Eugenio Aragão: A psicose política tomou conta da nossa sociedade

Da RBA

“É um cenário tenebroso. A construção desse cenário não foi obra dessa direita ‘alfafa’. É um cenário de inteligência, de estimular o caos no país, o caos comunicativo. O tecido social está fortemente corrompido com esse ambiente pesado do país, e isso não é obra do acaso, não é algo espontâneo.”

Para ele, com o domínio de “metadados” e de tecnologia de rede, junto aos meios de social nas mãos, é possível estimular “processos que vão para a psique do cidadão”. “Eu acho que nossa sociedade está psicótica. A psicose política tomou conta da nossa sociedade, e isso é uma coisa provocada.”

Para o ex-ministro, o ambiente crescente de intolerância é disseminado no país principalmente a partir de 2013. “O ódio tomou conta até dos laços familiares, dos laços de amizade.”

Fazendo uma autocrítica, Aragão afirmou que os governos do PT subestimaram a capacidade de mobilização das forças por trás desse processo social e midiático. “Nossos governos não se preocuparam em montar uma estrutura de inteligência e contra-inteligência. Era algo que a gente tinha condições de antever no mais tardar no início de 2013.”  Para ele, “os Estados Unidos são useiros e vezeiros em se aproveitar das contradições do brasileiro”.

O cenário no qual o mergulhou a partir da derrubada da ex-presidenta e que culminou com a prisão de Lula começou a ser trabalhado pelas forças contrárias, incluindo a mídia e parcelas importantes do Ministério Público e sistema de Justiça, no já esquecido caso Waldomiro Diniz, em 2004, opinou. Cerca de um ano depois, explodia o “mensalão”.

“Com o episódio do Waldomiro, antes do mensalão, a gente já viu do que essa direita é capaz distorcendo fatos. Ali, a coisa estava começando a fermentar: queda do Waldomiro, escândalo dos correios, ‘mensalão’. Foram 13 anos de bombardeio”, disse Aragão.

Para ele, não há como dissociar o ambiente político de perseguição do corporativismo do Ministério Público e do Judiciário, aliados de forças conservadoras e respaldados pela mídia, ao longo de uma década e meia. Exemplo significativo da “combinação” dentro do Judiciário pela perseguição a Lula é a atitude do TRF-4 ao confirmar a sentença de . “Apesar de tanta atuação temerária do juiz, não há nenhum tipo de divergência entre os desembargadores (do tribunal). É um jogo muito rasteiro.”

Em 2005, com o ambiente político obscuro, segundo ele, Lula teve uma reação política de acordo com a situação: a opção do ex-presidente pela aliança com o PMDB de José Sarney, muito criticada por setores à esquerda do PT, mas que era um lance que ao mesmo estava de acordo com o chamado presidencialismo de coalizão e era, já na época, uma questão de luta pela sobrevivência no tabuleiro político.

“A aliança do Lula com o PMDB só aconteceu por causa do mensalão, porque ele sabia que, se não fizesse, ele poderia ser o que Dilma foi dois mandatos depois”, disse Aragão no Entre Vistas.

ANOTE AÍ:

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‘A psicose política tomou conta da nossa sociedade’, diz Eugênio Aragão

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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