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Quanto vale um cientista brasileiro?

Quanto vale um cientista brasileiro?

Ao longo dos séculos, o mundo passou por diversas transformações econômicas. A maneira como as sociedades se organizam sofreu inúmeras “evoluções”. Por essa razão é de se esperar que nosso estilo de vida atual entre em colapso em algum momento, nos obrigando a adotar modelos econômicos e produtivos mais sustentáveis, e acima de tudo: justo. Os cientistas têm um grande papel nesse processo de transição econômica e sustentável. 

Por Maria Letícia Marques

Seguindo essa lógica, seria viável começarmos a plantar as sementes de uma evolução consciente, sustentável e inteligente. A busca por tecnologias ecológicas para combater as mudanças climáticas é um dos fatores que movimentam com urgência o trabalho dos cientistas em geral. 

A necessidade de métodos de produção mais sustentável é inegável. Por este motivo, o investimento nessa área se tornou um assunto ainda mais debatido.

O único ano em que o recurso do FNDCT foi repassado integralmente ao MCTI foi 2010. Antes e depois disso sempre tivemos valores contingenciados: 20%, 30%. Mas de 2016 para cá só aprofundou, chegando a 60% e agora a pouco mais de 90%” relata Glaucius Oliva, ex-presidente do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) à página UOL.

Os impactos da falta de recursos financeiros para universidades e centros de pesquisas é grande. As pesquisas e projetos desenvolvidos dentro desses polos de ensino podem proporcionar diversos benefícios para a população. A produção de vacinas e novas descobertas científicas também podem fomentar o mercado, além de trazer melhorias para o país. Infelizmente há muitas barreiras que ultrapassam o financiamento. 

A cientista Jaqueline Goes de Jesus se tornou um exemplo magnífico de como o investimento em ciência e educação é importante. Ela é graduada em Biomedicina, Mestre em Biotecnologia, Doutora em Patologia Humana (UFBA), e foi uma das coordenadoras da equipe de pesquisadores que ajudaram a combater o vírus do covid-d. 


Jaqueline foi amplamente prestigiada depois de conseguir mapear o sequenciamento do genoma do coronavírus, 48h após o relatório do primeiro caso de covid-d, na América Latina. A equipe foi a primeira a realizar o feito, o que chamou atenção mundial, enchendo o país de esperança e orgulho. 

Jaqueline Goes de Jesus – Currículo Lattes

Desvalorização dos cientistas 

Apesar de existirem milhares de pesquisadores e cientistas competentes no Brasil, ainda falta a devida visibilidade e valorização. Muitos projetos tecnológicos, pesquisas e ideias são criadas pelos brasileiros, mas sempre falta algo: capital financeiro. 

Não é novidade para ninguém que os países estrangeiros de primeiro mundo investem pesado em tecnologias. Afinal, criar novas ferramentas tecnológicas significa que o país está evoluindo cientificamente, além de apresentar dominância no mercado.

A carência de capital financeiro para áreas de tecnologia e pesquisa reflete em um país sem visão de futuro, isso além de prejudicar a imagem no exterior, faz com que a população desacredite no potencial tecnológico do país.

Entretanto, pessoas inteligentes, competentes e dispostas a ajudar não faltam. O que realmente falta é o devido investimento nessas pessoas e suas ideias inovadoras. Pois, mesmo sem o apoio e investimento necessário, os cientistas não param seu trabalho, tão pouco os pesquisadores. 

O jovem cientista Vinícius Carvalho, Engenheiro Ambiental (UFRJ), reinventou uma tecnologia de limpeza para rios e mares, baseando-se nas invenções da Ocean Cleanup e do holandês Boyan Slat. 

Ser jovem e cientista no Brasil não é fácil, assim como nada é fácil, quando se tem uma boa ideia ela custa caro a ser desenvolvida pelo tempo que se perde procurando investimentos. E nisto em outros lugares do mundo alguém, também está criando e passa à nossa frente, não porque o Brasil não tenha recursos, mas por que o país ainda não tem a “cultura” de se investir em tecnologia de novos projetos como de fato é necessário, com a mesma rapidez das demandas de problemas que surgem.” diz Vinícius, em entrevista para o Grupo Vapalu.

Foto: Acervo pessoal de Vinícius durante a gravação do vídeo explicativo do projeto. Vinícius Carvalho estudante da UFRJ

Vinicius é um dos milhares de jovens brasileiros com projetos grandiosos a serem executados, mas não são valorizados devidamente, tão pouco têm o capital financeiro necessário. 

A proposta da Economia Criativa, que é citada na entrevista, é fomentar ideias sustentáveis e criativas, porém o capital financeiro se torna uma peça fundamental para mover esses projetos de inovações.

Não seria exagero dizer que muitos investidores optam por projetos tecnológicos estrangeiros porque acreditam sempre naquele discurso de que eles são superiores em termos de tecnologia. Bom, isto é um grande mito. Eles não são mais inteligentes que o resto do mundo, eles apenas tem capital financeiro que lhes permite trabalhar a vontade em seus projetos, testar, vender, e etc.

Além de possuir o capital financeiro, eles têm o grande mito supremacista de que são mais capazes, e que estão no topo do mundo por dominarem quase todas as tecnologias. Eles se colocam nesse lugar que vem sendo construído ao longo de séculos. 

Notoriamente, a arrogância intrínseca no imperialismo de certos países reflete na forma como os enxergamos. Em um mundo globalizado e capitalista, é perigoso depositar essa visão superestimada em países estrangeiros. Pois, também precisamos ter autonomia tecnológica e produtiva.

Parte dos problemas relacionados à falta de investimento para os cientistas brasileiros se deve a desvalorização interna desse trabalho, que é crucial para o desenvolvimento do país. Os cortes recorrentes na área da educação são um grande catalisador desse problema, que merece a devida atenção.  É triste analisar o mundo como um mero jogo de cassino, onde poucas pessoas apostam todas suas fichas em um único número. 

Mesmo que não tenha dinheiro para investir, invista hoje começando a notar o trabalho nobre desses cientistas, valorize-os, e acredite no potencial de todos os pesquisadores brasileiros. Eles sonham por um Brasil melhor e um mundo mais justo. Afinal, se não olharmos para os nossos, quem vai? 

Maria Letícia Marques – Colunista voluntária da Revista Xapuri. Este artigo não representa a opinião da Revista e é de responsabilidade da autora. Foto Capa: Reprodução/Internet.


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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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