O HOMEM VAI AOS POUCOS APRENDER COM SEU SOFRIMENTO

O homem vai aos poucos aprender com seu sofrimento

O homem vai aos poucos aprender com seu sofrimento

Antes de mais nada, precisamos aqui fazer uma reflexão dos termos apresentados no título deste artigo: “pró-existência” e “Modernidade Líquida”. Busca, deste modo, seguir duas lógicas para nossa reflexão: uma à luz da fé Teológica e outra, de suma importância, iluminada pela razão Filosófica. Tendo como base a pergunta: “como se dá a ‘pró-existência’ de Jesus Cristo na ‘Modernidade Líquida’”?

Por Pe Joacir D’Abadia

Numa busca rápida podemos dizer, segundo Everaldo Bon Robert, que: “Na trilogia “Jesus de Nazaré”, Ratzinger utiliza o termo “pró-existência”, cunhado pelo exegeta alemão Heinz Schürmann, afirmando que tal conceito apresenta não só um aspecto ou dimensão da vida de Cristo, mas a dimensão ou aspecto mais íntimo e integral, que possibilita ao homem entrar no seu mistério e compreender também o que significa ser seu discípulo, segui-lo. Pergunta-se, então, como Heinz Schürmann concebia a pró-existência. Segundo Schürmann, Jesus foi o homem que viveu totalmente descentralizado: viveu para “os outros” em dupla direção, vertical e horizontal: para o Pai e para os homens; fez de sua vida um serviço, uma entrega que chegou ao seu ápice na sua . Jesus não só redimirá a dos seus pecados, mas também, pelo seu exemplo pró-existente e abertura, libertará o Homem da escravidão do seu próprio “eu”.

Por outro lado, o filósofo da modernidade, Zygmunt Bauman na resenha do seu livro (disponível na internet) “Amor Líquido”, Editora Schwarcz – Companhia das Letras, em 2001 tem uma síntese: “A modernidade imediata é “leve”, “líquida”, “fluida” e infinitamente mais dinâmica que a modernidade “sólida” que suplantou. A passagem de uma a outra acarretou profundas mudanças em todos os aspectos da vida humana. Zygmunt Bauman cumpre aqui sua missão de sociólogo, esclarecendo como se deu essa transição e nos auxiliando a repensar os conceitos e esquemas cognitivos usados para descrever a experiência individual humana e sua história conjunta”.

Então frente aos dois pensamentos filosóficos e teológicos temos que “O Senhor Jesus viveu a Sua morte como auto-abandono, como entrega total de Si ao Pai pelos homens – Sua morte foi um sacrifício, uma entrega sagrada, a conclusão e síntese de uma vida vivida como ‘pró-existência’: “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar (entregar) a próxima vida em resgate de muitos” (Mc 10,45). “Eu entrego a Minha vida, para depois retomá-la novamente. Ninguém Ma toma: Eu a ofereço por Mim mesmo (Jo 10,17s). Como ensinou Dom Henrique Soares, o qual segue a dizer:

“A vida do Senhor Jesus foi toda ela auto-doação ao Pai e aos homens. Todo o seu caminho no nosso foi palmilhado como ‘pró-existência’: existência doada, existência toda para o Pai e, no amor do Pai, toda para os homens, para a Vida do mundo. Ora, tal autor-doação manifesta-se plenamente, de modo radical e definitivo, no ministério da Cruz”.

Mesmo que tenha que aprender na dor, no desalento, mas, claro, cada pessoa tira alguma lição de tudo quanto passa.

Nalgum dia desses eu escrevi um artigo intitulado como “Saudades de Salvar a vida” e publicado no site www.saojosefsa.com.br onde pontuei: “Seu “eu” é supervalorizado tornando muito maior do que você mesmo. Reflete, todavia, um egocentrismo, o “eu” como representado por mim mesmo: como eu sinto, como eu gosto, como eu sou. Vou ansiando a mim mesmo, desejando que eu mesmo me basto. Curvo-me diante dos meus valores e aqueles outros os quais ainda irei construir em meu benefício”.

Nesta maneira do homem se colocar no centro de tudo onde o dinheiro e a ganância de se ter mais e mais feria a relação com as pessoas, pois cada um valia o que tinha: agora, todavia, cada um vale o que é. Não adianta ter influência, ser autoridade, acumular títulos acadêmicos, usufruir de grandes posses na . Tudo por ora é tão somente isso: estar consigo mesmo; almejar a “pró-existência”, deixar ao abandono “a modernidade líquida” que tanto ensina o homem viver outra vida que não seja a vida do próprio sujeito. Cria, com isso, um homem intocável, inatingível, cheio de si, autossuficiente dos outros e até mesmo de Deus. Realmente esta “liquidez” tira do homem seu sofrimento. Tão seguro de si mesmo que não se permite sofrer por nada.

O sofrimento, portanto bate no coração do homem que nunca conseguiu escutar a si mesmo, jamais se relacionou com seu próprio “eu”. Isso tudo deixa o homem sem ele mesmo pois nunca o teve como seu próprio. As pessoas repetidamente estavam vivendo para os outros, seguindo a que outro ditava: como se vestir, como se calçar; o modo como se devia cortar e pentear o cabelo. Até as decisões primordiais da vida deveriam ser tomadas a partir de um outro. Então, quando dói na existência o vácuo do sofrer se descobre que o homem sem Jesus Cristo fica desconfortável com toda falsa segurança que ele criou para si mesmo não restando outra opção senão reclinar a cabeça no silêncio dos dias sombrios na escrita do seu “eu” mais límpido, aquele que floresce diversas vezes em cada novo recomeço, sem vaidade com os bens adquiridos, mas consistente com o caminho percorrido para se descobrir, em meio aos outros, sendo ele mesmo.]

Padre Joacir D’Abadia é author de vários , filósofo, pároco da Igreja São José Operário em -Goiás. Membro de várias Academias Literárias e Membro da ALANEG – Academia de Letras e Artes do Goiano.


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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