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Pobreza menstrual: Absorvente interno com fibra de banana

Pobreza menstrual: Estudante brasileira desenvolve absorvente interno com fibra de banana para mulheres em situação de rua e ganha prêmio de design

Por Mônica Nunes – Conexão Planeta
Este ano, a curitibana Rafaella de Bona Gonçalves conclui o curso de Design de Produto pela Universidade Federal do Paraná. E sairá dele focada em tornar realidade o projeto que desenvolveu em um curso paralelo – de soluções de impacto social – e rendeu reconhecimento do júri do maior prêmio internacional de design para estudantes: um absorvente interno feito de fibra de banana para mulheres vulneráveis, que vivem nas ruas.
Ou seja, um produto descartável, porque essas mulheres não têm acesso a banheiros ou água limpa, e sustentável, feito de material orgânico para que não agrida o .
O projeto ganhou o nome de Maria – “um nome muito brasileiro, que acolheria todas essas mulheres invisíveis” – e surgiu a partir do trabalho de conclusão do curso livre, que exigia que os estudantes criassem produtos com base em um dos 17 Objetivos do Sustentável da ONU.
Rafaella não hesitou e escolheu o primeiro da lista: acabar com a . De que forma? Aliviando o sofrimento e desconforto de mulheres e garotas em situação de rua no período menstrual, que não têm acesso a produtos de higiene, banheiros e água.

Pobreza menstrual

Em suas pesquisas para o desenvolvimento do projeto, se deparou com um um conceito que desconhecia e agora norteia seu trabalho: pobreza menstrual. Descobriu que, desde 2014, a ONU (Organização das Nações Unidas) reconhece que “o direito das mulheres à higiene menstrual é uma questão de saúde pública mundial e de direitos humanos”.
Se a ainda é cheia de tabus para falar e tratar de menstruação, imagine a situação de adolescentes e mulheres que vivem em extrema precariedade, sem acesso a produtos de higiene e água. “Além da pobreza menstrual, essas mulheres ainda enfrentam muitos outros problemas como gravidez e agressões sexuais“, enfatiza.
Rafaella, então, procurou entidades e organizações sociais, em Curitiba, para obter mais informações sobre a realidade das mulheres que vivem nas ruas, e como lidam com os dias de fluxo. Descobriu que, em geral, elas não usam calcinha, o que inviabiliza o uso de absorvente descartável, que é adesivado na calcinha. E como elas fazem para conter o sangue? Usam retalhos de tecidos e outros materiais, como plástico. “Foi um choque saber como elas passam pelo período menstrual”, revelou a estudante à revista TPM.

Formato inovador e material orgânico

A estudante ainda assistiu a um vídeo em que uma mostra como transforma um absorvente descartável externo em interno, tirando o algodão. E também assistiu ao vencedor do Oscar de melhor documentário de curta-metragem, em 2019, Absorvendo o Tabu, da diretora Rayka Zehtabchi.
Ela conta a história de uma comunidade rural em Harpur, na Índia, que recebe uma máquina que produz absorventes biodegradáveis e transforma a das mulheres na região. Para escrever o roteiro, Rayka se inspirou em um dado estarrecedor: três milhões de indianas deixam de ir à escola quando estão menstruadas (assista ao trailler no final deste post).
A partir de todas essas informações e de conversas que teve com algumas mulheres que vivem nas ruas de Curitiba, Rafaella chegou ao protótipo final: um absorvente interno produzido em formato de rolo e destacável, como o papel higiênico.
Para produzir o rolo, ela procurou por materiais orgânicos porque o produto precisava ser descartável e não poderia causar danos ao meio ambiente. “Descobri uma empresa da Índia que fabrica absorventes com fibra de banana e resolvi usar esse material”, contou. E assim foi.
Este ano, termina a faculdade e quer se aprofundar em suas pesquisas, além de fabricar o primeiro protótipo do Maria Absorvente Íntimo para poder distribuí-lo o mais rápido possível para as mulheres que moram nas ruas de sua cidade.
“Gosto muito dessa área de criação e acredito que a gente pode ir além do design de moda, da forma bonita, do estilo. Acredito, acima de tudo, que podemos resolver problemas da sociedade de uma forma sustentável”, contou.

Prêmio de design mundial

Em setembro do ano passado, Rafaella foi reconhecida pelo júri do prêmio iF Design Talent Award pelo trabalho desenvolvido com o Projeto Maria.
Desenvolvido e oferecido pelo guia de design alemão iF World Design Guide, este é um dos mais importantes prêmios para estudantes dessa área do mundo, que elege as soluções mais criativas e inovadoras com valores a partir de 50 mil euros (cerca de 279.319,70 reais).
Costuma receber dez mil inscrições por ano e, este ano, também aderiu aos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU para que os candidatos classifiquem os trabalhos inscrito.
Quer conhecer o trabalho de conclusão de curso de Rafaella? Clique a seguir: Projeto Maria Absorvente Íntimo. Agora, assista ao trailler do filme Absorvendo o Tabu, um dos que inspirou a estudante em seu projeto.

 

Fonte: Conexão Planeta


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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