“Os fios de cabelo dizem a verdade”
Olhar para uma lagoa calma é o mesmo que se olhar no espelho e ver a profundeza dos olhares que se trocam: o olhar de si mesmo para consigo mesmo e dizer que valeu a pena a vida que se levou.
Por Eliane Potiguara
Isso é GRATIDÃO pela existência curta que se passa na Terra. É curvar-se à natureza e reconhecer a grandiosidade do modo análogo de uma célula humana e de um planeta.
Olhar para uma lagoa é reconhecer-se pequeno quando a humanidade é grande. É deixar rolar as lágrimas sufocadas pelo peso da escuridão, é buscar realmente o verbo, a palavra sufocada. Vivemos o estresse da dor, diz o condor. O humano virou covas abertas. As relações e os suores dos corpos amantes e febris esfacelaram-se ao chão.
E as partículas esvoaçantes que sobraram clamam unidade. Outros corpos saltitam no horizonte e pedem passagem. Os dedos dos pés querem voar como pássaros. As mãos se cruzam em nós sobre a lama. As cabeças rolam por fim. Os fios dos cabelos dizem a verdade: Tu trouxestes a desgraça, agora a leve embora por amor aos sapos.(…) “
Texto: Eliane Potiguara ( partícula de uma crônica urbana)


