Relembrando Neuton Miranda: História de uma castanheira 

História de uma castanheira

(Homenagem à memória de Neuton Miranda)

Por Adalberto Monteiro, no Portal Vermelho

Um infortúnio!
Um raio fez tombar a castanheira, antes da hora.
Quanto aquela árvore adulta já
Alimentara o mundo!
E quanto ainda poderia nos dar
Em sombra, em alimento e alento…
Morreu em plena colheita,
Investido de autoridade, usou-a
Em prol dos brasileiros
A quem a injustiça nega os direitos da brasilidade!
Por sua iniciativa,
Os ribeirinhos– homens das águas e da floresta–
Conquistaram um documento com o brasão da República,
Que atesta, que lhes assegura o uso
Do pedaço de chão, da extensão de água
Que por suor e sangue lhes pertence!

Quando a liberdade caiu prisioneira, era um estudante
Que batalhava para que todos tivessem escolas!
E para ele não havia tarefa mais importante do que libertá-la.
Pela democracia ao risco da vida enfrentou a ditadura.
Conquistada a Anistia, este paraense nascido
No ventre do Pará, em Marabá,
Deu adeus às terras que o acolheram
E voltou às suas raízes.
Tinha a missão de reorganizar com seus camaradas,
O Partido Comunista do Brasil
E com ele sulcar as ricas e férteis terras paraenses,
E nelas lançar as generosas sementes do socialismo.
Com os sem teto da grande Belém, lutou pelo direito à moradia,
Com os sem terra do Araguaia, lutou pela reforma agrária.
Foi deputado, foi candidato a senador,
Mas, o que sempre foi mesmo, foi um lutador.

Um raio fez tombar a castanheira, antes da hora.
Mas, presente em nossa memória,
Ela seguirá alimentando nossos sonhos e impulsionando a história.

São Paulo, 21 de fevereiro de 2010.

ANOTE AÍ:

O presidente do PCdoB do Pará, Neuton Miranda, que faleceu neste sábado (20/2)
O presidente do PCdoB do Pará, Neuton Miranda,  faleceu em 20/2/2010, vítima de um ataque cardíaco. Neuton Miranda estava em serviço, distribuindo títulos de propriedade de terras a populações ribeirinhas no município de Belterra, região de Santarém, no Pará.

Neuton Miranda era membro do Comitê Central do Partido Comunista do e presidente do Comitê Estadual do Pará. Já foi deputado estadual e candidato ao Senado, tendo obtido expressiva . Estava exercendo também importante função no governo federal, como Diretor do da União no Pará.

Neuton era militante do Partido Comunista do Brasil há 38 anos. Foi líder estudantil e diretor da União Nacional dos Estudantes em 1968. Era casado com a professora universitária Leila Mourão e tinha uma filha, Janaína.

Colaborou José Reinaldo Carvalho

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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