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Sinais de chegadas

Sinais de chegadas

Sinais de chegadas

Uma perna de cada vez para atravessar o mundo quando se é qualquer vivente e não se tem asas. Arara, porém, que herdou sem querer o espírito de Gabriel, teve de passar grande parte de sua vida pousada no mourão da porteira que dava entrada ao garimpo da gruta da serra das Araras…

Por Odenir Pinto de Oliveira 

Bem mais tarde, o mesmo espírito incorporou na harpia que, em todos os entardeceres, com suas longas asas, riscava o penhasco e as encostas da serra, até o dia em que desapareceu na imensidão, no meio do sol que se punha, e o espírito de Gabriel teve de girar na direção da serra do Cachimbo, que se debruça sobre a floresta amazônica, e foi obrigado a se incorporar num jacurutu para ficar de um só lado. Então, pôde presenciar o começo da maior transformação da natureza, no último milênio, em decorrência da ação humana: Em nenhum lugar da Terra, num prazo de 20 anos, tanta floresta foi destruída, com extrema brutalidade e sentimento de ódio – pensou o Jacurutu. 

Odenir Pinto FerreiraIndigenista e Escritor. Prefácio do capítulo I do livro Sinais de Chegadas – Sonhos e conflitos que rasgaram os territórios indígenas no coração da Amazônia. Editora Cálida, 2ª edição, 2021. 

 

Sinais de Chegadas é um romance histórico baseado em fatos verídicos. A narrativa se dá no Brasil, quando o governo federal promove o povoamento e a ligação do país com a região amazônica, por meio de rodovias.

Porém, era de conhecimento que por onde passaria uma dessas rodovias havia áreas habitadas por “índios gigantes”. A fim de estabelecer contato com esses povos e assim possibilitar não só a construção de rodovias, como também ocupar essas regiões, foi criado oficialmente um grupo de homens de origens, passados e objetivos bem diversos e enviados para a região. 

Em meio a esse pano de fundo, o autor adentra com propriedade nas profundezas da alma das personagens: lembranças, sonhos e conflitos que transcorrem regidos pelo tempo das matas, dos mitos e dos indígenas.

Odenir Pinto de Oliveira é indigenista e atuou em diferentes regiões do país, especialmente nas atividades de demarcação e proteção de territórios indígenas e, mais recentemente, na defesa do patrimônio material e imaterial desses povos.

Adquira pelo site: https://tantatinta.com.br/livro/sinais-de-chegadas/ ou pelo telefone (65) 999965714.

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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

 
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