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Prisão de Bolsonaro será inevitável se Cid provar elo com minuta golpista

Prisão de Bolsonaro será inevitável se Cid provar elo com minuta golpista

Em delação premiada à Polícia Federal, ex-ajudante de ordens confirmou que Bolsonaro não apenas tinha conhecimento do documento – mas também pediu ajustes no texto

Por André Cintra/Portal Vermelho

Jair Bolsonaro deverá ser preso se o tenente-coronel Mauro Cid, seu ex-ajudante de ordens na Presidência da República, comprovar a participação do ex-presidente na elaboração de uma minuta golpista. Em delação premiada à Polícia Federal (PF), Cid confirmou que Bolsonaro não apenas tinha conhecimento do documento – mas também pediu ajustes no texto.

A minuta daria origem a um decreto, com ações e argumentos para que o Planalto, apoiado pelas Forças Aramadas, liderasse um golpe de e anulasse o resultado das 2022, vencidas pelo agora presidente Luiz Inácio da . Com a manobra, Bolsonaro chegaria a ordenar a prisão do ministro Alexandre de Moraes, que era presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), e convocaria novas eleições.

Toda a trama golpista não tem respaldo constitucional e, pior, não tem base em fatos. Observadores nacionais e internacionais, incluindo os militares brasileiros, não encontraram evidências de fraude nas urnas eletrônicas, um dos falsos pretextos a que bolsonaristas pretendiam recorrer para justificar um golpe.

Conforme o relato de Mauro Cid, revelado nesta quarta-feira (11) pelo jornal O Globo, a minuta foi entregue a Bolsonaro por seu ex-assessor Filipe Martins. Partiu do ex-presidente a sugestão de evitar prisões “em massa”, limitando o golpe à detenção de Moraes. Na sequência, Martins teria procurado Cid para lhe entregar duas versões do documento (uma impressa e uma digital). A nova minuta, já com as propostas de Bolsonaro incorporadas, chegaria dias depois ao Planalto, pelas mãos do próprio Martins.

Cid delatou também que, com o texto em mãos, Bolsonaro convocou os comandantes das Forças Armadas para uma reunião de emergência. Este foi o fatídico dia em que os militares se dividiram: enquanto o almirante Almir Garnier Santos, então comandante da Marinha, jurou lealdade a Bolsonaro, o general Freire Gomes, do Exército, negou participação em um plano golpista.

Cid contou, ainda, que o ex-presidente pediu a generais que não desmobilizassem os acampamentos montados em frente aos quartéis do Exército após o segundo turno das eleições. A razão: não reeleito, Bolsonaro precisava manter o “apoio popular” caso o governo encontrasse provas de fraude nas urnas eletrônicas, o que jamais ocorreu. A minuta apostava, então numa narrativa baseada em supostas “decisões ilegítimas e inconstitucionais” do STF contra Bolsonaro.

O golpe se daria com a decretação de um “Estado de Sítio” para “restaurar” o Estado Democrático de Direito no país, bem como “a jurídica e a defesa às liberdades”. Uma intervenção militar estava nos planos de Bolsonaro e de seus apoiadores.

Repercussão

Para a senadora Eliziane Gama (PSD-MA), relatora da CPMI de 8 de Janeiro no Congresso, a delação de Cid é “gravíssima”, por mostrar “os detalhes sobre como se daria a engenharia traçada para tentar abolir o Estado Democrático de Direito”. Bolsonaro deve ser um dos indiciados pela comissão, que entrega seu relatório final na próxima semana.

“A CPI, ao longo desses meses de investigação, já recebeu outros dados que também sustentam essa operação golpista. São fatores importantes que exigem a ampliação de toda essa investigação”, agregou Eliziane.

Segundo a colunista Bela Megale, do O Globo, a defesa de Bolsonaro deve alegar que o ex-presidente “não assinou nenhum decreto ou documento que abria espaço para uma intervenção militar ou um golpe de Estado”. O pressuposto é o de que “não há golpe sem armas e não há golpe sem sua assinatura em documentos”. É o pouco para o tamanho da encrenca criminal em que Bolsonaro se meteu – e que tornará sua prisão inevitável.

Fonte: Portal Vermelho Capa: Adriano Machado/Reuters


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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