cerca de 3 mil lixões e com deficiências na coleta de resíduos domiciliares que levam à população que vive longe dos grandes centros a queimar seu lixo. Ou seja, acabamos criando uma espécie de ´vulcão´ para nossa atmosfera, e isso é prejudicial ao e à saúde da população, pois as partículas e substâncias provenientes da queima do lixo são extremamente ígenas aos seres humanos”, afirma Carlos Rossin, diretor de Sustentabilidade e Relações Institucionais do SELURB.

De acordo com o estudo, a emissão dos gases resultantes da queima de lixo nos depósitos irregulares é equivalente ao movimento anual de uma frota superior a 130 mil carros. Já a produção de gás metano (CH4) oriundo da decomposição dos resíduos dispostos em lixões, equivale quase ao impacto da atividade do vulcão Etna, na Itália, para o aquecimento global. Se esta quantidade fosse revertida em biogás para a produção de energia elétrica, seria possível abastecer por um ano toda a área residencial de uma cidade com 600 mil habitantes.

O levantamento analisou separadamente os efeitos dos diferentes tipos de emissão de gases. No que diz respeito ao gás carbônico, as estimativas foram feitas com base na fórmula adotada pelo IPCC (Painel Intergovernamental sobre ), da Organização das Nações Unidas. De acordo com o órgão, 30% do lixo é composto por resíduos secos, dos quais 60% são materiais como madeira, papel e plástico, incluindo resíduos de fóssil. A partir destes dados, é possível medir o fator de oxidação, que calcula a porcentagem de carbono oxidado quando a combustão ocorre, já descartando o que permanece como cinza ou fuligem.

No Brasil, segundo o IBGE, estima-se que cerca de 7,9% do total de resíduos gerados são queimados na própria residência da população. Considerando que cerca de 78,4 milhões de toneladas de resíduos foram geradas no país em 2017, podemos dizer que aproximadamente 6 milhões de toneladas de resíduos foram incinerados ilegalmente. Assim, chegou-se ao resultado de que a queima de lixo realizada irregularmente em território nacional é responsável pela geração anual de 256 mil toneladas de CO2.

Já quanto à decomposição da matéria orgânica, a situação é ainda mais crítica, pois o gás metano é 28 vezes mais impactante para o aquecimento global do que o dióxido de carbono, de acordo com o IPCC. Além disso, trata-se de um gás incolor e sem cheiro, o que potencializa seu perigo para o .

“Um dos fatores mais preocupantes é que a produção de CH4 não cessa com a interrupção do despejo irregular de resíduos. O lixo destinado de maneira errada hoje pode deixar de emitir o gás definitivamente só daqui a 30 anos”, diz o economista Jonas Okawara, responsável pelo estudo. “O cálculo leva em consideração a quantidade acumulada de resíduos nos lixões, aplicando o fator de correção exponencial para ajustar o total acumulado em anos anteriores”, explica o pesquisador.

As estimativas são que, somente em 2017, 29 milhões de toneladas de lixo foram destinadas de forma irregular no Brasil. A emissão de metano proveniente deste descarte ilegal equivale a 216 mil toneladas por ano.

Geração de energia limpa

Se essa quantidade de resíduos fosse destinada para um aterro sanitário, que possui capacidade e tecnologia para transformar metano em biogás, seria possível produzir no “climas” da útil do aterro sanitário o equivalente à 1,7 bilhão de kWh ao ano – suficiente para abastecer com energia elétrica uma cidade de 600 mil habitantes.

Para os especialistas, apesar de alarmante e grave, é possível amenizar o impacto das emissões de gases provindos do lixo.

Para que o problema seja resolvido, é necessário promover a erradicação dos cerca de 3 mil lixões existentes no país e instalação de cerca de 500 aterros sanitários capazes de fazer toda a gestão dos resíduos. Após quase 9 anos da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que estabelecia o fim dos lixões em 2014, 53% das cidades brasileiras ainda destinam o lixo incorretamente para vazadouros clandestinos; a cobertura dos serviços de limpeza urbana (coleta porta a porta) está longe da universalização (76%); 61,6% dos municípios ainda não estabeleceram fonte de arrecadação específica para custear a atividade; e o índice de reciclagem no Brasil não passa dos 3,6%. Os dados são do Índice de Sustentabilidade da Limpeza Urbana (ISLU), desenvolvido pelo SELURB e pela PwC (PricewaterhouseCoopers).

“Para reverter este cenário, é preciso que instituir mecanismos de arrecadação específica para custear a operação dos aterros sanitários e incrementar a reciclagem e a universalização da coleta porta a porta; a exemplo do que ocorre com os serviços de água, luz, gás e telefonia. Além da racionalização dos custos por meio da inteligência de escala proporcionada pela adoção de soluções compartilhadas entre os municípios”, destaca Rossin.

As soluções apresentadas facilitariam a construção de mais aterros sanitários, compartilhados entre cidades menores e uma logística mais eficiente para que o material coletado fosse destinado com o devido tratamento nestas estruturas, podendo gerar energia limpa em vez de aquecimento global.

Fonte: eCycle


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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