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Brasília: escola com gestão militar apaga “Mural da Inclusão” de Mandela

Brasília: escola com gestão militar apaga “Mural da ” de Mandela

Frase do ex-presidente da África do Sul também foi coberta com tinta branca. Direção afirma que mudanças foram pedidas pela Polícia Militar

Por: Marília Marques no G1

Um grafite com o rosto do ex-presidente da África do Sul Nelson Mandela, ícone da luta pela , foi apagado em Brasília na última semana. A parede que abrigava a obra ficava no pátio interno do Centro Educacional 1, na Estrutural – umas das escolas que terá educação militar em 2019.

As mudanças, segundo a diretora da escola, Estela Accioly, foram feitas à pedido da Polícia Militar. A corporação assumiu a gestão da unidade nesta segunda (11), no primeiro dia do ano letivo da rede pública.

“Mudou todo o layout da escola desde que entrou a gestão compartilhada [com a PM]. Nos disseram que a ideia é mostrar para comunidade que também haverá uma mudança ‘de fora para dentro’”, afirma a diretora.

“Perguntaram se podiam pintar, para deixar no padrão de colégio da PM.”

G1 entrou em contato com a corporação e questionou os motivos das mudanças. Em resposta, a PM do DF informou que “não participou da decisão”, e não deu maiores detalhes sobre a reforma realizada no colégio.

Rosto de Nelson Mandela grafitado no CED 1 da Estrutural %E2%80%94 Foto Ana Elisa SantanaArquivo pessoal
Rosto de Nelson Mandela grafitado no CED 1 da Estrutural — Foto- Ana Elisa Santana:Arquivo pessoalAlém do desenho do rosto, uma frase de autoria de Mandela também foi apagada. Os dizeres sobre educação e mudança foram pintados por um grupo de artistas voluntários do Paranoá, no fim do ano passado.Segundo funcionários do colégio, a mensagem era uma espécie de “frase de motivação dedicada aos alunos”.

“Educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o ”, dizia o texto.

Já na parte externa da escola, o que era um “mural da inclusão”, também pintado por artistas da região, se tornou um muro branco. Agora, ele estampa o nome do “Colégio da Polícia Militar” em letras garrafais.
A direção da escola informou que a anterior era composta por desenhos de crianças obesas, cadeirantes e/ou com algum tipo de deficiência. “Os alunos se identificavam e se sentiam representados”, afirma Estela.

“Queríamos aproximar nossos estudantes, e mostrar que a escola é para todos.”

Apesar de se dizer “triste” com a pintura do muro, a diretora afirma que a “educação inclusiva vai continuar no pedagógico”, com ações de consciência racial e respeito à .
Para a comunidade escolar, a nova pintura do muro divide opiniões. No local, o G1 conversou com pais de alunos e alguns estudantes.
A manicure Maria Francisca da disse à reportagem que considerava a pintura anterior “importante para as crianças se sentirem representadas”.

“Desse jeito está adequada também, mas se fosse voltar ao outro desenho, seria bom. As crianças vinham ver e se sentiam à vontade”.

O projeto implementado nesta segunda-feira (11) no CED 1 ocorre também em outras três escolas do DF: em Ceilândia, Recanto das Emas e Sobradinho.
Segundo o GDF, essas regiões foram escolhidas para abrigar a iniciativa porque apresentam “alto índice de criminalidade” e têm estudantes com “baixo desempenho” escolar.
Caso o projeto piloto apresente bons resultados, a ideia deve ser incorporada em outras 36 escolas do DF. O custo para aplicação da proposta em cada escola é orçado em R$ 200 mil por ano. Essa despesa deverá ser custeada pela Secretaria de Pública.

Homens pintam muro do CED 1 na Estrutural após convênio de gestão compartilhada entre secretarias de Educação e Segurança
Homens pintam muro do CED 1 na Estrutural após convênio de gestão compartilhada entre secretarias de Educação e Segurança — Foto- Verson Ribeiro:Acervo Tv Globo

Nessas escolas, os estudantes não poderão usar brincos, pulseiras ou outros adereços grandes. Só as meninas podem usar brincos e colares – se forem pequenos e discretos.

Nesta segunda (11), parte dos alunos já recebeu uma camisa branca. O uniforme militar deve ficar pronto em dois meses.

Paredes do CED 1, na Estrutural, foram pintadas de branco no 1º dia de educação militar na escola
Paredes do CED 1, na Estrutural, foram pintadas de branco no 1º dia de educação militar na escola — Foto- Marília Marques:G1Fonte: https://www.geledes.org.br/mural-com-rosto-de-mandela-e-apagado-em-escola-que-adotara-gestao-militar-no-df/
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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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