O QUE PENSAVAM OS SANTOS SOBRE O ABORTO?

Santo Agostinho e São Tomás de Aquino: o que pensavam os santos sobre o aborto?

A   contra o aborto empreendida pela Igreja Católica é conhecida de muitos. Em 2018, o , atual referência máxima do poder da Igreja Católica, afirmou que “interromper uma gravidez é como contratar um matador de aluguel para resolver um problema”, criticando a perda de valor da vida humana.

Por Joseane Pereira – aventurasnahistoria

Mas, comparada à própria da , essa luta é relativamente nova: durante muitos dos seus 2 mil anos de existência, a Igreja não via o aborto como um problema comparável ao assassinato. Apenas em 1869, quando o Papa Pio IX decretou que os embriões tinham , abortar se tornou um problema desde as primeiras fases da concepção.

Durante os primeiros anos do Cristianismo, existiam posições contraditórias entre os vários papas e as doutrinas dos padres da Igreja. E tanto no Antigo quanto no Novo as alusões ao aborto são poucas e confusas. Um dos trechos mais citados entre os que condenam o aborto se encontra no primeiro capítulo de Jeremías, no Antigo Testamento.

Lá é dito: “Antes de se formar no ventre materno, eu te conhecia; antes de sair do seio, eu havia te consagrado e constituído profeta para as nações”. Tomada individualmente, a frase parece dizer que a alma do embrião já era conhecida por Deus.

Entretanto, para o filósofo James Rachels, autor de Introdução à Moral, a leitura do fragmento não permite a conclusão de um julgamento moral sobre o aborto, sendo apenas uma figura “poética”.

As escrituras falam sobre o aborto de forma explícita apenas no capítulo 21 do do Êxodo, onde são descritas as regras a serem seguidas pelos israelitas. Lá é feita uma distinção entre a pena por homicídio, que se castigava com a morte, e a pena pelo aborto, que era merecedor de uma simples multa.

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Reprodução
Santo Agostinho (354 – 430 d.C.), um dos principais pensadores dos primeiros séculos do Cristianismo, considerava que o embrião não tinha alma até o 45º dia após a concepção.
 
Para ele, a alma só se constituía após o embrião estar completamente formado e se constituir como um feto. Por isso, distingue entre o aborto realizado em um feto animado, o que constitui homicídio, e o aborto realizado sobre algo sem alma humana, que deveria sofrer uma penalidade menor.
Quase um milênio depois, São Tomás de Aquino (1225 – 1274), influente frade italiano, discutiu longamente em sua Summa Theologica que “a alma não é infundida antes da formação do “.
 
Segundo ele, a alma humana se constitui junto da forma humana, de modo que durante as primeiras semanas de gravidez o embrião não tem alma. Segundo ele, os primeiros movimentos do feto seriam o início da “animação”, primeiros sinais visíveis de vida. Segundo o teólogo, o aborto de um embrião em seus primeiros estágios de era comparável à contracepção, por isso igualmente condenável, mas não no mesmo nível que um homicídio.
 
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Santo Agostinho e São Tomás de Aquino / Reprodução

A posição tomada pelos dois pensadores foi adotada pela Igreja desde 1312, a partir do Concílio de Viena convocado pelo Papa Clemente V. Portanto, a partir desta data, realizar aborto nas primeiras semanas de concepção não era considerado assassinato.

Apenas no século 19 a situação mudou, quando cientistas, analisando um embrião com microscópios rudimentares, pensaram ter visto seres humanos minúsculos que chamaram de “humúnculo”.

Seguindo o pensamento de Tomás de Aquino, os religiosos passaram a considerar a existência de criaturas perfeitamente formadas, e por isso dotadas de alma. 

Mesmo após avanços tecnológicos terem demonstrado que os embriões só adquirem forma humana semanas depois da gravidez, a Igreja manteve a posição que considera homicídio o aborto em qualquer fase da gestação. E essa decisão repercute até hoje.

Fonte: aventurasnahistoria

 

 

 

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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