Rio Tapajós: Cancelada Licença para a construção de Hidrelétrica

Rio Tapajós: Cancelada Licença para a construção de Hidrelétrica

Para o meio ambiente e para os povos indígenas e extrativistas da Amazônia, o mês de agosto começa com pelo menos uma notícia boa: O IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente anunciou nesta quinta-feira, dia 4 de agosto,  o cancelamento da licença para a construção da usina hidrelétrica de São Luiz do Tapajós, projetada para ser a maior hidrelétrica da Amazônia, em Itaituba, no estado do Pará, que afetaria a  Terra Indígena (TI) Sawré Muybu, do povo Munduruku, o que é proibido pela Constituição Brasileira.

A decisão  acontece depois que o povo indígena Munduruku, com o apoio do  Ministério Público Federal, da FUNAI, d e várias organizações da sociedade civil organizada e mesmo de funcionários da área ambiental federal, realizaram campanha de defesa do Tapajós com repercussão nacional e internacional, alertando  para  os irrecuperáveis danos ambientais previstos para o empreendimento.

Dentre as principais falhas e suas correspondentes propostas de mitigação, incluem-se  os impactos na biodiversidade, nos ecossistemas aquáticos, nos rotas migratórias dos animais, nas populações ribeirinhas, no aquecimento global. A análise do IBAMA coincide com estudos e relatórios recentes, publicados por organizações ambientalistas, como o Greenpeace e o  International Rivers

Ainda que seja uma vitória parcial, porque há outras hidrelétricas previstas para o Tapajós e para os rios da Amazônia, os Munduruku e os ambientalistas celebram:

O povo Munduruku estamos muito felizes com  a notícia do cancelamento desta licença. Agora, vamos continuar lutando contra a construção das outras hidrelétricas que ameaçam nossos rios,” posicionou-se  o chefe Munduruku Arnaldo Kabá.

“Essa é uma grande vitória dos Munduruku, de seus aliados ambientalistas, e da legislação ambiental brasileira. O próximo passo agora será ampliar o diálogo com a sociedade para evitar novas violações de direitos humanos e de quebra da legislação com vistas à construção  das outras hidrelétricas planejadas para o rio Tapajós e para outros rios da Amazônia “, diz Brent Millikan, diretor de programas da International Rivers no Brasil.

A decisão de não construir hidrelétricas nos rios da Amazônia vem sendo esperada há mais de uma década. Nesse período, testemunhamos a trágica e desnecessária construção das hidrelétricas no rio Madeira e no rio Xingu. Nós celebramos, com os Munduruku, essa grande vitória, “anuncia Christian Poirier, da Amazon Watch.

ANOTE AÍ: + INFO

https://xapuri.info/invasoes-garimpeiras-carta-aberta-dos-caciques-e-liderancas-do-alto-e-medio-tapajos/

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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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