Pedra fundamental da nova capital: em documentos

Pedra fundamental da nova capital: em documentos

Tendo em vista a comemoração do Centenário da Independência, o Presidente Epitácio Pessoa, logo no início do ano de 1922, publica o Decreto Legislativo nº 4.494, datado de 18 de janeiro, que mandava edificar a Pedra Fundamental da futura capital no quadrilátero Cruls.

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O projeto que deu a esse decreto é de autoria dos deputados Americano do (Goiás) e Rodrigues Machado (Maranhão), tendo sido aprovado por unanimidade pelos deputados, com o seguinte teor:

“Art. 1º – A Capital da República será oportunamente estabelecida no Planalto Central, na zona de 14.400 quilômetros quadrados, que, por força do art. 3º da Constituição Federal, pertence à União, para esse fim especial, já estando devidamente medidos e demarcados”.

“Art. 2º – O Poder Executivo tomará as necessárias providências para que, no dia 7 de setembro de 1922, seja colocada, no ponto mais apropriado da zona a que se refere artigo anterior, a Pedra Fundamental da futura cidade, que será a capital da União”.

A missão de erguer o obelisco no Morro do Centenário e organizar o evento de lançamento da Pedra Fundamental coube ao Diretor da Estrada de Ferro de Goiás, Engenheiro Ernesto Balduíno de Almeida, cumprindo um decreto que autorizava o início da obra em comemoração ao centenário da Independência.

Balduíno foi informado da missão por meio de um telegrama enviado pelo Ministro da Viação e Obras Públicas, José Pires do Rio, durante o governo de Epitácio Pessoa, no dia 27 de agosto de 1922, faltando apenas dez dias para o 7 de setembro.

Segundo o telegrama, uma placa de bronze acabava de ser encomendada ao Liceu de Artes e Ofícios, em , que, após fazer o molde e fundi-la, a enviaria de trem-de-ferro até Araguari e, de lá, seguiria de carro para Mestre d’Armas, durante uma cerimônia organizada para o dia 7 de setembro de 1922.Inegavelmente, parece que tal tarefa se transformara numa árdua missão a ser cumprida pelo engenheiro Balduíno, que fez o seguinte desabafo: “Faltava-me para pensar; para agir ainda pouco era o tempo”.

Preocupado em evitar um possível fracasso da missão, rapidamente Balduíno idealizou um obelisco em formato de uma pirâmide feita com pedras artificiais, cujos materiais seriam montados no local.  Aplaca de bronze foi encomendada ao colégio liceu das artes, em São Paulo e mandada de trem até Araguari, de onde depois seguiria de carro “Ford Bigode” para o arraial de Mestre d’Armas.

É importante ressaltar que nessa época a cidade já se chamava Planaltina, no entanto, ainda continuava sendo conhecida por Mestre d’Armas.

 

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A jornada para Mestre D’armas

A jornada começou em Araguari (MG), no dia 1 de setembro de 1922, quando Ernesto Balduíno organizou uma caravana composta por 40 membros, e assim seguiram para Mestre d’Armas, primeiro num trem especial, pela ferrovia Mogiana, até o final da linha férrea, na estação da cidade de Ipameri. Depois, seguiram por estrada de rodagem, em 9 automóveis (Ford Bigode), e mais 6 caminhões, que transportaram todo o material necessário para erguer o obelisco no local.

No dia 2 de setembro a caravana deixou Ipameri e seguiu com destino a Mestre d’Armas. A viagem teve início às 5horas da madrugada, trilhando a primeira estrada de rodagem que adentrou o quadrilátero demarcado por Luiz Cruls, aberta um ano antes (1921) pela empresa Bevinhati, Salgado e Cia. Transportaram uma carga estimada em cinco toneladas, num trajeto de 300 km, com inúmeros trechos precários, demorando três dias de viagem.

Após percorrerem 160 km chegaram a Cristalina/GO no dia 03 de setembro, quando Balduíno recebeu a notícia de que a estrada até Mestre d’Armas estava em boas condições. Essa notícia o deixou despreocupado com a chegada dos caminhões que estavam para trás, levando-o a seguir na frente pois tinha que preparar a chegada da caravana e, ainda, escolher o local em que o obelisco seria edificado. “Em razão disso, Balduíno, que viajava sempre à retaguarda, decide, acossado pelo tempo, seguir à frente com os “Ford-bigode”, deixando os caminhões seguirem atrás da caravana. E no mesmo dia, já tarde da noite, chegou a Mestre d’Armas, fazendo daquele local o centro das suas operações. A cidade recebeu a comitiva festivamente”.

Em 4 de setembro, Balduíno foi a campo, visitando algumas localidades da região, a fim de escolher o melhor local para edificar o obelisco.

Ele visitou o Parque Nacional, um local que serviu de acampamento para a Missão Cruls, seguindo logo depois para outro ponto nas margens do rio Paranoá e, por último, esteve em Mestre d’Armas, onde decidiu erguer o obelisco sobre um morro localizado a 7 km da cidade, ente os vales dos rios São Bartolomeu e Sobradinho.

