Por que o filme “Marighella” continua com exibição restrita

Por que o filme “Marighella” continua com exibição restrita no país apesar do sucesso?

Por Brasil de Fato

Com sessões de pré-estreia esgotadas nos primeiros dias de novembro, o filme “Marighella” entrou no circuito das salas de cinema no último dia 4 e vem fazendo sucesso junto ao público brasileiro. Mas o sucesso não tem sido suficiente para que salas de exibição em todo o Brasil deem uma chance à produção nacional e ao público.
Apesar de estar entre as maiores estreias de 2021 nos cinemas, tendo sido vista por mais de 100 mil espectadores no período de uma semana, algumas cidades da Baixada Fluminense, assim como tantas cidades no Brasil, não estão exibindo a produção dirigida por Wagner Moura e que tem no elenco Seu Jorge, Bruno Gagliasso, Adriana Esteves e Humberto Carrão.
Com quase 1 milhão de habitantes, Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, não tem nenhuma sala de cinema exibindo o filme nacional. Em compensação, em apenas um cinema da cidade, o Cine Araújo, o filme de super-heróis “Eternos” está em cartaz em sete salas com 19 sessões diferentes em um único espaço. A outra sala do Cine Araújo exibe “Venom”, outro filme de super-heróis.
Em municípios da Baixada que estão exibindo “Marighella” a partir da quinta-feira (11), dia da semana em que as salas renovam a programação, o filme de Wagner Moura entrou apenas na sessão de 20h10 do Kinoplex de Nova Iguaçu e às 19h45 no Cinépolis de São Gonçalo. 
Autor da biografia “Marighella”, livro que inspirou o filme, o jornalista Mário Magalhães comentou o fato nas redes sociais.

“É um escândalo privar os moradores da Baixada de assistir a ‘Marighella’, o belo filme de Wagner Moura”, escreveu Magalhães, quando na primeira semana o filme ainda não havia chegado a nenhuma sala da Baixada.
Nas redes sociais, o crítico e pesquisador Marcelo Ikeda comentou em uma postagem sobre a distribuição de “Marighella” em cinemas nas periferias do país. Ele disse que a iniciativa caberia à Agência Nacional de Cinema (Ancine), já que, como agência reguladora do mercado, ela coordena a Câmara Técnica de Exibição.
O pesquisador afirma que, anos atrás, “Minha mãe é uma peça 3”, o último filme da franquia do humorista Paulo Gustavo, teve que sair de cartaz, até mesmo com sessões sendo canceladas, para que a produção de super-heróis estadunidense “Vingadores – Ultimato” entrasse em cartaz nas salas.
“O problema é que a gestão atual da Ancine, além de liberal, parece não ter muito interesse em que o filme em questão seja visto, mesmo tendo recursos do FSA [Fundo Setorial do Audiovisual]”, disse, nas redes, Ikeda, que tem livros publicados sobre mercado cinematográfico e legislação audiovisual no Brasil.
No início de julho deste ano, uma gestora da Ancine encaminhou o projeto de lançamento comercial do filme para arquivamento. A produtora O2 negou que tenha solicitado o arquivamento.
O filme “Marighella” tinha previsão de estreia em 20 de novembro de 2019, Dia da Consciência Negra. Desde então, pessoas ligadas ao filme vinham denunciando tentativas de boicote por parte do governo Bolsonaro para evitar que o filme chegasse aos cinemas.

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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação. 

Resolvemos fundar o nosso.  Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário.

Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também. Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, ele escolheu (eu queria verde-floresta).

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Já voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir.

Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. A próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar cada conselheiro/a pessoalmente (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Outras 19 edições e cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você queria, Jaiminho, carcamos porva e,  enfim, chegamos à nossa edição número 100. Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapui.info. Gratidão!