“O sertão está em toda parte… O sertão é do tamanho do mundo”
“ O senhor vê aonde é o SERTÃO? (…).
O senhor tolere: isto é o SERTÃO.
Uns querem que não seja: que situado
Sertão é por os campos gerais a fora a dentro,
eles dizem, fim de rumo,
terras altas, demais do URUCUIA. (…).
LUGAR SERTÃO SE DIVULGA:
é onde os pastos carecem de fechos,
onde um pode torar dez, quinze léguas,
sem topar com casa de morador;
e onde criminoso vive seu cristo-jesus,
arredado do arrocho de autoridade.
(…) Sertão é o sozinho (…).
(…) Jagunço é o Sertão (…).
O Sertão tem medo de tudo (…).
O senhor sabe: Sertão é onde manda
quem é forte (…)
Deus mesmo, quando vier, que venha armado!
… o Sertão se sabe só por alto (…).
(…) Sertão velho de idades. (…).
Sertão que se alteia e se abaixa (…).
(…). Sertão é onde o pensamento da gente
se forma mais forte do que o poder do lugar (…).
… O senhor não é do Sertão. Não é da terra…
… no centro do Sertão, o que é doideira às vezes
pode ser mais certa de mais juízo (…).
Sertão é isto: o senhor empurra para trás,
mas de repente ele volta a rodear
o senhor dos lados.
Sertão é quando menos se espera (…).
O Sertão aceita todos
os nomes:
AQUI É O GERAIS,
lá é o Chapadão,
lá acolá é a Caatinga (…).
… O SERTÃO É BOM.
Tudo aqui é perdido.
Tudo aqui é achado (…).
No Sertão até enterro simples é festa.
(…). Sertão foi feito é para ser sempre assim:
alegrias (….).
Ah, tempo de jagunço tinha mesmo que acabar,
cidade acaba com o Sertão.
Acaba?
… Só se sai do Sertão é tomando conta dele a dentro…
O Sertão não tem janelas nem portas. (…).
O Sertão está em toda parte, (…).
O Sertão é do tamanho do mundo, (…)
SERTÃO: é dentro da gente.”
Guimarães Rosa, adaptado por Xico Mendes