Serginho Meriti: histórias de um sucesso já eterno

Serginho Meriti, sucesso já eterno

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Uma de suas músicas foi trilha sonora das Olimpíadas, outras sonorizam novelas e eventos e tantas mais, estas inéditas, recheiam o disco “Sebastiões”, prestes a sair, uma homenagem ao Rio de Janeiro e sua gente. Ele é Sérgio Roberto Serafim, mais conhecido por Serginho Meriti, que anda passando uns no Planalto Central.

Seu pai, Felisbino Antônio Serafim, era gaúcho de Alegrete e se mudou pro Rio ainda na adolescência. Lá, conheceu Nair Antônio de Oliveira, mineira de Tombos de Carangola. Juntos, foram morar em São João do Meriti e tiveram oito filhos. Serginho, o mais novo da prole, nasceu em 1958.

Desde pequeno, ele se assanhava com as peripécias do pai, que, embora morando longe, usava seus dotes no violão em meio à boemia da Lapa, na zona central. E o divertimentojj2 maior do menino era zanzar ao redor de blocos carnavalescos como Quem Quiser Pode Vir, Unidos da Galeria e Unidos da , que estavam nascendo.

Os primeiros estudos foram numa escola multiclasse da zona rural, no Meriti, improvisada num barracão. Ele conta que ali mesmo, nos intervalos, surgiam os primeiros relampejos de compositores, nas rodas da meninada pra fazer paródias dos sucessos de cada período do ano, em especial nas proximidades de carnavais.

Quando tinha seus 9 ou 10 anos, seu pai o levou em passeio pra que conhecesse a Central do Brasil e outros logradouros do cenário carioca. Foi a conta, segundo ele, pois bastou aprender o caminho pra começar a pegar o rumo do centro, onde “havia mais gente, mais movimento, mais ”.

Mas foi desta forma, também, que ele to
mou contato com os burburinhos culturais de então, com o detalhe de ver e ouvir muita gente já famosa que anos depois viria a gravar músicas suas. No mundo, era a explosão do rock, no Brasil, o auge da Jovem Guarda e da MPB, além do samba raiz, tudo interessava a ele.

Contudo, era no samba que o jovem Meriti se sentia em casa, de modo que passou a andar com algumas composições no bolso, à espera de uma chance de que alguém se interessasse. Era um misto de ansiedade e paciência, até conhecer o produtor Edson Menezes.

Este vinha organizando uns discos denominados “Pau de Sebo – Olé do Partido Alto”, que ajuntavam todo mundo que estivesse por perto em um mesmo volume, numa grande salada. Menezes ouviu umas peças do candidato, gostou, e encaixou a “Pedra Que Rola Pro Mar” no álbum que estava produzindo. Era a estreia do compositor e do cantor, pois o produtor usou a fita que ele havia entregue.

Também naquele período, o cantor Bebeto era o estouro das paradas, tudo que gravava era sucesso no Rio e, dali se espraiava Brasil afora. Ocorreu que, das doze faixas de um novo disco seu, onze eram de Meriti. E Roberto Meneschal, também nas paradas, no mesmo embalo produziu com ele o primeiro disco da série Newdisc da Pholigram.

Estava, desta forma, definitivamente escancarada a porteira.

Nomes então já consagrados do cenário musical brasileiro passaram a incluir músicas de Meriti em seus repertórios. Alcione, Beth Carvalho, Jorge Benjor, Martinho da Vila, Evandro Mesquita, Rita e Diogo Nogueira são alguns desses nomes. E todos expressam na mídia grande satisfação com a escolha que fizeram.

Um grande marco, contudo, foi em 2002, quando Zeca Pagodinho gozou de retumbante sucesso ao gravar “Deixa a Vida Me Levar”, que parece ter sido feita de encomenda pra ele. Desde então, Pagodinho gravou mais de três djj1ezenas de músicas de Meriti, embora também sejam parceiros em algumas.

Sob encomenda, também, parece o caso de “Negra Ângela”, que Roberto Carlos cantou no primeiro show de fim de ano após a morte de sua companheira Maria Rita. Uma composição sem o embalo tradicional do moleque Serginho, mais melódica, emocional. Mas já estava pronta quando Roberto a encomendou.

Nessas horas parece que baixa um carma de Bob Marley, uma vontade de pregar a justiça e a paz, como ocorreu ao compor “Apartheid, não! ”, que Beth Carvalho gravou ainda na época da segregação racial na do Sul.

Marley, aliás, é o tema da banda Comunidade Reggae, que Meriti mantém com seu irmão Guilherme, como forma de passar o tempo e se inspirarem quando se encontram. “No caso, cantamos em inglês, mas meditamos em português, e a é que Marley me mudou muito”, explica o nosso personagem.

É no samba, contudo, que está sua inspiração maior. Ele é membro da ala de compositores da Escola de Samba da Mangueira. Ali, ele já ficou sete vezes em segundo lugar na escolha do melhor samba, aquele que puxa a agremiação na avenida. Mas se conforma, dizendo que o importante é estar lá, de verde e .

Serginho Meriti foi casado por 12 anos com a esteticista Valéria da Coutinho, com quem morou em e não teve filhos. Depois, em outras relações mais prolongadas teve três filhos, de mães diferentes, com os quais mantém relações muito boas, segundo relata. Bruno, o mais velho, hoje com 35 anos, ainda mantém contato permanente.

Isto, conforme explica, apesar de que a vida do artista da música, hoje em dia, é de “correr atrás”. Uma vez que a pirataria deu fim à indústria fonográfica “o compositor tem que sair pra cantar”, afirma. E por isso, atualmente segue os ditames do empresário Zico Cerqueira, que domina o trecho entre Belo Horizonte e Cuiabá, ou seja, todo o Centro-Oeste.

Ele não sabe ao certo quantas músicas já compôs e estão correndo o mundo. Só sabe que não quer parar. No momento, além do “Sebastiões”, ele põe a voz no disco “Cantante”, que servirá de referência por algum tempo. De resto, sempre sorridente e feliz, vai deixando a vida lhe levar.

Fotos: Acervo Serginho Meriti

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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