Pesquisar
Close this search box.
O que fazer para evitar a escassez de alimentos?

O que fazer para evitar a escassez de alimentos?

O que fazer para evitar a escassez de alimentos?

É preciso conter a ganância e apoiar efetivamente, não apenas no discurso, os movimentos que visam evitar o pior…

Por Renê Gardim/via Jornalistas Livres

O Brasil deve bater o recorde na produção de grãos neste ano, chegando a 288,61 milhões de toneladas. A previsão é da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) que é endossada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

É bom lembrar que esse recorde não significa mais comida na mesa do brasileiro. E por dois motivos: trata-se basicamente de milho e soja para a exportação ou para alimentar animais que, abatidos, acabam na mesa da população de outros países.

Há alguns anos, a agricultura brasileira vem batendo recordes sucessivos na produção desses grãos. E, justiça seja feita, nós produzimos alimentos suficientes para alimentar cinco vezes a nossa população. Falo de arroz, feijão, verduras, legumes, carnes, frutas.

Mas onde quero chegar? Toda essa bonança pode estar com os dias contados. E não estou falando simplesmente das catástrofes que assistimos ultimamente em todo o mundo, com recordes de temperatura, temporais, nevascas e furacões.

Há tempos, os cientistas alertam para os riscos das mudanças no meio ambiente provocadas por nós, seres humanos. E um relatório do Intergovernmental Panel on Climate Change (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) – IPCC mostra que o tempo para mitigar os efeitos da ação da humanidade no planeta acabou.

Não adiantam planos de redução de emissões com prazo de dez, 20 anos.

E este estudo é bastante sério. Afinal, formado por cientistas de diversos países, o IPCC é uma das instituições do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (ONU Meio Ambiente) e da Organização Meteorológica Mundial (OMM) criada em 1988 com o objetivo de fornecer aos formuladores de políticas públicas avaliações científicas regulares sobre a mudança do clima, suas implicações e possíveis riscos futuros, bem como para propor opções de adaptação e mitigação.

Atualmente, o IPCC possui 195 países membros, entre eles o Brasil.

Esse é o sexto relatório do IPCC e é o que mais preocupa. Tanto que, a partir do dia 14 deste mês, governos irão se reunir para analisar o levantamento e publicar a versão final da avaliação.

Afinal, as catástrofes que atingiram tanto os países pobres como os mais ricos são a parte mais visível do que está acontecendo. As mudanças drásticas, que ficam cada vez mais claras, afetam a previsibilidade do clima, fundamental tanto para a agricultura como para a pecuária extensiva praticada no Brasil.

Não tendo estações bem definidas com períodos chuvosos, outros com sol e seca para as plantas crescerem, os frutos madurarem e a grama também crescer, a agropecuária fica inviabilizada.

Desta forma, o relatório decreta que a questão climática deixa definitivamente de ser algo para ambientalistas e governos para se tornar um problema de todos. E não adianta os produtores rurais baterem no peito e dizerem que conseguiram, com a apropriação das tecnologias, aumentar a produção em um percentual muito maior que o desmate.

Ou seja, hoje, produzem mais praticamente na mesma área de décadas atrás. Agora é preciso que todos, principalmente os proprietários rurais, saiam em socorro das florestas. Já temos a técnica da integração agricultura, pecuária e floresta. No entanto, o número de proprietários que aderiram à prática, que se mostrou extremamente eficiente, ainda é ínfimo. E essa é uma boa saída. Mas não a única. É preciso conter a ganância e apoiar efetivamente, não apenas no discurso, os movimentos que visam evitar o pior.

Devemos redefinir a forma como usamos e produzimos energia, fazemos e consumimos bens e serviços e administramos nossas terras. Afinal, já temos certeza de que não escaparemos dessa sem enfrentar grandes prejuízos.

Block

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

0 0 votos
Avaliação do artigo
Se inscrever
Notificar de
guest
0 Comentários
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários

Parcerias

Ads2_parceiros_CNTE
Ads2_parceiros_Bancários
Ads2_parceiros_Sertão_Cerratense
Ads2_parceiros_Brasil_Popular
Ads2_parceiros_Entorno_Sul
Ads2_parceiros_Sinpro
Ads2_parceiros_Fenae
Ads2_parceiros_Inst.Altair
Ads2_parceiros_Fetec
previous arrowprevious arrow
next arrownext arrow

REVISTA

REVISTA 113
REVISTA 112
REVISTA 111
REVISTA 110
REVISTA 109
REVISTA 108
REVISTA 107
previous arrowprevious arrow
next arrownext arrow

CONTATO

logo xapuri

posts recentes