Os caminhões chegaram a Mestre d’Armas em 5 de setembro, faltando apenas dois dias para a inauguração do monumento. Veja a narrativa de Balduíno:

Nas primeiras 7 horas foram percorridos apenas 20 km, com os caminhões estancando a cada momento, nas grandes rampas que tinham de vencer. No total, no primeiro dia de viagem, das 5h às 21h, foram vencidos apenas 76 km. No segundo dia, três de setembro, a caravana avançou mais 84 km até o cair do sol, quando chegou ao povoado de Cristalina. Segundo as informações locais, a partir dali a estrada não apresentaria grandes problemas. Balduíno, que vinha à retaguarda, decidiu acossado pelo tempo, seguir à frente com os “Ford Bigode”, deixando os caminhões seguirem atrás da caravana. Tarde da noite, chegou ao arraial de Mestre d’Armas, fixado como referência, e que seria a base dos trabalhos. Os caminhões chegaram à manhã do dia 5, e nessa mesma manhã o engenheiro Balduíno escolheu um local bem mais próximo: um promontório sobre o vale do rio São Bartolomeu, a apenas 8 km de Mestre d’Armas. Batizou o local de “serra da Independência; e aos dois morros ali existentes atribuiu os nomes de “Centenário” e “Sete de Setembro”. Às 17 horas do dia 5, todo o material dos caminhões já estava descarregado no morro do Centenário. No dia 7, às 10 horas, estava pronto o monumento.

A placa de bronze, vinda de São Paulo, foi fixada na base da pedra, com os seguintes dizeres: Sendo Presidente da República Excelentíssimo Senhor Doutor Epitácio da Silva Pessoa, em cumprimento ao disposto no Decreto 4.494, de 18 de janeiro de 1922, foi aqui colocada, em sete de setembro de 1922, ao meio-dia, a pedra fundamental da futura Capital Federal dos Estados Unidos do Brasil.

A cerimônia de edificação da pedra, com o hasteamento da Bandeira Nacional, aconteceu exatamente ao meio-dia de sete de setembro de 1922, como parte das comemorações do Centenário da Independência do Brasil (1822), conforme o previsto, e contou com a participação de autoridades de vários estados do país, sendo o Presidente Epitácio Pessoa representado pelo Engenheiro Ernesto Balduíno, Diretor da Estrada de Ferro Goiás em Araguari (MG).O evento foi fotografado, filmado e ganhou amplo espaço na mídia nacional, cujo material foi selecionado e doado ao Museu do Ipiranga, em São Paulo.

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Após uma análise dos momentos em que antecederam a edificação da Pedra, constata-se que o improviso parece algo inerente à nossa cultura, uma vez que seria necessário pensar no formato do obelisco, organizar uma expedição para escolha do local em que seria colocado e, ainda, organizar um evento para o lançamento.

Tudo isso foi feito em apenas dez dias e deu tudo certo. A base do marco foi constituída de trinta e três pedras artificiais de concreto, colocadas na base do monumento, lembrando os trinta e três anos da República, de 1889 a 1922. A primeira pedra assentada no monumento foi colocada um dia antes, no dia seis de setembro, e a construção do obelisco foi concluída no dia seguinte.

O obelisco tem forma piramidal de base quadrada com 3,75m de altura, a contar das fundações. As suas faces estão orientadas pelos pontos cardeais. Na face oeste está localizada a placa comemorativa. A 7 m do monumento, encontra-se o Marco Geodésico, situado a 7,5km da cidade de Planaltina e 24 km a Nordeste da Estação Rodoviária de Brasília (em linha reta), em concreto, com chapa do Instituto Brasileiro de e Estatística – IBGE cravada no topo, numa caixa com tampa móvel e de ferro fundido. A pedra foi assentada no ponto mais elevado do Morro do Centenário, proporcionando uma visão aérea em todas as direções. A praça que a entorna contribui para o dos visitantes com passeios e bancos de concreto.

RobsonRobson Eleutério – Professor de História da SEDF. Coordenador do Instituto (http://cerratense.com.br). Em 2004, idealizou o projeto Estrada Colonial no Planalto Central, juntamente com o historiador Paulo Bertran, sendo, posteriormente, coautor do livro Estrada Geral do Sertão – na rota das nascentes. Nos últimos anos tem se dedicado à pesquisa sobre a história da nossa região e, atualmente, à criação do Ecomuseu e ao tombamento da Pedra Fundamental como patrimônio Histórico Nacional.

 


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Réquiem para o Cerrado – O Simbólico e o Real na Terra das Plantas Tortas

Uma linda e singela história do Cerrado. Em comovente narrativa, o professor Altair Sales nos leva à vida simples e feliz  no “jardim das plantas tortas” de um pacato  povoado  cerratense, interrompida pela devastação do Cerrado nesses tempos cruéis que nos toca viver nos dias de hoje. 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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