Patakori, Ogum!
Hoje, 23 de abril, é um dos dias que festejamos Ogum! É dia de festejar as lutas ganhas, as que estamos travando e vamos ainda deparar pelo nosso caminho, sempre, com a Benção de Ogum! E é evocada sua força para nossos desafios em esferas pessoas, sociais, coletivas – sim – até mesmo amorosas e financeiras pessoais. Orixá forte, do panteão de matrizes africanas de quem herdamos cultura vasta a porejar nosso sangue, Ogum é uma das entidades mais conhecidas.
Por Reinaldo Vilas Boas Bueno Filho
É Guerreiro exímio – encantado em ancestralidade é encantador em seus poderes e forças. É o que representa domador de metais através do fogo, forjando com a força da magia, em nossas crenças desde Armaduras que nos protegem dos males, até as nossas Espadas justas que contra- atacam (ou atacam, quando necessária for a luta); para nos defender e para que saibamos a hora certa de atacar – vencendo desde as menores as mais importantes guerras das nossas vidas.
Poderoso Orixá, Ogum e extremante conhecido é cultuado, geralmente no dia 23 de Abril, tanto em sincretismos quanto em religiões afro-brasileiras de fato. Ele é visto como aquele que protege, que abre caminhos, que nos apoia em momentos de luta e que nos ajuda a vencer nossas guerras internas e externas.
Quanto poder, Salve! E sempre trabalhando virtudes (como um bom guerreiro) dentro de nós. Procurando sucesso e evolução; pautando-nos pela nobreza de caráter, justiça empática e bondade mesmo com os adversários. Mesmo porque sua energia é de vencer, não necessariamente destruir um adversário. Ele é rígido e bom. E força da natureza, não haveria de ser diferente.
Quando precisamos, e nos vemos em Guerra (física, espiritual, mental ou emocional), é, por justo a Ogum a quem recorremos. Evocamos sua força, destreza, sua capacidade de nos cobrir com sua mas armaduras encantadas e nos fornecer a coragem e a força de vontade: nossas maiores espadas para qualquer luta que tenhamos de enfrentar.
Símbolos com múltiplos significados, mas que nos abraça e envolve em força de vitória. Além disso, ele nos protege. É considerado o que vai à frente de suas batalhas, com sua armadura sagrada, e com sua força vertida em sua espada, para que vejam o quão sublime é sua força: indomável e a domar todas as adversidades. Patakori, Ogum! Salve sua força as sete vezes.
Então, quando estivermos passando por um período difícil em nossas vidas encarnadas, em que tudo parece conflituoso e com a guerra aguçando suor frio de nossas temporada, junto ao medo, e sem perspectiva de uma batalha vencida, é ao Pai Ogum a quem chamamos para fazer valer uma vitória a mais, sempre uma a mais.
Baseada na ancestralidade, na força que herdamos de miscigenado sangue, da força que corre na pele (metaforicamente) preta, de quem herdamos culturas, costumes, religião – no sentido de se religar às forças superiores que crescem germinadas em nossa fé para as mais altas dimensões.
Segundo um de seus mitos, foi justamente Ogum quem ensinou a humanidade como forjar metais e as estratégias de batalhas. Dando força para que as vençamos, dentro e fora de nós. Nos dando a possibilidade de sucesso em embates. Bem como os conhecimentos de guerras. E, claro, o conhecimento das guerras que travamos internamente em nosso coração e em nossa mente.
Também pela lenda, está ligado a energias extremamente fortes que, em caso, são trabalhadas juntas, a depender do fim buscado. Sua mãe, Iemanjá, e seus filhos Exú, o Orixá, e Oxóssi – com grande predileção a esse, tendo forjado encantadas com suas próprias mãos armas de caça pala Oxóssi. Em lenda, temos várias!
Sorte a nossa de termos tantas perspectivas para entendermos as forças de Ogum. “Primeiro Orixá a vir para terra”, “Ogun Osin Imole”: para a cultura africana Iorubá, Ogum é visto como o primeiro a descer ao Ilê Aiyê, a Terra. E foi enviado, assim como veio, com a ordem de encontrar condições adequadas para a humanidade. Ogum era o filho mais velho de Odudua, o rei, seu pai, que o enviou para a terra para tal constatação.
Quando seu pai perde momentaneamente a visão, Ogum assume o título de Rei. Conta-se, que certa vez, Ogum teve uma das mais arrebatadoras histórias de amor dessa mítica que nos achega com várias lições imbuídas em seus detalhes. Apaixonou-se pela Dona dos Raios e Trovões, a Guerreira astuta: a forte Orixá Iansã.
Tornou-se esposa de Ogum, mas logo ardeu de encantos por outro Orixá: Xangô – aquele que rege a justiça. Mas, indubitavelmente, a energia dos dois em conjunto, a sinergia, é algo a ser admirado. E também a emancipação do feminino que fez A Dona dos Nove Filhos, Iansã, também conhecida como Oiá, ter esse triângulo amoroso com os dois. Afinal, quais deles não são encantados e encantadores?
Também teve Ogum uma linda história de amor com Oxum, a Orixá, dona da Magia e do Amor, encantou Ogum com sua dança, e o fez se apaixonar por ela. Quando Ogum, em um mau tempo, estava escondido na floresta, ela decidiu ir até ele e, assim que o vou, o magnetizou com sua dança, conduzindo-o de volta para cidade, trazendo de volta a força de Ogum, em forma de Axé e Fartura. É uma linda história de amor e
muitos trabalhos são feitos juntos com os dois, justamente por essa sinergia deles, principalmente trabalhos amorosos.
Mas, a mais importante lição de Ogum, para nós, fora as suas bençãos, é justamente sua humildade. Ogum é exemplo em muito, inclusive no arquétipo da humildade (não podemos deixar nossas vitórias subirem aos miolos!). E, embora tenha sido criado como príncipe, e depois se tornado rei, Ogum manteve sua humildade – mesmo sabendo de seus poderes e enormes forças!
Ogum é pai e protege aqueles que recorrem a ele. Protege também os agricultores, especialmente por sua ligação com Oxóssi, guarda segurança aos soldados, também guarda e protege, e inspira os artesãos. É um Orixá do elemento terra, Ogum é cheio de energias, misticismos e lendas, podemos falar que sua energia é empreendedora, vem e cresce. E talvez por isso seja tão importante para nós.
Salve, pai Ogum! Salve sua armadura, seu forjar, suas espadas e lanças e, que comemoremos seu dia chamando essa força – para que possamos lutar nas adversidades da vida para vencer nossos intentos. Ogunhê, Meu Pai! Salve um de seus dias!
Reinaldo Filho Vilas Boas Bueno – Escritor. Capa: Depositphotos. Esta matéria não representa a opinião da Revista Xapuri e é de responsabilidade do autor. Imagem Interna: Elo7.
Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.
Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.
Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.
Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.
Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.
Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.
Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.
Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.
Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.
Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.
Zezé Weiss
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