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OXUM: A DONA DO ANO 2021

Oxum – A dona do ano 2021

Oxum é Deusa do amor, da beleza, da fertilidade, do dinheiro, do ouro e das pedras preciosas. É a Orixá do amor, da prosperidade, das riquezas espirituais e materiais da vida, da sensibilidade, da sabedoria, do jogo de Búzios e do empoderamento feminino 

Por Iêda Vilas-Bôas e Reinaldo Filho Vilas Boas Bueno

 Falar da Yabá Oxum, neste momento desafiador em que estamos vivendo, é como sermos presenteados com , com lírios amarelos e um dulcíssimo pote de mel, e ter dela a permissão de compartilhar dessa doçura com vocês!

O nome Oxum vem do Yorubá: Osun, Oshun ou Ochun. É uma Yabá (orixá feminina) que reina sobre as águas doces, rios e cachoeiras. É a deusa do rio Oxum, que fica no Sudoeste da Nigéria e corre, também, pelas terras de Ijexá e Ijebu.

Esta Orixá está ligada às riquezas espirituais e materiais da vida, da sensibilidade, da sabedoria, do jogo de Búzios e do empoderamento feminino. Oxum é cultuada como rainha da nação Ijexá. Tem o título de Iyálodê: a grande mãe entre os orixás.

Deusa da beleza, Oxum é a Orixá do amor, da prosperidade, da fertilidade e da maternidade. É responsável pela proteção dos fetos e das crianças recém-nascidas e, por isso, é muito adorada pelas mulheres que desejam engravidar. A orixá Oxum tem domínio sobre o líquido amniótico, a gravidez, sobre o feto, e sua proteção à criança estende-se até os 7 anos de idade, quando passa a responsabilidade ao orixá de cabeça

Oxum atua também na vida financeira e na prosperidade material, a que se deve sua denominação de “Senhora do Ouro”, que outrora era do cobre, por ser o metal mais valioso da época.

Conta a lenda que era comum que os Orixás masculinos se reunissem para discutir assuntos sobre a . Oxum sempre achou isso muito injusto, pois ela sabia que tinha sabedoria e poder suficiente para opinar sobre as questões dos homens. Mesmo insistindo com eles, nunca conseguiu espaço para se expressar.

Assim, como forma de ser ouvida e como última opção, ela decidiu usar a sua astúcia: Oxum tirou a graça e o poder da fertilidade de todas as mulheres e, dessa forma, nenhum homem haveria mais de nascer. No humano, Oxum rege o aparelho reprodutor e os hormônios, é Orixá da maternidade.

Percebendo a ausência dos nascimentos na Terra, os Orixás foram a Olorum (o grande Criador), para indagar a Ele o que estaria acontecendo. Olorum revelou o feitiço que Oxum havia feito. E que ele achava correto, a menos que os Orixás masculinos ouvissem também as Yabás para a tomada de decisões.

Oxum, aí, encarna todo o poder da maternidade e do poderio feminino. A partir de então, Oxum foi convidada a participar das reuniões e das decisões. Aparte na narrativa para refletirmos sobre a luta das mulheres – nada lhes é dado ou permitido, a não ser pela . Que as mulheres sejam de luta! Oxum nos ensina como lutar de forma inteligente e nos acalenta nos momentos de desafios. E nos impulsiona a lutar e a vibrar com amor e pelo amor.

A pandemia-Covid19 é um enorme desafio. Este ano de 2021 será regido por Oxum. Necessitamos de acreditar no arquétipo da deusa Oxum – deusa do amor – para o enfrentamento: amor por si, pelo semelhante, pelos parentes, pelos desconhecidos… Enfim, amar a todos sem distinção, sem partidarismo político, mas simplesmente nos amarmos, para sairmos juntos desse infortúnio.

Precisaremos aprender a lidar com as diferenças e divergências com sabedoria, com cautela e equidade, com honestidade, e assim buscarmos meios de atingir nosso objetivo: acabar com a maldita doença.

No Sincretismo, Oxum é Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do , Nossa Senhora da Conceição, também, tendo seu dia comemorado em 8 de dezembro. Na Bahia, é Nossa Senhora das Candeias. No Recife, Nossa Senhora dos Prazeres.

Mamãe Oxum, como é carinhosamente chamada, é responsável por nos acolher durante as tempestades emocionais e estará a postos, nos acompanhando em isolamentos eternos, no uso da incomodante máscara, nos lockdowns e em outras ações que se fizerem necessárias.

Será com a energia de Mamãe Oxum que teremos tranquilidade e orientação para escolhermos caminhos seguros e pacíficos, equilibrados e amorosos.

Outra lição de Mamãe Oxum para o próximo ano diz respeito à sororidade. Ela nos ensina que a mulher não pode viver refém da beleza e deixar que seus dotes físicos favoreçam o poder do homem, do patriarcalismo sobre cada mulher. Ela ensina que a mulher já é linda por , tenha o fenótipo que tiver, pois beleza vai além do físico. Ensina que será preciso que todas as mulheres se deem as mãos para combater o machismo, a misoginia, o feminicídio, o sexismo, o patriarcado e a supremacia masculina, principalmente neste governo que odeia as mulheres.

Que o espelho de Oxum, antes de ser objeto de vaidade, nos sirva para nossa introspeção. Que toda mulher possa mergulhar em si mesma, ver seu íntimo, se conhecer mais, se saber mais capaz e poderosa. Que o espelho de Oxum sirva de ferramenta para enfrentarmos os desafios do mundo e nossos próprios desafios.

Por que Oxum chora? Oxum chora porque ainda há no mundo muita “feiura”. Quando Oxum deixa de olhar seu espelho para olhar para o mundo dos homens, ela chora e chora… um choro sentido, um lamento, como uma cantiga em Yorubá.

A faceira e delicada Oxum tem domínio também sobre a sexualidade e a sedução, sendo a orixá do amor, responsável pelas ligações amorosas.

Oxum é também a protetora da liberdade. Ajudou seu preto a suprimir um contido e escondido canto para que peles não fossem cortadas no açoite. Foi pela força de Oxum que deram licença, há cento e trinta anos, para que atabaques pudessem ser tocados e cantos entoados em alto e bom som e às claras.

Sob a proteção de Oxum, o som do atabaque e uma aprisionada foram libertados. Antes, as religiões afro-brasileiras eram tratadas com marginalidade, vistas como malandragem, tratadas com desrespeito, intolerância e violência.

É pelo poder criador de Oxum que o povo do Axé foi liberto de seus grilhões físicos e emocionais. Hoje, a lei dos homens brasileiros reconhece o valor do Axé, mas, ainda assim, com ressalvas. Lutemos pela valorização das crenças e pela importância da liberdade.

Oxum, Deusa do amor, Yabá das águas doces, mãe amorosa dos povos novos e antigos, cuida de nós!

Ora Yê Yê Ô! Mamãe Oxum! (Olha por nós, mãezinha!)

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Iêda Vilas-Bôas  é escritora e poeta. Conselheira Editorial da Socioambiental.

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Reinaldo Filho Vilas Boas Bueno é formado em Letras, empresário, poeta de singular . Ainda, se dedica ao estudo e prática da Umbanda, Quimbanda Xambá e Candomblé, Também é Mestre em Alta Magia. É Membro Efetivo da Alaneg/RIDE e colaborador da Revista Xapuri.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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