Salve, Oxóssi, divindade de floresta!
Oxóssi é uma divindade da floresta, ele vive em função de guardar as matas. Os seus principais símbolos são: um arco, conhecido como Ofã, e um rabo de boi, Eruexim.
Por Maria Letícia Marques
O caçador Oxóssi é um dos poderosos orixás, filho de Oxalá e Iemanjá. Seu nome é de origem Yorubá e significa “guardião popular”.
Sua lenda mais famosa e pela qual ficou conhecido como Rei do Ketu, diz que com apenas uma flecha ele matou um pássaro chamado Eleyé, que foi enviado por uma feiticeira para destruir seu povo.
Ele possui foco e precisão suficientes para carregar apenas uma flecha consigo. Sempre mirando para acertar, é assim que o orixá protege os seus e a floresta.
Este forte guerreiro de uma flecha só tem uma ligação intrínseca com a natureza, ele mantém o equilíbrio do ecossistema e o protege de pessoas mal intencionadas.
Historicamente, após a invasão dos europeus no continente Africano, muitos filhos de Oxóssi foram retirados forçadamente de sua terra para o Brasil. Infelizmente, um grande número deles não sobreviveu à travessia do Atlântico e à crueldade enfrentada na nova terra.
Em contrapartida, os sacerdotes que conseguiram sobreviver continuaram o culto a Oxóssi em território brasileiro. Essa é uma das razões pela qual o culto a Oxóssi foi praticamente esquecido na África, mas por outro lado, no Brasil ainda é muito valorizado.
Um filho ou filha de Oxóssi tem qualidades poderosas que fazem referência aos trejeitos do caçador implacável. Eles são ágeis, focados, precisos, pacientes e comunicativos.
Oxóssi é visto também como um caçador de Axé, ou seja, de boas vibrações. Resiliência e paciência fazem parte da jornada de um seguidor de Oxóssi. Seu caminho é o do caçador, aquele que tem perseverança em seus objetivos e que não se deixa abater facilmente.
Leia agora uma linda poesia de música, escrita por Roque Ferreira.
“Oxossi é o Rei das matas
Oxóssi, filho de Iemanjá
Divindade do clã de Ogum
É Ibualama, é Inlé
Que Oxum levou pro rio
E nasceu Logunedé!
Sua natureza é da Lua
Na lua Oxóssi é Odé Odé-Odé, Odé-Odé
Rei de Keto Caboclo da mata Odé-Odé
Quinta-feira é seu ossé
Axoxó, feijão preto, camarão, amendoim
Azul e verde, suas cores
Calça branca rendada
Saia curta estampada
Ojá e couraça prateada
Na mão ofá, iluquerê
Okê okê, okê arô, okê
A jurema é a árvore sagrada
Okê arô, Oxóssi, okê okê
Na Bahia é São Jorge
No Rio, São Sebastião
Oxóssi é quem manda
Na banda do meu coração”
Okê Arô Oxóssi! Salve Oxóssi, o Rei das Matas!
Maria Letícia Marques – Colunista voluntária da Revista Xapuri. Este artigo não representa a opinião da Revista e é de responsabilidade da autora. Foto: São Sebastiao e Orixá Oxóssi – Ilustração: Orádia Porciúncula. Guardião Oxóssi.
Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.
Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.
Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.
Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.
Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.
Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.
Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.
Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.
Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.
Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.
Zezé Weiss
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