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Sem Amazônia não existirá Brasil

Sem a Amazônia não existirá o Brasil tal e qual o conhecemos hoje. Ou as vacas de Bolsonaro na Amazônia, ou as uvas dos gaúchos no Sul

Por Leonardo Boff
 
Roberto Malvezzi (Gogó) é conhecido de nosso blog. Um especialista em água e nas tecnologias sociais e populares desenvolvidas no onde é seu campo de ação. Aqui alerta sobre dramáticas consequência das decisões tresloucadas do atual presidente de permitir a liberação de terras indígenas para a mineração, pecuária e cultivo de . Se isso vier ocorrer, poderá implicar num desastre planetário, como se mostra neste pequeno artigo. A savanização da Amazônia e os consequentes e pesados prejuízos à produção de uva e de vinho na Serra gaúcha, atingida por prolongadas secas (já estão ocorrendo) poderão causar situações irreversíveis. Precisamos deter esta visão negacionista e ensandecida dos atuais ocupantes do Planalto, por amor a nós mesmo, ao nosso país e ao futuro da no planeta. Isso não é alarmismo. Como diz ativista ecológica Greta, a desconsideração dos dados científicos poderá colocar a humanidade, nos próximos anos, numa situação altamente perigosa e sem volta. Lboff

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O governo Bolsonaro vai enviar projeto para liberar a pecuária, extrativismo mineral e cultivo de soja em territórios indígenas. O pretexto é sempre o desenvolvimento, geração de e emprego, essa trilogia mortal que é a permanente bandeira do mundo capitalista, inclusive o mais predador.
Estudos comparativos já demonstram com absoluta solidez que a floresta amazônica em pé gera mais que as monoculturas empobrecedoras da população e da biodiversidade. O açaí gera mais riqueza que a soja por hectare, assim como no caso da pecuária.
Não, não são os indígenas que detêm a maior quantidade de terras nesse país. Os maiores magnatas em termos de são os bois e as vacas. São 210 milhões de cabeças de gado ocupando cerca de 210 milhões de hectares de terra. A patada ecológica dos bovinos faz com que cada boi ou vaca tenha quase um hectare de terra per capta. Além do mais, esses fantásticos animais precisam derrubar tudo ao seu redor para reinarem sozinhos. O problema nunca é aquele animal, aquele grão, aquele plantio, o problema é sempre a monocultura.
Acontece que é da Amazônia que vêm cinco dádivas da natureza para toda a humanidade e todo o planeta, particularmente na América do Sul: o ciclo das águas, o ciclo do carbono, a regulação do , a biodiversidade e a sociodiversidade. Sem a floresta em pé, não choverá de São Paulo até , transformando toda essa área em deserto. É a lei da natureza.
Então, os vinicultores gaúchos não podem reclamar de Deus ou da natureza uma seca que já dizimou 30% de sua safra de uvas nesse ano. Eles têm que reclamar é com Bolsonaro, que incentiva o desmatamento na Amazônia, local de origem e adensamento das nuvens que vão levar chuva para grande parte de nosso território, inclusive o território gaúcho. A matemática é simples e direta: quanto menos floresta amazônica, mais secas no Sul e no Sudeste.
Enfim, pela milésima vez, podemos reafirmar: sem a Amazônia não existirá o Brasil tal e qual o conhecemos hoje. Ou as vacas de Bolsonaro na Amazônia, ou as uvas dos vinicultores gaúchos no Rio Grande do Sul.

Fonte: Leonardo Boff


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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