Discurso de Temer na ONU mascara realidade amazônica, diz Observatório do Clima
Praticamente, uma peça de ficção, “que só se sustenta em páginas de discursos.” Em uma reação dura ao discurso do presidente Michel Temer na Assembleia Geral da ONU sobre os avanços do Brasil nas questões de meio ambiente e mudanças climáticas, vários especialistas do Observatório do Clima consideraram que no Brasil, o sétimo maior emissor de gases estufa do planeta, as florestas e as áreas protegidas nunca foram tão ameaçadas quanto nos últimos meses de ofensiva contra o meio ambiente por parte do governo Temer.
As ameaças vêm, principalmente, para colocar em risco o patrimônio de biodiversidade e as populações indígenas e extrativistas da floresta amazônica, por meio da tentativa de reduzir as unidades de conservação por meio de Medidas Provisórias, e da autorização de mineração em plena floresta amazônica por meio de decretos, como o que aconteceu recentemente com o decreto de extinção da Reserva Nacional do Cobre e Associados, a RENCA, atualmente suspenso por pressão da sociedade brasileira.
Um resumo das jornalistas Solange A. Barreira e Fabiana Pereira, da www.pbcomunica.com.br sintetiza o pensamento expressado pelas principais lideranças do Observatório do Clima:
André Ferretti, gerente na Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, coordenador-geral do Observatório do Clima e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza
“Ao afirmar que o Brasil deve se preocupar em desenvolver uma economia de baixo carbono e com a proteção da cobertura de florestas, o presidente Temer oculta as recentes atividades realizadas por seu governo. Nossas florestas e áreas protegidas nunca foram tão ameaçadas como nos últimos meses, seja por Medidas Provisórias que propõem a redução de unidades de conservação, seja por decretos que permitem atividades de mineração em plena floresta amazônica. Essas ações, que atendem ao interesse de uma minoria que detém poder no Congresso, põem em risco justamente o que se diz ser a maior riqueza do Brasil – o agronegócio. São exatamente os produtores rurais que necessitam dos serviços prestados por áreas naturais preservadas. Não se pode ignorar também a questão de segurança da sociedade, diante dos recentes eventos climáticos extremos. A melhor maneira de amenizar seus danos é por meio de de proteção e do restauro de ecossistemas. E a conduta de Temer não parece estar alinhada com seu discurso.”
Maurício Voivodic, secretário-executivo do WWF Brasil
“O Brasil é o sétimo maior emissor de gases de efeito estufa do planeta, e as últimas medidas propostas ou sancionadas pelo presidente Temer não contribuem para mudar esse cenário. Muito pelo contrário, colocam o país e o mundo em risco. Os dados oficiais produzidos pelo Inpe apontam que no ano de 2016 tivemos a maior alta do corte raso na Amazônia desde 2008 – perdemos quase 8.000 quilômetros quadrados de floresta – e boa parte em Unidades de Conservação. Além disso, estamos perdendo cobertura nativa no cerrado a uma velocidade tremenda: foram 9.483 quilômetros quadrados de vegetação desmatada em 2015. Isso equivale a mais de seis cidades de São Paulo e supera em 52% a devastação na Amazônia no mesmo ano. O que espera do governo brasileiro é uma política pública estruturada de combate ao desmatamento, na Amazônia e em todo país, dialogada com a sociedade.”
Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima:
“Como todos imaginavam, o presidente Michel Temer tentou passar aos líderes mundiais uma imagem do Brasil sobre meio ambiente e mudanças climáticas que só se sustenta em páginas de discursos. Ele escondeu as altíssimas taxas de desmatamento, os números absurdos de incêndios florestais em todas as regiões do país e a escalada de violência contra povos indígenas e lideranças comunitárias, batendo recordes de assassinatos, que são resultado direto da destruição da agenda socioambiental do país em troca de votos da bancada ruralista. Retrocessos que só podem ser comparados aos promovidos pelo governo de Donald Trump nos EUA.”
ANOTE AÍ:
Esta informação nos foi gentilmente cedida por:
Solange A. Barreira + 55 11 98108-7272
Fabiana Pereira +55 11 99983-9941
Imagens: Capa: Jornalistas Livres. Rio Juruá (interna): Alma Acreana