Pela eliminação da discriminação racial

Pela eliminação da discriminação racial

Por Iêda Leal

Em 21 de março, data em que celebramos o Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial, o Movimento Negro Unificado (MNU) se mobilizou, com a comunidade global, pela dos povos, para que as balas de Shaperville não tenham seus ecos mais uma vez, eliminando negros e negras pelo , agora com as armas da omissão.

No dia 21 de março de 1960, no bairro de Shaperville, cidade de Joanesburgo, capital da do Sul, 20 mil negros e negras protestavam contra a lei do passe, que os obrigava a portar cartões de identificação, especificando os locais por onde eles podiam circular.

Em Shaperville, mesmo sendo uma manifestação pacífica, o exército atirou sobre a multidão, matando 69 pessoas e ferindo ouras 186. Em memória à tragédia, a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu o dia 21 de março como o Dia Internacional da Luta pela Eliminação da Discriminação Racial.

No , os negros e negras são 56,10% da população, vítimas de um ataque genocida legalizado pelo racismo institucional e, em contrapartida, são mantidos privilégios para uma minoria branca.

Negros e negras enfrentam a racial cotidiana. A maioria está na base da pirâmide social. Sem acesso à educação, , , moradia, trabalho e saneamento básico.

A todo momento ocorrem ataques à religião de matriz africana e à negra, e persistem a invasão e a destruição de territórios negros (, quilombo), tudo isso comprova a perversidade do racismo.

Assassinam negros. A cada 23 minutos um jovem negro é morto no Brasil.

Sem justiça, sem ação do Estado na defesa da vida do negro.

Grandes projetos são desenvolvidos para áreas de quilombos e populações ribeirinhas, dizimando comunidades tradicionais.

Neste ano, há o agravante da pandemia do coronavírus, que ameaça um número incalculável de negros e negras, devido a desigualdades socioeconômicas, baixa oferta de assistência à saúde, alta exposição a vetores externos de transmissão do vírus, principalmente, no caso das populações tradicionais e faveladas.

Em memória das vítimas do massacre de Shaperville, na África do Sul (1960).

Pelo fim da ação genocida contra a população negra.

Pela garantia, nessa crise do coronavírus, dos direitos da população negra a todos os serviços e medidas preventivas e socioeconômicas.

REAJA À VIOLÊNCIA RACIAL

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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