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Desmatamento para a produção de commodities persiste no Brasil e no mundo

Desmatamento para produção de commodities persiste no e no

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mostra que 27% do desmatamento global é decorrente da produção de commodities | ALEXANDER LEES
 

Nas últimas décadas, o esforço em prol da ambiental parece ter sido incorporado, em maior ou menor grau, por governos, empresas e cidadãos.

Mas, de acordo com um estudo publicado nesta quinta-feira pela revista Science, há um tipo de problema ambiental, dos mais sérios, que não está sendo reduzido: o desmatamento causado para liberar espaço para a produção de commodities.

O conceito define os produtos que são praticamente uniformes e têm seus preços regulados pelo mercado internacional – como café, sal, açúcar, e metais como prata, ouro e ferro.

Em geral, a produção de commodities também é dependente de grandes extensões territoriais.

“Mesmo assim, as commodities em si não devem ser vilanizadas, muito embora sua produção contribua significativamente para a perda das “, disse à BBC News Brasil o analista de dados Philip Curtis, colaborador da organização não governamental The Sustainability Consortium e o principal autor do estudo.

“À medida que a população mundial aumenta, há uma demanda cada vez maior por para as pessoas e rações para os , de modo que nunca devemos perder de vista o que é ganho quando as florestas são substituídas para a produção de commodities.”

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Retrato do desmatamento da em Madre de Dios, no Peru | WFU/ACERS
 

O pesquisador verificou que um dos exemplos mais nocivos neste caso é o cultivo para produção de óleo de palma. “Especificamente no Sudeste Asiático”, constata.

“Existem alternativas ao óleo de palma e seus derivados, mas elas podem ser mais caras. As certificações ajudam a reduzir o desmatamento, mas não são a solução completa. Quase sempre a decisão de priorizar a proteção das florestas enfrenta forças econômicas como a necessidade de um negócio para obter lucro e a demanda de pessoas por bens menos caros. Assim, governos, empresas e consumidores devem decidir como equilibrar o desejo por produtos baratos com o desejo de proteger as florestas, se quisermos impedir a perda permanente de terras florestais.”

Mapas do desmatamento

Para chegar aos dados, o analista utilizou mapas atuais que mostram as áreas desmatadas no planeta. Curtis analisou as transformações florestais de 2001 a 2015. Além de demonstrar essas mudanças, o estudo ainda concluiu que todas as florestas que passam por mudanças drásticas, mesmo que estas sejam pontuais, acabam sendo alteradas permanentemente.

As imagens foram extraídas dos registros feitos e armazenados pela plataforma Google Earth, a partir de fotografias de satélite. Essas imagens demonstram que 27% do desmatamento global é causado pelas commodities – e, ao contrário dos outros fatores, este é um número que tem se mantido relativamente constante ao longo dos últimos anos.

No artigo, os cientistas ainda frisam que, independentemente de qualquer conclusão adicional, o estudo “indica que as políticas de desmatamento zero não estão sendo implementadas com rapidez suficiente para atingir as metas”. Curtis lembra que 450 grandes corporações mundiais já se comprometeram a trabalhar com “desmatamento zero” até 2020.

O estudo mapeou todas as razões que levam a alterações ambientais por meio do desmatamento. O mais grave é a alteração de uma paisagem florestal a fim de abrir espaço para a produção de bens ditos commodities, tanto na agricultura como na mineração. Esta intervenção é permanente.

Há outros fatores preocupantes, mas estes de caráter temporário: a agricultura itinerante, a extração madeireira controlada e os fatídicos incêndios florestais.

Outros fatores

Além da produção de commodities, outros são os fatores que causam o desmatamento de florestas. Vinte e seis por cento dos danos atualmente são atribuídos ao manejo comercial florestal, ou seja, a intervenção nessas áreas com o objetivo de obter madeira ou outros benefícios.

Vinte e quatro por centro são por conta da agricultura – no caso, aquela que não é commodity, ou seja, produções menores e geralmente associadas à subsistência ou a suprir demandas de comunidades do entorno.

Incêndios florestais respondem por 23% dos danos e a urbanização, por menos de 1%.

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Estudo mapeou todas as razões que levam a alterações ambientais por meio do desmatamento | ALEXANDER LEES

“Eu diria que esta é a principal conclusão do estudo”, afirma Curtis. “Mais de 99% das perdas florestais globais podem ser classificadas nessas quatro causas principais.”

“Por outro lado, descobrimos que 27% da perda florestal dos últimos 15 anos é permanente, devido à produção de commodities”, ressalta. Por permanente, vale dizer que os efeitos na vegetação não são recuperados. A área permanece destruída, não havendo sinais de um reflorestamento natural – ao contrário, por exemplo, das regiões afetadas pelos outros tipos de desmatamento.

Além da revista Science, os dados completos da pesquisa devem ser disponibilizados hoje também no site da The Sustainability Consortium e também no Global Forest Watch.

Brasil

Curtis observou também que houve uma mudança de foco no desmatamento mundial gerado por commodities, muito provavelmente em decorrência dos movimentos econômicos e das crises enfrentadas pelos países. “Esse desmatamento mudou, desacelerando no Brasil e aumentando nos países do Sudeste Asiático”, comenta o pesquisador.

“Nosso estudo não foi projetado para identificar a causa direta do declínio do desmatamento do Brasil, mas acredito que seja resultado de esforços do governo brasileiro e mesmo de ações de empresas e grupos de defesa ambiental”, afirma.

Mas esta melhora na situação brasileira não refletiu em um impacto global, já que a mesma diminuição mapeada no Brasil foi refletida em um aumento no Sudeste Asiático. Na média, o planeta perde cerca de 5 milhões de hectares de florestas por ano.

“No geral, não houve redução nas taxas globais de desmatamento durante o período de estudo. Mas descobrimos que os principais impulsionadores da perda florestal variam amplamente de região para região”, cita ele.

O estudo concluiu que, enquanto nos países mais desenvolvidos e ao norte do planeta as perdas florestais costumam ser atribuídas a incêndios, nas regiões tropicais, dominadas por países subdesenvolvidos, os vilões das florestas são a produção de commodities e a agricultura.

Para Curtis, os compromissos firmados pelos países e pelas corporações para reduzir os danos ambientais são um bom ponto de partida para que o planeta encontre uma equação mais sustentável. “Mas, para que sejam bem-sucedidos, é preciso que esses compromissos sejam cumpridos e acompanhados de financiamentos compatíveis”, afirma ele.

“Um bom programa é aquele que, uma vez devidamente financiado e executado, permita que os próprios cidadãos sejam tomadores de decisão sobre como proteger as florestas e como priorizar a criação de áreas florestais protegidas.”

Ele cita como um bom exemplo o engajamento de empresas privadas no sentido de eliminar práticas que contribuem para o desmatamento e a degradação ambiental.

“Além disso, pode-se investir em áreas agrícolas desbastadas, isto é uma solução viável para diminuir o desmatamento, pois é uma maneira de abrir novas terras para a agricultura produtiva sem a necessidade de desmatar mais florestas”, pontua.

ANOTE AÍ

Fonte: BBC Brasil

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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