Em 1902, no auge da luta interna entre os bolcheviques e os reformistas no Partido Social Democrata Russo, Lênin escreveu no seu trabalho “Que fazer?”, respondendo a Bernstein, líder dos reformistas:
“De fato, não constitui mistério para ninguém que, na atual socialdemocracia internacional, se tenham formado duas tendências, cuja luta ora ‘se anima e se inflama’, ora se extingue sob as cinzas das grandiosas resoluções de tréguas“.
Em que consiste a “nova tendência que ‘critica’ o ‘velho’ marxismo ‘dogmático’”, disse-o Bernstein, e demonstrou-o Millerand com suficiente clareza. A socialdemocracia deve transformar-se de partido da revolução social em partido democrático de reformas sociais.
Essa reivindicação política foi cercada por Bernstein com toda uma bateria de “novos argumentos e considerações muito harmoniosamente orquestrados”.
O sindicalismo brasileiro hoje está em uma encruzilhada mais ou menos idêntica. Com a vitória eleitoral de Lula em 2002, em que, pela primeira vez na história do Brasil e da América Latina, um representante dos trabalhadores assumia a Presidência da República, depois de ter sofrido vinte anos de ditadura militar e a ofensiva neoliberal por quase uma década, parecia que o país caminhava para um contexto político diferenciado e que se abria um novo estágio na luta de classes para o movimento sindical.
Porém, ficou visto que esse caminho se traduzia mais complexo e cheio de obstáculos e armadilhas diante das possibilidades para o avanço das lutas operárias.
Ao assumir um governo democrático e popular, o movimento sindical e os setores do movimento social organizados entraram em transe de ilusão de classe, na compreensão de que as elites dominantes ficariam inertes diante dos avanços pretendidos pelos trabalhadores.
Nesta ilusão colocou-se como estratégico um projeto de alianças com grupos antagônicos da classe trabalhadora que, já em 1988, na discussão da Constituinte, impediram avanços fundamentais para o processo social brasileiro.
Nos doze anos do governo democrático e popular, não atentamos para fazer as transformações políticas de fundo que dessem condições aos trabalhadores e à sociedade para enfrentar os inimigos interpostos no caminho da sua emancipação.
Decidimos pelas questões econômicas-sociais, medidas importantes, mas que não aprofundam mudanças estruturais que criem condições de mudar a face colonial patrimonialista secular da nossa sociedade.
Medidas que dessem condições aos trabalhadores de enfrentar o patronato com liberdade de organizar os trabalhadores nas empresas. Criação de um marco regulatório para democratizar os meios de comunicação.
Uma reforma política que pudesse conter o poder econômico, estabelecendo a democracia direta nas decisões prioritárias para a sociedade.
Perdemos mais uma batalha. Mas não perdemos a guerra. Lênin afirmava que nos momentos de retrocesso da luta operária é o instante em que a vanguarda dos trabalhadores organizados têm que manter a luta.
Vamos juntar os cacos e continuar a luta!